Título: Petrobras negocia quatro modelos de contrato para fornecimento de gás
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 13/11/2007, Empresas, p. B7

Gabrielli, presidente da Petrobras, vai rever investimentos da estatal em função das descobertas das reservas de Tupi O preço e o formato do contrato dos cerca de 42 milhões de metros cúbicos de gás, entregues diariamente pela Petrobras às distribuidoras do insumo no Brasil, estão perto de ganhar uma nova fórmula. José Sérgio Gabrielli de Azevedo, presidente da estatal, explicou ao Valor que existem quatro possibilidades à mesa. Chamados informalmente por firme (dois modelos), flexível e interruptível, os acordos prevêem desde o fornecimento ininterrupto do insumo até a suspensão da matéria-prima sem prévio aviso. "Existem algumas distribuidoras que têm contratos para vencer em breve e as negociações já têm pelo menos um ano e seis meses", afirma Gabrielli. A Comgás, que distribui o insumo para parte do Estado de São Paulo, tem um contrato de cerca de 3 milhões de metros cúbicos com a estatal, cuja data de vencimento é dezembro de 2007.

O presidente da Petrobras explicou, também, que os contratos firmes, como o próprio nome explicita, amarrarão a estatal ao fornecimento sem interrupções do produto. E, apesar de não dar maiores detalhes sobre essa versão, ele adianta que possui dois modelos em análise. Mas a maior diferença entre os acordos está entre o flexível e o interruptível. Se no primeiro a estatal se compromete a substituir o gás natural por um combustível alternativo sem custo à distribuidora e consequentemente ao cliente, o segundo já é bem diferente e prevê um corte sem a necessidade de providenciar qualquer alternativa.

Essa nova forma de acordo deverá dar a estatal um novo valor para o milhão de btu do produto, além de uma maior mobilidade.

A fórmula flexível, inclusive, foi testada recentemente pela Petrobras e a própria Comgás. No início de novembro, quando algumas termelétricas precisaram ser ligadas por ordem do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), juntas, Comgás e Petrobras procuraram alguns consumidores industriais que aceitaram a troca temporária de combustível. Nesta substituição, coube a estatal arcar com o custo do fornecimento do óleo combustível e da conversão, economizando 800 mil metros cúbicos diários de gás, que tiveram como destino a geração de megawatts por usinas térmicas.

"O Brasil tem um mercado novo de gás. É algo como cinco anos. Mas o que precisa ficar claro é que o mercado deste insumo é regido por contrato", afirma Gabrielli. Em outras palavras, quem optar por ficar com um contrato 100% no formato interruptível, por exemplo, poderá até pagar um valor menor na compra, mas ficará sujeito ao risco de corte sem prévio aviso. A situação se inverte completamente quando se caminha para o acordo na forma firme.

Dos cerca de 42 milhões de metros cúbicos diários, 30 milhões são adquiridos na Bolívia e o restante é produzido no país. Mas a Petrobras quer transformar essa realidade rapidamente. Segundo Gabrielli, além de voltar aos investimentos na Bolívia, a estatal vai aplicar US$ 18 bilhões para aumentar a produção no país, que deverá pular dos atuais 12 milhões para 73 milhões de metros cúbicos diários.

"Sim, nós vamos voltar a investir na Bolívia e o valor estará definido até o fim deste mês ou no máximo começo de dezembro", afirma o executivo. Na visão do presidente da Petrobras, a volta à Bolívia é necessária para que o atual fornecimento do insumo ao país esteja assegurado no longo prazo. "Nós produzimos 12 milhões de metros cúbicos na Bolívia e o nosso contrato para compra dos 30 milhões de hoje vai até 2019. E como toda a produção é naturalmente declinante, é necessário que mantenhamos investimentos por lá para que isso não aconteça no futuro", conta.

No Brasil, por outro lado, os US$ 18 bilhões servirão para viabilizar a infra-estrutura, que deverá consumir algo em torno de US$ 6,7 bilhões no período, e o restante será usado na produção do insumo. Como o gás deverá sair do Espírito Santo e Rio de Janeiro, o executivo acredita que serão necessários construir 4 mil quilômetros de dutos para espalhar o insumo pelo país.

Além do gás, há outras mudanças em andamento na sede da Petrobras. Depois da descoberta das reservas de Tupi, Gabrielli já admite uma revisão do plano de investimentos para o período entre 2008 e 2012, que antes era orçado em US$ 112 bilhões. "Sempre fazemos uma revisão anual do plano de negócios, então fatalmente haverá alteração", afirma o executivo.