Título: Crianças aprendem cedo a amortizar dívidas e investir
Autor: Fariello, Danilo
Fonte: Valor Econômico, 11/10/2007, Eu & Investimento, p. D2

Julio BIttencourt / Valor "O extrato bancário é o boletim do futuro", diz a cartilha dada às crianças da escola Castello Branco, em São Paulo "Era uma vez um casal que queria comprar um carro, mas não tinha dinheiro", começa a professora, cercada pelo olhar atento do grupo de crianças. "Eles entram em um banco para falar com o gerente (ao fundo, alguém imita a música de suspense do filme Tubarão), e o gerente fala que eles podem pedir um empréstimo, para depois pagar uma dívida com juros", diz a narradora, interrompida por gritos infantis de medo. "Cinco anos depois, o casal volta ao banco para pagar toda a dívida", conclui feliz a professora, enquanto, devagarinho, todos começam a cantar, em ritmo de funk: "Tá amortizado, tá tudo amortizado."

É mais ou menos assim uma aula de finanças para crianças a partir de cinco anos do The Money Camp, empresa americana que chegou ao Brasil neste ano. As crianças que simularam o teatro citado são alunas do colégio Castello Branco, no bairro da Bela Vista, na capital paulista. Com frases otimistas, desenhos e brincadeiras, o curso quer inserir logo cedo na mente das crianças conceitos financeiros básicos que poderão ajudá-las para o resto da vida.

"Meu objetivo de curto prazo é comprar mais memória para o meu computador e o de longo prazo é pagar uma faculdade e virar um chef de cozinha", diz Benjamin Piassa, de dez anos. De cor, ele sabe citar os "três pilares da fortuna", que são ações, imóveis e negócios. "Se um cai, temos os outros", explica. Marina Araújo Rahal, nove anos, tem na mente também a teoria dos potes, que indica qual porcentual do patrimônio distribuir em um orçamento entre despesas fixas, investimentos e até doações.

Samuel Fen Ichen, nove anos, já pensa em guardar dinheiro para a aposentadoria e João Vítor Hondo Nogueira, de 11 anos, se preocupa em ter recursos para bancar tudo que o filho vier a precisar quando tiver a idade dele.

Silvia Alambert, empresária que trouxe e dirige o The Money Camp no Brasil, diz que tenta transformar uma linguagem complicada em forma simples. "O extrato bancário é o boletim do futuro", diz a cartilha distribuída às crianças. "Queremos mostrar para elas que, mais do que lidar com dinheiro, elas podem fazer escolhas desde cedo", diz Silvia. "É melhor do que dar a uma criança um cartão de crédito", acrescenta ela.

O curso total também está disponível a quem procurar a The Money Camp, por R$ 1,6 mil. Nos EUA, o programa é dado em acampamentos, que Silvia também pensa em implantar aqui. Além de São Paulo, um piloto já foi dado no Rio e agora o curso será levado a Ribeirão Preto e Franca, em São Paulo.

"Quando a criança pede os primeiros centavos para comprar bala, já é tempo de começar a ensinar sobre dinheiro", diz Silvia. Porém, para a Cássia D'Aquino, especialista em educação financeira, os pais e professores devem ter cuidado ao transmitir às crianças ansiedades e preocupações financeiras de adultos tão cedo. "Falar nesses assuntos para crianças de cinco, seis anos, pode ser exagerado." Se os pais querem prepará-las para ganhar dinheiro, diz, seria melhor ensiná-las a ter gosto pela leitura.