Título: Colômbia usa Brasil como modelo para derivativos
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Fonte: Valor Econômico, 14/11/2007, Finanças, p. C3

O desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro já desperta o interesse dos países vizinhos. Um grupo de 34 executivos de corretoras e da Bolsa de Valores da Colômbia (BVC) chegou ontem em São Paulo para conhecer o funcionamento dos negócios aqui. Os colombianos querem criar um mercado de derivativos e futuros por lá a partir de 2008 e vão usar o Brasil como modelo. Ontem, os executivos participaram de uma apresentação no Banco Fator, acompanhada pelo Valor. Hoje, visitam a Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), a quarta maior do mundo.

Para criar uma bolsa de derivativos, os colombianos estão começando do zero. Primeiro compraram uma plataforma tecnológica para as negociações da OMX, uma bolsa da Suécia especializada em fornecer tecnologia para bolsas mundo afora. Os gastos com infra-estrutura pela BVC estão estimados em US$ 10 milhões.

O outro passo vai ser criar uma "clearing", para a compensação e liquidação das operações de derivativos e futuros, com gastos estimados em US$ 25 milhões. Os números são modestos perto dos investimentos das grandes bolsas de valores, mas relevantes para o tamanho do mercado da Colômbia, avalia o presidente da BVC, Juan Pablo Córdoba Garcés.

Segundo o executivo, o próprio mercado colombiano vem demando instrumentos derivativos. A avaliação é que os negócios vão precisar de proteção, por exemplo, contra as oscilações da moeda da Colômbia, o peso ou a taxa de juros. "Os exportadores perderam muito dinheiro com a apreciação da moeda", afirma Garcés. Estão previstos contratos de índices de ações, taxa de câmbio e juros. As operações devem começar no final do primeiro semestre de 2008.

A principal diferença do mercado brasileiro é que na Colômbia não haverá uma bolsa separada para os futuros e derivativos, como aconteceu no Brasil com a criação da BM&F, em 1985. Lá, este mercado vai ficar dentro da BVC, que já é o resultado da fusão de outras três bolsas colombianas, que se juntaram em 2001. O curioso é que a BVC já nasceu desmutualizada, ou seja, uma empresa que tem que ser rentável e hoje é uma S.A. Uma oferta pública de ações pode ocorrer no futuro, dependendo do sucesso do mercado de derivativos.

A BVC tem dois mercados, um de ações e outro de renda fixa. O de renda variável negocia US$ 60 milhões por dia, em média. Em pregões mais animados, chega a US$ 100 milhões. São 100 empresas listadas e este ano foram sete aberturas de capital, incluindo a petrolífera estatal (a Ecopetrol), que captou US$ 3,3 bilhões vendendo ações somente para os colombianos, sem estrangeiros.

Na renda fixa, o volume é bem maior, em torno de US$ 4 bilhões em títulos públicos.

Foram os próprios colombianos que procuraram a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) interessados no mercado brasileiro. Eles queriam conhecer o funcionamento de algumas corretoras. Uma das indicadas foi a do Fator, com 20 mil clientes ativos e 25 mil negócios por dia, dos quais a maior parte são de pessoas físicas. "Tentamos mostrar como o mercado se capacitou recentemente e como ele funciona", afirma Armenio dos Santos Gaspar Neto, diretor executivo da Fator Corretora.

Segundo Garcés, o objetivo é ver como funcionam as corretoras, principalmente a parte de gestão, processos e compliance.

O mercado colombiano virou alvo de investidores estrangeiros nos últimos anos. As aplicações cresceram tanto que o governo anunciou este ano controle de capital e colocou impostos sobre a entrada do dinheiro especulativo. Com isso, conta Garcés, o fluxo se reduziu. As autoridades trabalham agora para criar uma legislação para o mercado organizado de derivativos e futuros.