Título: País manterá ênfase no biodiesel, diz Lula a secretário -geral da ONU
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 13/11/2007, Brasil, p. A2

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, que a descoberta da nova bacia de petróleo e gás em Santos não vai mudar a ênfase do governo brasileiro em relação ao biodiesel. Durante recepção no Palácio do Itamaraty, Ki-Moon fez questão de cumprimentar o presidente brasileiro pela descoberta que poderá inserir o país no rol dos grandes produtores de petróleo mundiais. "Independentemente de passarmos a ser exportadores de petróleo, nosso interesse em biocombustíveis continuará o mesmo", disse Lula, segundo relato do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

Para Lula, o biodiesel será a alternativa de um combustível limpo para o futuro. Chegou várias vezes a afirmar que o "Brasil está plantando petróleo". Diante do secretário-geral da ONU, o presidente brasileiro assegurou que a nova matriz energética será importante "não apenas para quem depende da bioenergia, mas também para quem depende e vende petróleo".

Ki-Moon voltou a classificar o Brasil como um elemento importante nas discussões sobre meio ambiente. Em dezembro, haverá uma conferência da ONU sobre aquecimento global em Bali, na Indonésia, para, entre outros temas, discutir alternativas para o término do Protocolo de Kyoto, marcado para 2012. O secretário-geral da ONU reconheceu que "o caminho para Bali passa por Brasília".

De acordo com Amorim, Lula reforçou os argumentos apresentados em Nairóbi, no Quênia, defendendo a concessão de incentivos para os países que diminuírem o desmatamento. Ki-Moon afirmou que o Brasil é "um gigante verde tranqüilo". O sul-coreano acaba de fazer, dentro da agenda de aquecimento global, um "tour" pela África, Ártico, Chile, passando pela floresta amazônica. Ficou impressionado com a questão do desmatamento. Em relação aos biocombustíveis brasileiros, mostrou cautela, lembrando que, ao lado de uma matriz menos poluente, ainda caminham problemas sociais e ao meio ambiente.

Fugindo das questões ambientais, Lula insistiu na aceitação do Brasil como integrante do Conselho de Segurança da ONU. Para o presidente, a ONU poderá perder a credibilidade se mantiver a mesma estrutura que tinha quando da sua criação, em 1945. "A geopolítica atual está diferente", afirmou Amorim. No encontro, o presidente brasileiro chegou a sugerir a criação de um grupo consultivo, informal, de líderes mundiais para agir em caso de crises internacionais.

Lula chegou a citar, como exemplo de atuação desse grupo, a busca de saídas para a crise do Oriente Médio. "Apesar de sabermos que existem novas tentativas de acordo, em alguns momentos é importante um ar novo nas negociações. E isso, na maioria das vezes, é possível com a presença de interlocutores novos." Segundo relato de interlocutores, Lula chegou a dizer que os Estados Unidos não teriam condições de colocar esse "ar novo" nas conversas. "Como é possível os Estados Unidos criarem um problema (conflito entre palestinos e israelenses) e depois quererem ser os mediadores da paz?", questionou o presidente.

O secretário-geral da ONU anotou as ponderações de Lula, mas não teceu comentários. Brincou, contudo, que tinha ficado impressionado com a quantidade de helicópteros que sobrevoam a cidade de São Paulo e solicitou que o país contribua com "apoio logístico" para a guerra civil no Darfur. O Exército brasileiro chegou a oferecer, segundo relato da ONU, "um hospital completo", mas as negociações não avançaram.

Em relação às pesadas críticas feitas pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, chamando o ex-primeiro ministro espanhol José Maria Aznar de fascista, e o rei Juan Carlos, da Espanha, de golpista, silêncio total. Ki-Moon afirmou que teria sabido da confusão pelos jornais. "No almoço tinha muita gente, se alguém comentou o assunto eu, sinceramente, não ouvi", desconversou Amorim.