Título: Empresas captam em meio à crise
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 21/09/2007, Finanças, p. C1

O mercado de eurobônus permanece fechado para países emergentes, como conseqüência da crise de liquidez nos Estados Unidos e Europa. Os empréstimos externos ao Brasil, no entanto, continuam a todo o vapor. Nesta semana, foram anunciadas operações de US$ 1 bilhão, com as agências multilaterais, bilaterais e de fomento ganhando destaque. "Nos tempos de maior insegurança, as agências governamentais, que atuam no longo prazo, sempre ficam ao lado dos clientes", diz Bertram Dreyer, representante do DEG para o Mercosul. O DEG, membro do KfW, do governo alemão, acaba de emprestar US$ 20 milhões para o Banco Schahin por um prazo difícil de encontrar nos dias de hoje: sete anos com dois de carência.

O Unibanco acaba de captar US$ 190 milhões, sob a liderança do Standard Chartered, segundo informou ao Valor. A MMX obteve uma linha "stand-by" de US$ 400 milhões. A Oi - antiga Telemar - conseguiu US$ 360 milhões, sob a liderança do Citigroup e Sumitomo Mitsui, com o JBIC, agência de fomento do governo japonês, como garantidor.

O DEG tem na sua carteira com risco-Brasil US$ 160 milhões emprestados para 15 clientes. O foco são as empresas de tamanho médio, com faturamento de R$ 60 milhões a R$ 600 milhões, e os bancos que emprestam para essas empresas. O DEG fez, no final do ano passado, dois empréstimos de dívida subordinada (que entra como capital no balanço do banco) para instituições financeiras de porte médio no Brasil, cujo nome Dreyer preferiu não revelar. O banco alemão avalia agora comprar participação acionária em bancos no país.

As negociações com o Schahin começaram há um ano, informa Carlos Eduardo Schahin, o Cadu, diretor-executivo do banco brasileiro. "É parte de nossa estratégia de diversificação de fontes de captação", diz Cadu. Os recursos obtidos serão usados para ampliar a carteira de empréstimos às empresas de médio porte, que hoje representa 20% do total de R$ 800 milhões no balanço. O resto é crédito ao varejo, inclusive crédito consignado do INSS e aos funcionários públicos. O Schahin gerou também R$ 500 milhões em crédito consignado que foram cedidos ao HSBC. O banco recentemente passou a atuar com o crédito com desconto em folha às Forças Armadas.

"O custo de nosso empréstimo externo foi compatível com a captação doméstica, mas por um prazo médio que não obteríamos no Brasil", diz Carlos Catraio, presidente do Banco Português de Negócios (BPN) do Brasil. O banco acaba de receber da Corporação Interamericana de Investimentos (CII), braço financeiro do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), um total de US$ 30 milhões por 30 meses, com 12 de carência e amortização trimestral. "O alongamento de prazos amplia nossa competitividade nos empréstimos às companhias brasileiras", diz.

De imediato, o BPN vai captar US$ 10 milhões diretamente do CII, transformar os recursos em reais por meio de operações de "swap" e emprestar às empresas brasileiras de pequeno e médio porte. Os outros US$ 20 milhões virão de bancos, mas sob o guarda-chuva do BID, que entra como credor oficial de todos os US$ 30 milhões. Como o BID é credor preferencial - o primeiro a receber em caso de moratória - o risco-Brasil do empréstimo é reduzido. Os empréstimos aos organismos multilaterais e bilaterais não pagam Imposto de Renda sobre os juros remetidos. Catraio lembrou que, em momentos mais difíceis do mercado, "quando os preços saem da curva e não há apetite para prazos, as agências multilaterais mantêm oferta de crédito estável."