Título: General Motors volta a defender IPI único
Autor: Olmos , Marli
Fonte: Valor Econômico, 12/11/2007, Empresas, p. B6

Jaime Ardila, novo presidente da GM do Brasil e Mercosul: crédito eleva demanda pelos automóveis mais caros Apoiada no crescimento das vendas de automóveis mais caros, um efeito recente do crédito fácil, a General Motors volta a defender a unificação do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Polêmica antiga, a idéia de acabar com o benefício fiscal para carros populares não é, no entanto, consenso entre os fabricantes de veículos.

A demanda de carros com motor 1.0, também chamados de populares, está, de fato, caindo. A participação dessa categoria no total de vendas de zero-quilômetro, que há cinco anos era de 66,7%, está hoje em 54,7%.

Parte do desinteresse de uma parcela dos brasileiros pelo veículo com motor 1.0 vem da decisão estratégica de algumas empresas da indústria automobilística de começar a produzir carros com motor 1.4.

Isso começou a trazer um ligeiro aumento de potência no veículo a um custo baixo para o consumidor. Esse custo mais baixo se torna ainda mais leve quando diluído nos longos financiamentos oferecidos no mercado hoje.

Na linha do modelo Corsa, da General Motors, a versão mais simples custa R$ 29.515. Para quitar esse carro em 48 meses, com uma entrada de 20%, o consumidor vai pagar uma prestação de R$ 667,28. Com apenas R$ 40,09 a mais por mês ele pode levar a versão mais simples do mesmo carro com motor 1.4. No caso a prestação será de R$ 711,36.

Uma das primeiras informações que o colombiano Jaime Ardila, novo presidente da GM no Brasil e Mercosul recebeu do antecessor Ray Young ao assumir o cargo no início do mês, foi o avanço das vendas dos veículos não-populares da marca. Segundo essa pesquisa, no acumulado do ano, a venda dos carros com motor 1.0 da GM cresceu 5%. No mesmo período, a dos não-populares avançou 53%. A GM é uma das empresas que mais aposta na linha de veículos não populares, a que também, segundo os fabricantes, lhes traz maior margem de lucro.

Hoje a alíquota do IPI é de 7% para os automóveis com motor 1.0. O tributo varia de 11% a 13% para veículos com motores 1.0 a 2.0 e de 18% a 25% para a faixa acima. Existe aí ainda um outro motivo para o crescimento das vendas dos não-populares. Enquanto o veículo com motor 1.0 recolhe a mesma alíquota de imposto independentemente do tipo de combustível, nos demais modelos o imposto é mais baixo no motor bicombustível, que recebe a mesma vantagem fiscal do carro a álcool. Isso baixa o custo de praticamente toda a gama de veículos com motor acima de 1.0 disponível hoje no mercado.

Ardila diz que se em outros países da América do Sul os carros com motores menos potentes podem ter demanda por significar economia de combustível, no Brasil a diferença praticamente se anula em razão do uso generalizado do etanol. "Os motores movidos a álcool resultam em veículos mais econômicos, mesmo numa potência mais alta", destaca.

A direção da GM defende a criação de um IPI único, de 12% para todos os automóveis de passeio. Mas a proposta não é consenso entre as demais montadoras. A Fiat, que, ao lado da Volkswagen, sempre se mostrou contrária à idéia de acabar com o benefício fiscal para o carro popular, informa que a participação dos modelos 1.0 nas suas vendas tem se mantido estável em 65%, acima da média do mercado.

A Ford, que no passado se mantinha distante dessa discussão, está pronta para lançar no primeiro trimestre de 2008 mais um carro pequeno, o novo Ka, que também terá motor 1.0. Por isso, não deve por enquanto aderir a mobilizações pela unificação do IPI. Nos bastidores, o tema não encontra também o respaldo da entidade que representa o setor, a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).

As montadoras que se instalaram no país na década de 90 nunca demonstraram grande interesse pelo motor 1.0, pouco utilizado em seus países de origem. A Renault foi a única a investir nesse tipo de motor. A Peugeot chegou oferecer o modelos 1.0, mas tirou o produto do mercado. Citroën, Toyota e Honda sequer cogitaram entrar nesse mercado.

Rescaldo da idéia do relançamento do Fusca pelo governo de Itamar Franco, o carro com motor 1.0, o famoso popular, estaria, de qualquer forma, fadado a morrer caso viesse a perder o incentivo fiscal que o protege há quase duas décadas.