Título: Colômbia exporta o Brasil para os EUA
Autor: Carolina Mandl
Fonte: Valor Econômico, 01/02/2005, Empresas &, p. B1

A Colômbia transformou-se em uma base de exportação têxtil para o Brasil. Empresas como Santista Têxtil, Vicunha e Cataguases já têm bases comerciais em Medellín, o principal centro de produção têxtil do país. É para essa cidade colombiana que vão cerca de US$ 30 milhões em tecidos brasileiros para transformarem-se em calças com etiquetas internacionais como Levi's, J.C. Penney, Calvin Klein e Polo Ralph Lauren, que serão vendidas nos Estados Unidos e na América Latina. Mas não é apenas uma grife que os tecidos brasileiros ganham na Colômbia. Depois de passar pelas confecções do país, o metro do tecido denim brasileiro deixa a Colômbia custando três vezes mais na forma de uma calça jeans. O resultado é que, por meio de diversas plataformas de exportação, a Colômbia já exporta mais roupas do que o Brasil. Enquanto em 2004 cerca de US$ 400 milhões em peças de vestuário foram exportadas a partir do Brasil, o país vizinho vendeu US$ 800 milhões. Apesar disso, no total, incluindo fios, tecidos, roupas e outros produtos, o Brasil exporta o dobro da Colômbia, que fechou 2004 com US$ 1 bilhão em vendas externas. Mas boa parte da produção brasileira é acabada e confeccionada em outros países. "O foco hoje é pela agregação de valor. Então ganharíamos mais se confeccionássemos para o exterior", diz Fernando Pimentel, diretor da Associação Brasileira da Indústria Têxtil. Um quarto das exportações da Santista Têxtil é confeccionada na Colômbia. "Por ter um grande mercado interno, o Brasil nunca se preocupou em criar plataformas para exportar", afirma Vicente Moliterno Neto, diretor de negócios da Santista. Com seus custos de produção mais altos, os países desenvolvidos pedem produtos já acabados, e não tecidos e fios. A maior parte do tecido exportado pela Santista se transforma em Medellín na mais famosa calca jeans do mundo, a 501 da Levi's. Do corte e lavagem do tecido até a entrega ao cliente, tudo é feito na Expofaro (Exportaciones Família Rodriguez), que fabrica 6 milhões de calças por ano. O produto mais exportado pela Colômbia são justamente as calças, fabricadas principalmente por três grandes confecções: Index, Expofaro e Jeans. De acordo com Roque Espina, diretor executivo da Inexmoda - entidade que promove o setor na Colômbia -, o maior impulso para a criação e desenvolvimento de confecções no país se deu em 2002, quando foi celebrado um acordo comercial com os Estados Unidos que isenta de impostos as importações americanas de artigos colombianos. O objetivo é incentivar a indústria e desviar a população do narcotráfico. Atualmente, 11% do PIB do país vem do setor têxtil. É também por causa dessa vantagem comercial com os Estados Unidos que poucos tecidos brasileiros se transformam em roupas para os americanos. O acordo exige que o produto tenha origem quase 100% colombiana para não pagar 17% de impostos. "O tecido brasileiro é muito bom, mas, se o usamos na confecção, a calça fica muito cara", explica Adriana Angel, gerente de contas da Expofaro. A exceção se dá com o tecido da 501 da Levi's, feito pela Santista. "Como ela foi a única empresa a receber a certificação da Levi's, temos que comprar deles. Além disso, sai mais barato do que comprar do fornecedor anterior, que era americano", diz ela. Os tecidos brasileiros são usados para a fabricação de roupas vendidas para o resto da América Latina. Com os países andinos, a Colômbia também tem acordos de isenção de impostos. De olho nesses mercados, a Santanense está negociando alianças com fabricantes e distribuidores colombianos. Dos US$ 15 milhões exportados pela empresa controlada pelo grupo Coteminas, 10% vão para a Colômbia e a meta deste ano é alcançar 20%. As exportações totais da Santanense devem crescer de 15% da produção para 25%. "Como a Colômbia tem um grande parque de confecção, atrai clientes de muitos lugares. Por isso é nosso alvo", fala Annete Walkers, diretora da área internacional. Há oito anos no mercado colombiano, a Cataguases tem uma parceria com o distribuidor Pizantex. Cerca de 6,5% dos 2,4 milhões de metros de tecidos para camisa feitos por ela vão para a Colômbia. "A existência de acordos comerciais com outros países também facilita as vendas", afirma o diretor Murilo Lemos Filho. Não são apenas os fabricantes de tecidos que estão interessados em vender para a Colômbia. Com a meta de dobrar o volume de exportações de fios texturizados a partir do Brasil até 2007, a Rhodia aposta na Colômbia como sua ponte. "Queremos chegar ao mercado americano, onde não temos fábrica, e a Colômbia é o melhor caminho para isso", diz Marcos de Marchi, vice-presidente para a América do Sul. Nessa região, apenas o Brasil faz esses fios.