Título: Publicis compra para liderar propaganda digital
Autor: Sobral, Eliane
Fonte: Valor Econômico, 11/10/2007, Empresas, p. B5

Quarto maior grupo de publicidade e serviços de marketing do mundo, com receita de 2,2 bilhões de euros no primeiro semestre deste ano, o Publicis Groupe quer alcançar o primeiro lugar no ranking da propaganda digital. "Hoje a área responde por algo entre 13% e 15% da nossa receita. Nosso objetivo é que represente 25%, até 2010", disse o presidente do Publicis, Maurice Lévy, em entrevista exclusiva ao Valor.

Isto explica a agressiva política de aquisições desencadeada pelo Publicis no fim de 2006 e que continuou forte durante todo o primeiro semestre deste ano. Lévy não informa quanto o grupo já investiu na aquisições de empresa mas, em entrevista ao Valor em outubro do ano passado, disse dispor de algo entre 200 milhões de euros e 300 milhões de euro spara compras.

A meta de ser a número um do mundo em publicidade digital também explica o perfil das compras do grupo - essencialmente empresas de publicidade online e, de preferência, com operações consolidadas na Ásia. A primeira compra com este perfil foi a agência Digitas, em dezembro de 2006. Especializada em comunicação digital, a agência norte-americana tem forte presença em vários países asiáticos. "Pagamos US$ 1 bilhão pela Digitas que hoje tem uma geração de caixa de 450 milhões de euros por ano".

No mesmo mês , o grupo anunciou a compra da agência Betterway, com sede em Xangai e especialista em serviços de marketing digital. Depois o Publicis voltou às compras e fechou a aquisição da agência chinesa Yong Yang (YY), especializada em serviços de marketing. Segundo Lévy, o mercado asiático, e o chinês em especial, são prioridades absoluta na estratégia do Publicis. Sem computar os ativos da agência Yong Yang, o Publicis tem atualmente mais de 2,5 mil funcionários na China, espalhados por 79 escritórios em 33 cidades.

No início deste ano o grupo fugiu um pouco do perfil de aquisições e fechou a compra da americana Pharmagistics, agência de comunicação especializada em em marketing direto e logística de distribuição entre farmacêuticas e empresas de biotecnologia.

Segundo o presidente do Publicis, o Brasil e a América Latina só entrarão na política de aquisições do grupo depois da reorganização dos negócios na região.

O processo começou no início deste ano com a compra das ações dos sócios locais, no Chile. Em seguida, o grupo comprou a parte do sócio mexicano, Eliseo Arredondo, e rebatizou a agência, de Publicis Arredondo de Haro para Publicis México.

No Brasil, as mudanças começaram em 2002 - quando a rede francesa comprou a norte-americana BCom3 e incorporou a agência Salles Norton. O processo de transição terminou em 2005 e unificou as operações da Publicis Brasil e da Salles Chemistri - uma operação independente mas cuja direção está sob comando único.

Se não chega a lhe tirar o sono, o Brasil virou fonte de preocupação para Maurice Lévy, que reconhece no processo de fusão das agências Salles Norton e Publicis uma operação bem mais difícil e demorada do que o inicialmente previsto.

A fusão, concluída em julho de 2005 e que resultou na criação da Publicis Brasil, ainda traz reflexos no balanço da empresa e é exatamente isso que preocupa o executivo francês.

A ponto de constar no relatório dos resultados do primeiro semestre deste ano, enviado para todo o mercado. A matriz informou no balanço semestral que o desempenho do Publicis foi "medíocre" na América Latina, "devido a um problema pontual no Brasil".

"Depois da fusão perdemos contas e pessoas e não fomos capazes de manter uma equipe que fizesse a transição. O resultado é que decrescemos em receitas e como consequência temos um problema de rentabilidade na Publicis Brasil".

O informe de resultados divulgado no fim de julho - quando o Publicis reportou receita de 2,2 bilhões de euros- agitou o mercado publicitário brasileiro e todos os olhos se voltaram para a Publicis Brasil. Outras duas agências do grupo no Brasil estão em melhor situação. "A F/Nazca vai muito bem, conquistou contas importantes como Fininvest e HiperCard, do Unibanco, os jornais "O Globo" e "Diário de S.Paulo", e representa o segundo maior crescimento das nossas operações no Brasil", disse Lévy para em seguida falar daquela que é hoje a menina dos olhos do Publicis, a Leo Burnett Brasil que, segundo Lévy, "é um dos melhores desempenhos mundiais do grupo".

Só no primeiro semestre deste ano, a receita da Leo Burnett cresceu 34% - no ano passado o crescimento foi de 56% - e a agência conquistou contas importantes como Emirates Airlines e Anador, da farmacêutica Boehringer. No fim de 2006 a Leo Burnett Brasil já havia conquistado a conta de Gillette e Brasil Telecom.

A Publicis Brasil, desde o processo de fusão, perdeu contas importantes como Bradesco e Carrefour. "Mas já está se recuperando e neste ano contabiliza a entrada de clientes como Procter & Gamble e Sanofi-Aventis", disse Lévy acrescentando que espera para este ano ainda a recuperação dos negócios da Publicis Brasil, presidida por Orlando Marques, que assumiu no início deste ano, no lugar de Izael Sinem.

Apesar de confiante, Lévy não está plenamente satisfeito com o desempenho de suas agências na região e, embora não antecipe medidas, diz que está refletindo sobre como organizar melhor os negócios na América Latina.