Título: Para Ciro, o problema é a política monetária
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 30/10/2007, Politica, p. A6

O deputado federal e presidenciável Ciro Gomes (PSB-CE) criticou ontem a política cambial do governo Lula e demonstrou insatisfação com a volta do debate sobre um terceiro mandato para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De acordo com Ciro, que participou de uma palestra em uma livraria de São Paulo, junto com o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), "o câmbio a R$ 1,74 é uma troca de investimento futuro por consumo presente e esta questão é uma tarefa de governo, sem dúvida alguma".

Para Ciro, a atual política cambial é fruto de uma política monetária que não mais se justifica. "O fundamento do câmbio flutuante não pode ser levado ao limite de provocar um gravame na economia." Segundo Ciro, o câmbio flutuante é uma boa metodologia, mas que foi concebida dentro de uma política monetária que tinha como principal objetivo "enfrentar um fantasma inflacionário que já não existe".

Para o parlamentar, a taxa de juros alta estabelecida pelo Banco Central cria uma " flutuação suja " , já que adiciona um fator para apreciar o real no momento em que o dólar já perde valor em relação às outras moedas internacionais. "Ajustar a taxa de juros eliminaria a parte artificial desta apreciação", afirmou, acrescentando que " a taxa Selic é o único ponto fora da linha na política econômica " .

Ciro afirmou que esta questão é mais grave do que a discussão de um terceiro mandato. "Terceiro mandato é falta de assunto de um punhado de políticos e jornalistas", afirmou ao chegar ao evento, reconhecendo, contudo que a discussão sobre essa possibilidade é real. "Terceiro mandato não é ficção, mas também não é fato político. Seria preciso pensar em um ectoplasma dando liga a essas coisas todas. Acho essa discussão ociosa. Prefiro não me pronunciar sobre ela e o presidente Lula já colocou o que pensa sobre isso", disse durante a palestra, ao ser questionado pelo mediador se uma nova reeleição de Lula era uma discussão real ou ficcional.

O deputado retomou a sua crítica ao volume gasto pelo governo com a conta de juros ao defender a aprovação a emenda que prorroga a cobrança da CPMF. "Nós não temos superávit nominal. O Brasil tem déficit nas suas contas. Tem superávit primário, mas a maior conta de todas é a de juros. São R$ 150 bilhões por ano para 70 mil rentistas, mediados pelos bancos. Se nós não renovarmos esses R$ 42 bilhões da CPMF a dívida vai parecer explodir e os juros vão para o espaço. O Banco Central, que adora fazer isto, vai meter dois pontos percentuais na Selic imediatamente e aí virá a recessão."

Na campanha presidencial de 2002, em que ficou em quarto lugar, Ciro chegou a propor uma espécie de alongamento voluntário do perfil da dívida, sendo intensamente criticado por agentes do mercado financeiro, por seus adversários na ocasião e por parte da mídia.

A palestra que reuniu Ciro e Suplicy era originalmente sobre o projeto de criação do Fundo Brasil para a Cidadania, de iniciativa do senador e que tramita na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara, tendo Ciro como relator. Em tom de brincadeira, Ciro disse que o projeto do petista "não vai passar de jeito nenhum".