Título: Dados indicam tendência de queda do preço do petróleo
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Fonte: Valor Econômico, 14/11/2007, Especial, p. A18

A grande alta do petróleo de 2007 pode não ter acabado ainda, mas começam a surgir sinais de esfriamento, e os preços podem ficar aquém da marca histórica de US$ 100 por barril no curto prazo.

Para países industrializados nervosos com a alta do petróleo, as últimas notícias têm sido boas. Há relatos de desaquecimento da demanda nos Estados Unidos e na Rússia. O dólar subiu um pouquinho. A produção diária na Arábia Saudita, Iraque e Angola subiu.

Outra coisa importante são os sinais reconfortantes que têm vindo de Ali Naimi, o ministro saudita do petróleo e líder de fato da Organização dos Países Exportadores de Petróleo. Em declarações à imprensa ontem, Naimi disse que a economia mundial "continua a resistir" e que a Arábia Saudita, maior fornecedor de petróleo do mundo, não prevê uma recessão nos EUA, o maior consumidor da commodity.

Claro que um conflito ou interrupção inesperada na oferta poderia fazer os preços subir de novo. Mas Naimi argumentou contra "os pessimistas", que segundo ele fizeram os preços aumentar ao prever escassez de produção enquanto a demanda dispara.

"Os preços de hoje, na verdade, não são em nada um reflexo dos fundamentos" de oferta e demanda, disse Naimi, repetindo uma queixa freqüente de outros ministros da Opep ultimamente, de que os preços subiram devido apenas à queda do dólar, instabilidade geopolítica e especulação.

Depois de bater um novo recorde de mais de US$ 98 o barril na semana passada, o petróleo americano, que é uma das referências do mercado, caiu e ontem fechou em baixa de 3,7%, a US$ 91,17, na Bolsa Mercantil de Nova York. O recorde histórico, considerando correção monetária, é de US$ 101,70 o barril e foi estabelecido em abril de 1980.

A Agência Internacional de Energia ajudou o argumento de que os mercados mundiais não estão pedindo mais petróleo. Num relatório mensal, a entidade, que atua como monitor dos países ricos para o mercado de energia, informava que estava reduzindo sua previsão de crescimento da demanda global para o quarto trimestre em 500.000 barris por dia, devido principalmente a sinais de redução de demanda nos EUA e nas ex-repúblicas soviéticas.

A AIE acrescentou que as reservas mundiais cresceram 1,4 milhão de barris por dia em outubro. Uma surpresa foi o Iraque. A produção nos campos do norte do país deve passar dos 600 mil barris por dia este mês, fixando um recorde desde a invasão americana em 2003. A AIE também observou aumento da produção em Angola, um novo membro da Opep que está emergindo como um importante fornecedor para os EUA.

Os países da Opep suprem cerca de 40% da demanda mundial, hoje pouco acima dos 85 milhões de barris por dia. A demanda por petróleo continua a subir na maior parte do mundo, apesar da alta de preços. Mas a AIE informou que estão surgindo "fortes indícios" de que "preços altos estão inibindo a demanda" em países industrializados.

Alguns analistas da indústria citaram os dados da AIE como prova de que os preços podem estar numa descida. Um relatório da Lehman Brothers disse que vários fatores, entre eles queda da demanda e aumento da produção da Opep, podem implicar que o mercado atingiu "um ponto de virada para se distanciar dos recentes picos próximos de US$ 100".

Nos últimos dias, Naimi deixou aberta a possibilidade de que a Opep decida aumentar seu teto de produção no mês que vem, quando os ministros se reúnem formalmente para discutir metas. Mas descartou quaisquer discussões nesse sentido esta semana, quando chefes de Estado da Opep se reúnem na Arábia Saudita para um encontro que deve contar com os presidentes do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, e da Venezuela, Hugo Chávez.

O ministro da Energia da Argélia, Chakib Khelil, entrevistado numa conferência sobre energia em Roma, disse que a demanda por petróleo parecia estar arrefecendo nos EUA por causa dos altos preços. Ele acrescentou que duvida que a Opep concorde em aumentar a produção no encontro ministerial do mês que vem. "Se a demanda está enfraquecendo agora, isso é um argumento para não aumentarmos a produção, especialmente se tivermos um enfraquecimento da economia", disse.

Na mesma conferência, o secretário americano de Energia, Samuel Bodman, reivindicou mais uma vez que os países da Opep aumentem a sua produção. Se a demanda por petróleo está caindo nos EUA, disse Bodman a repórteres, "eu não vi".

A Arábia Saudita está interessada em usar o holofote da mídia esta semana para difundir seu argumento de que o país tem petróleo suficiente, e que suas reservas não estão caindo, como alguns analistas têm dito.

A petrolífera estatal do país, a Aramco, tem organizado visitas da imprensa a sua sede em Dhahran, a um enorme complexo petroquímico ao longo do Mar Vermelho e a um de seus antigos campos de petróleo, que a companhia pretende expandir.

De longe o maior produtor da Opep, a Arábia Saudita tem capacidade de 11,3 milhões de barris por dia. Naimi disse que, apesar da alta dos preços de produção, o país estava cumprindo os prazos da ampliação de sua capacidade para 12,5 milhões de barris por dia em 2009.

Naimi sorriu ironicamente quando um repórter perguntou se via algum sinal de concorrência vindo de países como o Canadá, que começou a extrair petróleo das areias betuminosas de Alberta. "Não conheço nenhum terreno mais lucrativo do que a Arábia Saudita", disse.