Título: Câmbio impulsiona lucro de operadoras
Autor: Moreira , Talita
Fonte: Valor Econômico, 12/11/2007, Empresas, p. B3

A queda consistente nas taxas de câmbio e juros foi decisiva para melhorar os resultados das operadoras de telecomunicações do país no terceiro trimestre. As teles com ações listadas em bolsa lucraram, juntas, nada menos que R$ 1,4 bilhão. O número é 161,4% maior do que o obtido no mesmo período do ano passado.

Foi o melhor resultado líquido obtido pelas operadoras num terceiro trimestre desde a privatização do setor, que ocorreu em 1998, segundo mostra levantamento feito pelo Valor Data.

Se dependessem apenas do aumento nas vendas, o desempenho do setor não teria sido tão expressivo. O conjunto das nove empresas de telefonia fixa e móvel analisadas apresentou receita líquida de R$ 20,1 bilhões entre julho e setembro, o que indica alta de 6,8%. O resultado operacional melhorou, mas foi a redução das despesas financeiras que contribuiu decisivamente para os ganhos maiores na última linha dos demonstrativos.

Por trás da soma das receitas das teles, encontram-se situações bastante diferentes, como o expressivo crescimento da GVT e a surpreendente queda de 1% nas vendas da Telefônica.

Já faz alguns anos que as operadoras de serviços tradicionais de telefonia fixa encontram-se sob pressão diante do surgimento de novas tecnologias e da migração do tráfego de ligações para o celular.

Porém, os números do terceiro trimestre evidenciam que o cenário está passando a ser de retração no faturamento, e não mais de estagnação. À primeira vista, Oi e Brasil Telecom (BrT) mostraram valores melhores do que a Telefônica. Entretanto, o crescimento nessas empresas veio de seus negócios de telefonia móvel e internet.

Levando-se em conta apenas os serviços fixos, as vendas da Oi caíram 2% e as da BrT, 3,2%. O que chama a atenção no caso da Telefônica é que a retração no serviço local foi tão forte - de 13,7% - que nem o bom desempenho no segmento de banda larga nem as vendas de planos alternativos foram suficientes para contrabalançá-la. O grupo espanhol é um dos controladores da Vivo, mas os resultados da empresa de celular não ficam debaixo da operadora fixa.

A queda na receita da Telefônica foi destaque nos comentários feitos por analistas que acompanham a empresa. "Classificamos os resultados divulgados pela Telesp [concessionária controlada pela Telefônica] como levemente negativos, pois a empresa apresentou receita líquida cerca de 3,4% abaixo de nossa estimativa (...), o que demonstra que o serviço de dados não foi capaz de compensar a queda na receita de telefonia fixa tradicional", afirma relatório da corretora Brascan, assinado pelos analistas Felipe Cunha e Beatriz Battelli.

Na telefonia móvel, a despeito do crescimento inesperado nas vendas de novas linhas durante o terceiro trimestre, os números melhoraram. Com lucro líquido de R$ 4,4 milhões entre julho e setembro, a Vivo retornou ao azul após dois trimestres no prejuízo.

A operadora atribuiu o resultado aos efeitos positivos de promoções e novos planos de serviços. A implantação da rede na tecnologia GSM, que é mais barata porque tem maior escala mundial, permitiu que a Vivo fosse mais agressiva na disputa por clientes sem que isso implicasse alta equivalente nos custos.

Apesar disso, o presidente da Vivo, Roberto Lima, observou que a concorrência mais forte no Natal deve colocar sob pressão as despesas no último trimestre de 2007.

As operações de celular da Oi e da BrT apresentaram melhoras operacionais, o que contribuiu para o lucro consolidado desses grupos. Na TIM, a detecção de uma falha na cobrança de aparelhos vendidos nos últimos quatro anos elevou o prejuízo. Mas o impacto não foi recorrente e não impedirá a empresa de atingir suas metas para o ano, disse o presidente da operadora, Mario Cesar Pereira de Araujo.

Como não divulga balanços trimestrais, a Claro ficou fora do levantamento. Mas a controladora América Móvil informou que a receita líquida da unidade brasileira cresceu quase 19%, para R$ 2,5 bilhões, e o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortizações subiu 123,4%, para R$ 635 milhões.

"A Claro registrou seu número mais elevado de adições líquidas num terceiro trimestre ", destacou a mexicana América Móvil em seu relatório. Nos nove primeiros meses do ano, a operadora conquistou 4,1 milhões de assinantes no país, 16,7% mais do que no mesmo período do ano passado.

Os 6 milhões de novas linhas de celular registrados no Brasil entre julho e setembro superaram em 48,2% as adições líquidas de clientes (novos usuários menos cancelamentos) verificadas pela Anatel no terceiro trimestre de 2006. A expansão pegou de surpresa operadoras e fabricantes. Apesar disso, os resultados das teles mostram que elas conseguiram expandir as vendas sem deteriorar seus balanços.

O dólar mais barato, que ajudou a reduzir o valor dos serviços das dívidas em moeda estrangeira, também ajudou nessa tarefa. Boa parte dos aparelhos de celular tem componentes sensíveis às variações cambiais. Especificamente no que diz respeito às despesas financeiras líquidas, dólar e juros menores contribuíram para que elas caíssem 55,8% no trimestre. O efeito foi potencializado pela redução no endividamento das teles.

Pesadelo das companhias de setores exportadores, a redução de 14% na cotação da moeda americana nos nove primeiros meses do ano foi benéfica para as teles até mesmo no quesito investimentos. Numa teleconferência com analistas, o vice-presidente de finanças da BrT, Paulo Narcélio, disse que a operadora completará projetos deste ano gastando 20% menos do que havia programado. "Continuamos renegociando nossos contratos com fornecedores. Mas a redução na taxa de câmbio ajudou", afirmou.