Título: Brasil pode discutir acordos com os EUA, diz Amorim
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 30/10/2007, Brasil, p. A4

O Brasil está preparado para discutir com os Estados Unidos acordos específicos para estimular o comércio bilateral, indicou ontem o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. "O Brasil tem interesse por qualquer acordo para abrir linhas de comércio, centrado em acesso ao mercado e excluindo regras que devem ser discutidas na Organização Mundial do Comércio OMC)."

Em entrevista ao Valor, o embaixador americano em Brasília, Clifford Sobel, sugeriu que os dois países poderiam fazer acordos bilaterais para estimular o comércio em áreas onde eles não têm conflitos e pavimentar o terreno para expansão das trocas.

Amorim vê espaço para esse tipo de iniciativa, se não envolver temas já desenvolvidos no Mercosul. Destacou o acordo de etanol e exemplificou com possibilidades na área têxtil. Há alguns anos, representantes da indústria automotiva americana levantaram a possibilidade de um acordo no setor que, por seu peso, poderia impulsionar mais tarde um entendimento comercial amplo.

Amorim contou ter ouvido que Washington andou falando de um acordo pelo formato "4+1", ou seja, Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai mais os EUA - portanto sem a Venezuela, cuja adesão ao bloco ainda necessita de ratificação final do Congresso. Ele deixou claro que, uma vez definindo o futuro da Rodada Doha, o Itamaraty vai acelerar por mais busca de mercados entre os países árabes, africanos etc. Disse que os países africanos estão agora importando mais do Brasil do que a China, chegando este ano a uma cifra superior a US$ 8 bilhões.

Em Berna, a capital suíça, o ministro respondeu a demandas dos suíços por um acordo de livre comércio, dizendo que se for na base do que está sendo negociado pelo Mercosul com a União Européia, tudo bem. O problema é que os suíços querem incluir temas que o Brasil rejeita, como proteção adicional para patentes, entre outros. Também um acordo bilateral de bitributação promete demorar. Os suíços querem que a arrecadação do imposto seja destinada ao país de origem da empresa. O Brasil acha que o imposto deve ficar onde ocorreu a transação.

Quanto à Rodada Doha, Celso Amorim continua otimista. "Tem jogo", disse. Ele acredita que até março pode sair alguma coisa. Os grandes números para liberalização industrial e agrícola seriam colocados na mesa até o fim do ano. Um esboço de acordo estaria pronto em fevereiro, abrindo a possibilidade para o Congresso americano aprovar o TPA (a autorização para a administração Bush negociar acordos comerciais sem emenda-los) em março.

O ministro reiterou que o Brasil está pronto a dar sua contribuição na rodada através de corte de tarifas de importação de produtos industriais. Lembrou que não fala mais no coeficiente 30 para uma fórmula, que significava aceitar cortes só de 50%.

Para cortar mais, porém, o Brasil insiste que precisa de "uma folguinha" a mais para o Mercosul, porque tem explicação econômica e técnica. As estruturas industriais não são iguais e os países consolidaram suas tarifas de maneira diferente. Mas ontem mesmo, os EUA e a União Européia voltaram a rejeitar a proposta do Mercosul de flexibilidade adicional para indústrias do bloco. "Tem jogo, e o Brasil estará preparado para fazer contrapartida numa faixa correta, aceitável, razoável na área industrial", afirmou. "Agora, não é possível que todos os países ricos tenham suas sensibilidades reconhecidas na área agrícola e, no caso da indústria, não possamos ter capacidade de flexibilização."