Título: Fazenda tenta identificar motivos para a valorização recente do real
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 13/11/2007, Finanças, p. C2

O Ministério da Fazenda iniciou estudos para identificar o que está por trás da recente valorização da taxa de câmbio e para apontar eventuais medidas para contê-la. As conclusões preliminares são de que a política monetária mais austera do Banco Central, combinada com cortes de juros nos Estados Unidos, engrossou os fluxos de capitais de curto prazo ao país.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que o governo está atento aos impactos econômicos do câmbio e tomará alguma medida se isso for necessário. Ele citou, como exemplos que exigiriam resposta, a possibilidade de quebra de bancos americanos ou o "derretimento" do dólar. "Temos de nos preocupar com o que vai acontecer daqui a pouco, na iminência do "investment grade", ou seja, no interesse maior do investidor externo no Brasil", comentou.

Na visão de economistas da Fazenda, a pressão sobre a taxa de câmbio se concentra nos mercados futuros, onde investidores estrangeiros montam suas posições de arbitragem entre juros internos e externos. Mas há também forte ingresso de dólares sob a forma de contratos de Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC) e nos fluxos de recursos de renda fixa.

Os técnicos da Fazenda estão analisando dados de 1995 em diante para apontar determinantes das operações de arbitragem fechadas por estrangeiros. No estudo, são avaliados os impactos de fatores como juros internos, juros externos, prêmio de risco país, cotação do dólar no mercado à vista e cotação do dólar futuro.

"A melhora dos fundamentos da economia explica um pouco da valorização do câmbio, mas não é apenas fundamentos", afirma uma fonte da Fazenda. "Os juros tem um papel central nas operações de arbitragem." Os dados mostram que as operações de arbitragem e o movimento na cotação do dólar estão, por exemplo, muito relacionados às oscilações na Selic, fixada pelo BC, e aos Fed Funds, taxa básica dos EUA.

A Fazenda também está mapeando os fluxos de divisas do balanço de pagamentos para identificar movimentos de arbitragem. Os dados mostram que, de fato, há maiores ingressos de capitais ligados aos bons fundamentos, como os investimentos diretos. Mas também há capitais de curto prazo. Só 39% dos US$ 36 bilhões de investimentos em carteira que entraram de janeiro a setembro foram para o mercado acionário; os 61% restantes são renda fixa, incluindo investimentos em títulos do Tesouro e outras captações privadas.

A contratação de ACCs tiveram aceleração em outubro, estimulada pelas oportunidade de arbitragem. Os exportadores trouxeram ao país US$ 16,569 bilhões em outubro, 32% mais do que em setembro. As operações de ACC cresceram 56% no mês e as operações de pagamento antecipado de exportações, 27%. A situação estaria um pouco pior, avalia a Fazenda, não fossem as medidas prudenciais do BC que exigiram mais capitais dos bancos para as posições de câmbio.

Apesar de negar a existência de um pacote pronto para ser adotado, Mantega não descartou a possibilidade de o governo tomar medidas cambiais. "Isso não quer dizer que amanhã não seja feito ou, depois de amanhã, quebre o banco x, y ou z nos Estados Unidos ou que o dólar derreta completamente - ele está derretendo um pouco. Estamos vigilantes", afirmou.

O Ministério da Fazenda vem acompanhando o que Mantega chamou de "descolamento" do dólar em relação às outras moedas, o que levou o Brasil a exportar mais para a Europa do que para os EUA. Nesse cenário, o ministro não vê problemas para a balança comercial e para a produção industrial.

Mantega ironizou o fato de, um ano atrás, analistas terem afirmado que o câmbio valorizado provocaria perdas na exportação, queda no saldo comercial ou crise nas vendas externas de manufaturados. "Nada disso se verificou até agora. Não quer dizer que não poderá haver."(Colaborou Arnaldo Galvão)