Título: Ciro ignora prazo dado por PPS para afastar-se do cargo
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 01/02/2005, Política, p. A8

O ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, ignorou a decisão da Executiva Nacional do PPS, que estabeleceu prazo até ontem para que todos os membros da legenda com cargos no governo se afastassem dos postos ou formalizassem um pedido de licença do partido. Como ainda não decidiu seu destino político, Ciro preferiu calar-se, atitude já esperada por seus colegas de partido. A assessoria do ministro informou que ele não se pronunciará sobre o assunto e que este é um problema do PPS. O secretário nacional do PPS, Rubens Bueno, disse ao Valor que vai procurar a assessoria do ministro e aguardar, até as 15h de hoje, um comunicado oficial de Ciro Gomes. "Depois disso, quero zerar essa conta", avisou. O PPS também esperava um comunicado da senadora Patrícia Saboya Gomes (CE), que ocupa o cargo de vice-líder do governo no Senado. A estratégia da senadora será a mesma do ministro. Patrícia Gomes não foi localizada ontem pelo Valor. O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), deverá receber um comunicado oficial do PPS informando que a senadora não mais representa o partido. O ministro não pode ser automaticamente desfiliado do PPS. Para que isso ocorra, é necessária a abertura de um processo disciplinar de expulsão, via Comissão de Ética do partido. É pouco provável que isso ocorra. Na prática, com a decisão da Executiva, Ciro Gomes, a partir de hoje, perde as funções partidárias. "Ele não terá direito a voz nem a voto no partido. Trata-se de uma posição política do PPS, que decidiu afastar-se do governo em dezembro do ano passado", explica o secretário. A Executiva do PPS recebeu três pedidos de licença: de Mércio Pereira Gomes, presidente da Funai; Crescêncio Antunes, secretário nacional de Gestão Participativa do Ministério da Saúde; e Clementino Coelho, diretor de Engenharia da Codevasf. Os três perdem as funções partidárias, mas se quiserem regressar ao PPS, basta enviar um comunicado à Executiva. A atitude de Ciro Gomes torna impossível a convivência entre ele e o presidente nacional do partido, o deputado Roberto Freire (PE). "Só é possível a convivência sadia dentro do PPS se as suas resoluções forem cumpridas e uma delas determina o afastamento daqueles companheiros que ocupam cargos de indicação política no governo federal", afirmou Freire, por meio de sua assessoria. O deputado está no Chile. Os parlamentares que tentaram uma espécie de armistício entre Freire e Ciro ficaram frustrados. "Não termina bem isso. Tinha que haver um arremate. Há muito a conversar ainda. Tratam-se de quadros importantes do partido", disse a deputada Denise Frossard (PPS-RJ), que tentou intermediar uma negociação. O ministro, segundo ela, não se mostrou receptivo à idéia de formalizar uma licença do partido. Na avaliação da deputada, o fato de não ter sido oficializada uma licença do ministro cria um problema de convivência partidária. Frossard disse que o esforço feito por uma solução negociada não pode ser desperdiçado. Os parlamentares devem continuar tentando uma solução pacífica, apesar da resistência da direção partidária.