Título: Chuvas voltam e três térmicas são desligadas
Autor: Santos , Chico
Fonte: Valor Econômico, 14/11/2007, Brasil, p. A7

O começo da estação chuvosa nas regiões Sul e Sudeste/Centro-Oeste animou os técnicos do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), órgão responsável pelo monitoramento da oferta e demanda de energia elétrica no país, e já aliviou a pressão sobre o mercado de gás natural. A geração de energia extra por termelétricas a gás natural, que somava 1.960 megawatts médios no final de outubro, após acender o sinal amarelo da oferta, já baixou para 1.357 megawatts ontem.

A diferença de 600 megawatts corresponde à energia necessária para abastecer uma cidade de 2,5 milhões de habitantes - Salvador, Fortaleza ou Belo Horizonte. De um total de dez usinas acionadas emergencialmente no final do mês passado, três já não operavam mais ontem, segundo o ONS. Uma delas era Araucária, no Paraná.

Embora os níveis dos principais reservatórios de hidrelétricas do país, especialmente do Sudeste, ainda não revelem isso claramente, a postura dos técnicos do ONS é de otimismo com a força da chegada da estação chuvosa. Depois de um outubro com chuvas abaixo do esperado, em novembro, até o dia 11, o volume de chuvas ficou em 186% da média histórica no Sul, aumentando em dez pontos o volume de água armazenada nos reservatórios da região. No Sudeste, a média de precipitações também melhorou e foi de 63% da média, em outubro, para 79% este mês.

Em relação à média de outubro, os reservatórios do Norte, Nordeste, e Sudeste/Centro-Oeste ainda estão com níveis superiores aos do ano passado, mas abaixo da média de anos de boas chuvas, enquanto os do Sul aumentaram de 59,77% para 69,23% da capacidade total de armazenamento de energia natural (água). No Sudeste/Centro-Oeste, a redução foi de apenas 1,2 ponto percentual, de 51,7% para 50,5%. Em novembro de 2006, a água armazenada equivalia a 42% da capacidade, enquanto em 2005 foi de 59%.

Os números de chuva e de armazenagem, segundo os técnicos, mostram que a água "está chegando" aos reservatórios, ou seja, as chuvas estão aumentando o caudal dos rios. E do ponto de vista hidrelétrico, as projeções são de permanência do tempo chuvoso. Para esta semana, segundo o "Programa Mensal da Operação Eletroenergética", do ONS, "a previsão é de ocorrência de valores significativos de precipitação nas bacias dos rios Paranapanema, Tietê, Grande e Paraíba do Sul, e em pontos isolados na bacia do rio Paranaíba".

Esses rios concentram os principais reservatórios do Sudeste. Os levantamentos meteorológicos recebidos pelos técnicos do ONS são ainda mais animadores em relação à atual temporada de chuvas, sempre do ponto de vista energético. Eles indicam que "ondas de convergência do Atlântico Sul" que estão chegando ao Sudeste estão se encontrando com a unidade que está descendo da Amazônia, contribuindo para que estacionem na região condições atmosféricas favoráveis a "precipitações permanentes".

Como mais de 90% da energia elétrica brasileira é de origem hídrica, os técnicos avaliam que este ano, mais uma vez, São Pedro irá contribuir para aliviar os temores quanto ao abastecimento. Para o Nordeste, a previsão é que as chuvas cheguem a partir de janeiro. Mas como a barragem de Sobradinho, na Bahia (rio São Francisco), principal reservatório da região, tem nas águas captadas nas serras do Sudeste a principal fonte de recarga, a preocupação energética com a seca nordestina cai consideravelmente.

Estavam operando ontem as térmicas a gás Norte Fluminense (RJ), Governador Leonel Brizola (RJ), Barbosa Lima Sobrinho (RJ), Luiz Carlos Prestes (MG) e Juiz de Fora (MG), no Sudeste, gerando 1.187 megawatts médios. No Nordeste, as baianas Celso Furtado e Rômulo Almeida geravam 170 megawatts médios. Outros 2.127 megawatts de energia térmica vinham das nucleares de Angra 1 e 2 e de sete usinas a carvão do sul.

O acionamento emergencial das térmicas a gás em 29 de outubro provocou uma crise no abastecimento de gás natural para outras finalidades, como o consumo veicular. A Petrobras, para atender ao ONS, conforme compromisso assinado, reduziu em 20% a oferta de gás para a CEG e a CEG-Rio.

Analistas avaliam que, com as chuvas das últimas semanas e o rearranjo na produção de gás da Petrobras, o capítulo atual da crise energética brasileira já estaria superado.