Título: Relatório de Maluf aprova Venezuela no Mercosul
Autor: Jayme , Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 14/11/2007, Brasil, p. A8

Com ressalvas, o deputado Paulo Maluf (PP-SP) apresentou ontem relatório com voto favorável à entrada da Venezuela no Mercosul. A proposta está em debate na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, que se pronunciará sobre o pedido na próxima quarta-feira. O ex-governador de São Paulo chamou o presidente Hugo Chávez de "psicopata", "cafajeste" e "ditador".

Maluf lembrou do Protocolo de Ushuaia, de 1998, no qual o Mercosul definiu que apenas países com "plena vigência das instituições democráticas" poderiam fazer parte do bloco. "Se a democracia é algo que temos como valor fundamental, temos sérias dúvidas se a democracia está sendo praticada na Venezuela pelo senhor Chávez", escreveu Maluf.

"Chávez vem, paulatinamente, corroendo as estruturas institucionais da Venezuela, o que ficou notório com a supressão recente de importante veículo de comunicação que lhe fazia merecidas críticas", completou o deputado, ao se referir à RCTV. "Agora, pretende impor, mediante simulacro de referendo, reformas políticas que lhe permitirão a perpetuação no poder. Ora, em qualquer lugar do mundo, a perpetuação no poder só pode significar o prenúncio de uma ditadura, mesmo que travestida numa roupagem popular."

Com a leitura do relatório, governo e oposição acertaram a realização de audiência pública na terça-feira. A oposição pretende levar o ex-embaixador Rubens Barbosa para o debate. O governo deverá ter alguém indicado pelo Itamaraty. O deputado se mostrou preocupado com a dificuldade de os oposicionistas a Chávez protestarem contra o governo. "Estamos certos de que muitas outras vozes não podem ser ouvidas, porque são abafadas pelo aparelho repressor do Estado chavista", disse Maluf.

O deputado paulista ainda colocou na conta de Chavez a responsabilidade pela desapropriação dos bens da Petrobras efetuada pelo governo Evo Morales, na Bolívia. "O senhor Chávez é o verdadeiro governante da Bolívia", afirmou Maluf, que chamou Morales de "pupilo" do venezuelano.

Maluf sugeriu ao Congresso Nacional que apelasse a Chávez por retomar a prática de alternância de poder no país. "Para que Chávez não deixe de ter em consideração que a alternância de poder na Venezuela constituiria o ponto culminante em sua modesta e bizarra biografia", escreveu o deputado. Além da questão política, Maluf citou o receio de que o presidente da Venezuela inicie uma corrida armamentista na América do Sul.

Maluf lembrou o recente episódio no qual Chávez criticou o rei Juan Carlos, da Espanha. "Em um estrelismo psicopático, Chávez chamou o rei Juan de golpista. Golpista é Chávez. Juan Carlos é o grande democrata da segunda metade do último século. Chavez não passa de um grande cafajeste", disse o deputado

Apesar das críticas a Chávez, Maluf aprovou a entrada do país no Mercosul. "Temos de levar em consideração o povo venezuelano. A nação venezuelana é que permanecerá como amiga do povo brasileiro, como nossos vizinhos, acima de 'chavismos' eventuais." Segundo Maluf, "ao não admitirmos o referido ingresso, estaríamos antes penalizando o povo venezuelano".

O PPS anunciou que vai apresentar um voto em separado na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara contrário à entrada da Venezuela no Mercosul. "A Venezuela, hoje, vivencia um momento de desestabilização e não possui credenciais democráticas necessárias para fazer parte do Mercosul", afirma a legenda no voto em separado.