Título: As campeãs de bilheteria
Autor: Pavini, Angelo
Fonte: Valor Econômico, 21/09/2007, Eu, p. D1

Um grupo seleto de empresas conseguiu, nos últimos cinco anos, superar o Índice Bovespa, principal referencial do mercado brasileiro e que reúne os papéis mais negociados do país. Segundo estudo da Economática, 17 ações de 15 empresas acumulam variação acima do índice. Todas têm bastante liquidez, com mais de R$ 10 milhões negociados por dia. Destas, a maioria pertence aos setores de siderurgia - Usiminas, Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Gerdau Metalúrgica e Gerdau S/A - e financeiro - os bancos Bradesco, Itaú, Banco do Brasil e Unibanco, além de, indiretamente, Itaúsa, controladora do Itaú.

O que se pode notar na lista das mais rentáveis é que, em sua maioria, são empresas beneficiadas pela valorização das commodities provocada pela boa fase da economia mundial, e que garantiu a alta do Ibovespa por cinco anos consecutivos. É o caso das siderúrgicas e da mineradora Vale do Rio Doce. Nessa lista, Petrobras reflete a forte alta dos preços do barril do petróleo para a casa dos US$ 80,00. E há casos interessantes de reestruturação e reposicionamento no mercado, como o Banco do Brasil, que aumentou sua rentabilidade e fez uma oferta de ações para ampliar a liquidez e valorizar os papéis.

Há casos simbólicos de crescimento, com destaque para a Vale, que se tornou uma das maiores mineradoras do mundo com a aquisição da canadense Inco e que hoje chega a ser mais negociada até do que a Petrobras na Bovespa. Na mesma linha, Gerdau tornou-se uma multinacional brasileira do aço, com a compra de empresas nos Estados Unidos e em outros países da América Latina. CSN cresceu e ganhou ainda mais destaque com a expectativa de abertura de capital da mina Casa de Pedra. E Usiminas, Cemig e Net foram exemplos de reestruturação.

Os bancos, por sua vez, descobriram no crédito ao consumidor e no crédito consignado novos filões de ganhos para compensar a queda recente dos juros. Com retornos crescentes sobre o patrimônio, as ações das instituições sofreram recentemente pela venda generalizada de papéis de bancos no mundo inteiro por conta da crise dos papéis hipotecários de maior risco "subprime". Unibanco foi um dos destaques, com uma reestruturação interna forte nos últimos dois anos. Já CCR foi beneficiada pela necessidade de melhora da infra-estrutura do país e o crescimento das exportações.

O que chama a atenção na lista é que esse grupo de empresas concentra um valor expressivo do mercado, diz Einar Rivero, da Economática, autor do estudo. O período representa justamente a fase de recuperação do mercado acionário brasileiro depois da forte queda de 2002, em meio ao receio com relação à eleição do presidente Lula, lembra Rivero. "Foi justamente a partir de setembro de 2002 que o programa do futuro presidente ficou claro e deu início à alta que dura até hoje, sustentada pelo avanço das commodities e das empresas exportadoras", diz.

Fora das exportadoras, há casos como a Cemig, que passou por uma grande reestruturação após o fim do governo Itamar Franco e sofreu o efeito do fim das perdas provocadas pelo apagão de 2001. No caso da Net, a empresa se reestruturou e teve o reforço da entrada na sociedade da Embratel. "Mas o papel ainda está longe dos R$ 449 de fevereiro de 2000, auge da bolha da internet", lembra Rivero.

Já o Ibovespa foi prejudicado pela perda de brilho do setor de telefonia. Telemar, menina-dos-olhos do mercado e maior volume financeiro da América Latina, hoje representa só 3,81% do índice.

Olhando para frente, o mercado ainda vê potencial de ganho para a maioria desses papéis, conforme mostra a média das projeções dos analistas coletadas pela Thomson One Analytics. Da lista de 15 ações, apenas duas, CSN e Bradespar, estão cotadas acima da projeção média. CSN tem projeção de R$ 106,79, para R$ 117,11 do fechamento de ontem, e Bradespar, de R$ 87,50, para R$ 94,00 de ontem. No caso de Usiminas PNA (sem voto), o preço justo médio está em R$ 129,76, 9,5% acima do fechamento de ontem. Em CCR, a projeção de R$ 35,29 está 2% acima. Na Gerdau Metalúrgica, projetada em R$ 69,00, a diferença é de 15,7% e, na Gerdau S/A, a R$ 55,61, de 19,1%. Itaúsa, estimada em R$ 15,30, tem a maior vantagem, 32,8%. Vale PNA é projetada em R$ 51,53, 9,7% acima do valor no mercado.

Entre os bancos, destaque para o BB - cujo preço projetado de R$ 33,90 para a ação ultrapassa em 22,88% o fechamento de ontem -, e para Unibanco - com projeção de R$ 28,00 para a Unit, 22,3% acima. A projeção para Bradesco PN é de 57,05, 14,1% acima do valor atual, e para o Itaú, de 100,50, 18,4% maior. Petrobras PN tem projeção de R$ 62,61, 10% acima do fechamento de ontem. Cemig, de 47,80%, 28,5% acima. Na Net, a projeção média, de R$ 36,00, supera em 32% o valor atual.