Título: Crescimento orgânico deve marcar nova fase da Vale
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 11/10/2007, Empresas, p. B8

A Vale do Rio Doce costura um ambicioso plano de crescimento para os próximos quatro a cinco anos, com investimentos que poderão exigir recursos entre US$ 40 a US$ 50 bilhões. O crescimento orgânico será a chave desta nova etapa de expansão para manter a Vale entre as gigantes da mineração mundial. A estratégia contempla também potenciais fusões e aquisições de companhias alvo no mercado, como Alcoa, Freeport e Xstrata.

Nas próximas semanas, a companhia anuncia um programa de investimentos para 2008 da ordem de US$ 10 bilhões, bem acima dos US$ 7,5 bilhões investidos este ano, conforme informação que circulou esta semana em relatório da Merrill Lynch. O que vai condicionar o desenvolvimento deste robusto portfólio de projetos é o aumento de 30% nos preços do minério de ferro (percentual considerado piso pela Merrill Lynch), mais o aumento do volume de produção de minério de ferro e níquel em 50% até o final de 2011 e a potente combinação de continuidade do "boom" dos preços das commodities metálicas com a industrialização da China.

O Citibank, em relatório distribuído no final de setembro, prevê que em 2012 a Vale estará vendendo 450 milhões de toneladas de minério de ferro e 350 a 400 milhões de toneladas de níquel, adicionando a esta performance projetos de carvão, como o de Moçambique, com produção de 14 milhões de toneladas/ano; alumínio, envolvendo projetos de expansão de bauxita e alumina em Alunorte e Paragominas; cobre (Salobo); aço (Baosteel); e outros metais.

Na projeção do banco, a Vale não deverá fazer grandes aquisições até o próximo ano. Mas, 2008 é visto como um bom momento para a empresa planejar um grande lance na sua diversificação de ativos fora do Brasil.

A lista de potenciais alvos de aquisições superiores a US$ 15 bilhões é pequena, segundo o Citi. Ela inclui a Alcoa, estimada em US$ 40 bilhões; a Freeport, de cobre, US$ 47 bilhões; e a Xstrata (diversificada), US$ 65 bilhões. Uma alternativa aos grandes negócios pode ser a compra de mineradoras de menor porte, com valores entre US$ 5 bilhões a US$ 10 bilhões, que pode ser mais palatável para a Vale. A First Quantum (cobre), Zinifex (zinco), Alumina Limited (alumina) e Iluka são candidatas potenciais à consolidação.

O portfólio de projetos orgânicos da mineradora brasileira impressionou os bancos americanos, Citi e Merrill Lynch, tanto pela escala, como pela diversidade de produtos. Esse portfólio é uma demonstração da confiança da companhia no atual ciclo de metais e na demanda chinesa. Ele concluem que os projetos de minério de ferro, níquel e carvão nortearão o crescimento da Vale até 2012.

Como é uma companhia muito exposta ao ciclo econômico global e a demanda por metais, os bancos identificam alguns riscos para a a Vale concretizar seus planos no médio prazo.

O primeiro é o risco de uma retração da economia chinesa, o mais importante consumidor de metais do mundo, pode retrair o consumo de commodities e derrubar seus preços. Outra ameaça vem do nível de retorno que a Vale tem que ter dos investimentos bilionários. O risco de uma aquisição muito cara, efetuada no pico do ciclo de alta dos metais, também pode retirar da empresa o grau de investimento. O excesso de suprimento de minério de ferro ao mercado após 2009 pode derrubar os preços. Uma mudança política no Brasil (como ocorreu na Venezuela e Bolívia) que leve à taxação do minério é vista também como uma ameaça aos projetos da Vale. Vale foi consultada sobre o plano de investimentos, mas não retornou.