Título: Fabricantes de equipamentos dizem ter condições de atender expansão
Autor: Capela , Maurício ; Grabois , Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 12/11/2007, Empresas, p. B6

A gigantesca descoberta de petróleo e gás da estatal Petrobras na bacia de Santos vai movimentar a indústria de base brasileira. Com a capacidade instalada atual toda tomada para grandes equipamentos, como plataformas de extração e cabeça de poço, a indústria já faz suas contas para atender a demanda futura da estatal.

Ralph Lima Terra, vice-presidente da Associação Brasileira de Infra-Estrutura e Indústrias de Base (Abdib), calcula que o setor precisará investir US$ 100 milhões para dobrar sua capacidade nos próximos anos. Essa conta contabiliza somente o recurso necessário para o metro quadrado e a compra de máquinas. "É uma conta preliminar, que leva em consideração a confirmação dessa reserva", diz Lima Terra. Segundo ele, partindo do pressuposto do atual cronograma da estatal, esse investimento começará a sair do papel no fim de 2009, pois a empresa levará cerca de dois anos para dimensionar o tamanho real das reservas.

Outro ponto que preocupa as indústrias do setor é a falta de mão-de-obra especializada. Hoje, segundo Lima Terra, já há escassez de profissionais de engenharia, soldadores, técnicos de inspeção, operários especializados, como torneiros. "Vamos precisar investir muito em capacitação de mão-de-obra".

No entanto, Welter Benicio, presidente da VetcoGray Óleo e Gás no Brasil, conta que o grupo está preparado para atender a uma eventual demanda da Petrobras. Com fábricas em Jandira (SP) e Macaé (RJ), a empresa faz equipamentos de poço, que são utilizados na exploração e produção do petróleo. "Estamos avaliando com muita cautela a descoberta. É preciso um bom recurso também para a realização da extração", diz Benicio. A Vetco é uma companhia da multinacional americana General Electric (GE). Está alocada na divisão de infra-estrutura da GE, que obteve vendas globais de US$ 47,4 bilhões no ano passado.

Benicio diz que a Petrobras costuma dar preferência às companhias instaladas no país na hora de realizar suas compras, apesar de não descartar que a estatal importe algo. "O Brasil é líder mundial em equipamentos para prospecção de petróleo em águas profundas", completa o executivo da Abdib.

A descoberta do campo de Tupi, onde a Petrobras estimou volumes recuperáveis de óleo e gás entre 5 bilhões e 8 bilhões de barris, não deve causar gargalos na oferta de equipamentos e serviços pela indústria nacional, avalia o presidente da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip), Elói Fernandez, que representa os fornecedores de bens e serviços do setor. "Com encomendas e demanda, a indústria vai investir. Essa indústria reage rápido", disse Fernandez. O problema, afirma, é a falta de mão-de-obra qualificada. Com a perspectiva de aumento dos projetos, a situação piora porque qualificar pessoal não ocorre no curto prazo.

Mesmo com a perspectiva da necessidade de equipamentos e serviços com tecnologias mais sofisticadas para o campo de Tupi, Fernandez acredita que a indústria local vai atender a demanda pois se encontra em um momento de forte demanda e de continuidade dos investimentos da Petrobras e de outras operadoras. "A indústria vai se desenvolver e atender cada vez mais."

Hoje, reforça o presidente da Onip, os fornecedores da cadeia de petróleo já estão em trajetória de avanço tecnológico. Ele sugere que o fundo setorial do petróleo, cujos recursos têm origem em royalties, seja dividido com as empresas. Os cerca de R$ 600 milhões recolhidos ao ano ao fundo só podem ser utilizados por universidades e centros de pesquisa. Fernandez diz que a participação atual da indústria nacional de bens e serviços nos investimentos da Petrobras, de 50%, tende à expansão nos próximos anos, diante do atual aquecimento do mercado.

Fontes da indústria petrolífera no Brasil avaliam que, no atual cenário de altos preços do petróleo, há escassez de equipamentos, como sondas de perfuração, para desenvolver novos campos, como o de Tupi. A principal preocupação das empresas que investem em exploração e produção de petróleo no país é não ter novas áreas para investir. Após a 7ª Rodada, em 2005, praticamente não se licitam novas áreas. A 8ª Rodada, em 2006, foi interrompida por decisões judiciais. Agora, na 9ª Rodada, prevista para o fim do mês, o governo retirou 41 blocos que têm relação com a nova província petrolífera anunciada pela Petrobras. Um consultor disse que as empresas que investem em exploração e produção precisam ter um portfólio adequado de projetos que lhes permita fazer projeções. "A empresa perde portfólio se fica restrita a um único bloco", disse um analista.

O anúncio das gigantescas reservas acontece justamente em um momento que se discute a oferta de gás natural no Brasil e quando o preço do petróleo no mercado mundial vive dias de recorde. Na sexta-feira, a Petrobras mostrou lucro 22% menor, para R$ 5,5 bilhões, no terceiro trimestre. A empresa explicou que a queda foi conseqüência da valorização do real frente ao dólar. A receita líquida foi de R$ 44,4 bilhões, 3% acima do mesmo período de 2006.