Título: No balanço da América Latina
Autor: Pavini, Angelo
Fonte: Valor Econômico, 11/10/2007, Eu & Investimento, p. D1

A gestão de recursos na América Latina vem se expandindo em 30% ao ano de 2002 para cá. O segmento de fundos de investimento da região é o que mais cresce no mundo desde 2002, a um ritmo médio de 35% ao ano, o dobro da média mundial, de 17%, e acima dos 22% da Europa e 20% da Ásia. Esse é o resultado de um estudo feito pela consultoria internacional Booz-Allen a pedido do banco inglês HSBC. O estudo mostra também que o setor de fundos de pensão na região aumentou 24% ao ano no período, fechando 2006 com US$ 332 bilhões, para US$ 460 bilhões dos fundos de investimento. No total, a região contava com US$ 792 bilhões em fundos abertos e de previdência no fim de 2006, valor que hoje deve estar próximo de US$ 1 trilhão, estima Sylvia Coutinho, responsável pela gestão de recursos do banco em toda a América Latina.

O levantamento revela que o principal investidor na região, com 57% dos recursos, é o institucional - os fundos de pensão respondem sozinhos por 42% do total. O varejo tem 25% e os clientes de alta renda private e as empresas ficam com 9% cada um. Mas o maior crescimento no período de 2002 a 2006 ocorreu no segmento de private bank, com 34% de aumento, mostrando o potencial da alta renda na região. A seguir vêm os institucionais, com 26%, o varejo, com 24%, e o corporate, com 21%.

O Brasil reina absoluto na região, com 55% do total de recursos. A seguir vêm o México, com 16%, o Chile, com 11%, a Colômbia com 6% e a Argentina com 4%. Somados ao Brasil, esses países representam 80% das aplicações em fundos na região. Merece destaque a posição do Panamá, que se tornou um importante paraíso fiscal para a América Central, com 1% dos recursos.

O forte crescimento da região explica o interesse de diversas instituições internacionais, como o Santander, o ING e o próprio HSBC, que está reforçando sua estratégia para a América Latina, explica Sylvia Coutinho. Ela assumiu a recém-criada HSBC Investments América Latina, que reunirá em uma estrutura de holding todo o negócio de gestão do México ao Chile. A estrutura inclui centros de gestão e de estruturação de fundos e o Brasil será o pólo principal, explica ela. O segundo será o México e o terceiro, o Panamá.

O comando das operações ficará com Sylvia e mais três brasileiros. O diretor-geral da HSBC Investments no Brasil, Pedro Bastos, assumirá a política de investimentos na região. Luiz Ribeiro comandará a Halbis Latam, empresa do HSBC responsável pelos fundos globais distribuídos na região. E Wagner Guida cuidará dos fundos Multimanager da América Latina. Sylvia é responsável ainda pela área de custódia local e internacional no Brasil, além do private bank local.

A reestruturação segue-se à compra do banco Banismo, no Panamá, que deu ao HSBC a segunda maior fatia no mercado de gestão local da América Latina, explica Sylvia. O HSBC quer chegar ao primeiro lugar em gestão até 2011 usando a presença local do banco na região.

Ela lembra que a atividade de gestão na América Latina é ainda muito concentrada nos clientes institucionais, que detêm 60% dos recursos diretamente ou em fundos de investimento. E o segmento deve crescer à medida que os países avancem nas reformas de seus sistemas previdenciários.

Mas o setor de private merece atenção especial pelo potencial de crescimento, explica Sylvia. "Está ocorrendo uma volta do dinheiro dos clientes private que estava no exterior em toda a América Latina, mesmo sem anistia, e isso aumenta o mercado de alta renda", diz. A explicação para essa volta é a estabilidade das regras e da inflação, além da maior flexibilidade dos mercados com relação à entrada e à saída dos investimentos. "Ironicamente, a maior facilidade de saída acaba incentivando a entrada dos investimentos, pelo conforto proporciona-do ao investidor", afirma Sylvia.

A executiva acredita também que a crise do mercado de hipotecas de alto risco americanas ajudará a região ao "quebrar um paradigma". "Os mercados emergentes, antes classificados como de alto risco, estão sendo vistos como mais atrativos do que os de países desenvolvidos", afirma. "Se continuarmos com bons indicadores, vamos receber um fluxo de investimentos externos nunca visto", afirma ela. Os indicadores de preços dos ativos de bolsa nos emergentes também ajudam, pois estão muito menores do que os dos desenvolvidos. "Se esses investidores aumentarem a parcela na região, hoje de três, quatro por cento, já será um volume enorme", avalia.

A atenção à América Latina faz sentido, uma vez que metade das receitas do HSBC hoje vem de mercados emergentes. "E nós queremos nos posicionar como um banco forte nesses mercados e na América Latina, criando essa estrutura de holding", diz Sylvia. Somando à operação mexicana, a da América Central e a do Sul, a região representa 8% do lucro global do banco antes de impostos. A América Latina representa 4,4% dos ativos do HSBC ao redor do mundo.

A proposta de crescimento incluirá estratégias diferentes por país, mas com um ponto em comum: diferente de Estados Unidos e Europa, na América Latina, o cliente faz tudo no banco, incluindo investimentos. "Por isso, vamos ter uma oferta completa e competitiva tanto de crédito, que a região também demanda bastante, quanto de investimentos", diz Sylvia. No total, o HSBC tem hoje cerca de 13 milhões de clientes e 4.500 pontos de atendimento. No Chile, a estratégia do banco é atuar com distribuição de terceiros uma vez que o mercado se concentra em grandes fundos de pensão.

"O importante é que temos um centro de excelência em gestão no Brasil e isso facilita nossa atuação, podemos criar um fundo gerido aqui e oferecer um espelho dele nos outros mercados", diz. Além disso, podem criar fundos que aplicam em outras carteiras ao redor do mundo usando a estrutura global do HSBC. "Queremos aproveitar o crescimento da região", diz Sylvia.

Ela dá o exemplo do Panamá, que está recebendo um grande número de cidadãos venezuelanos, além de mexicanos e americanos. "O Panamá é hoje o segundo maior destino de aposentados americanos que buscam um lugar tranqüilo", afirma ela.

Um segmento que terá forte atuação será o de fundos globais, que já conta com US$ 4,5 bilhões na região, explica Luiz Ribeiro. "Temos visto fortes entradas de investidores na América Latina vindos da Europa, Ásia e agora mais recentemente do Oriente Médio", diz. No Japão, onde o HSBC lançou um fundo Brasil em abril do ano passado, o patrimônio já atinge US$ 1 bilhão, diz Ribeiro.

A estratégia deve ter por base um tripé formado por fundos locais, fundos globais e multimanager, explica Wagner Guida de Araújo, cuja área é responsável por avaliar gestores em cada país. "Na China, lançamos um fundo gerido por terceiros que captou US$ 1,1 bilhão em cinco dias", diz. "Queremos fazer o mesmo aqui no Brasil em breve."