Título: Decisão do Canadá vai alterar preço do petróleo
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 30/10/2007, Empresas, p. B6

O preço do barril de petróleo estabeleceu novo recorde ontem ao ultrapassar os US$ 93 nos Estados Unidos. Além da crescente tensão entre a Turquia e os rebeldes curdos do Iraque, a commodity também foi influenciada pela decisão da estatal mexicana Pemex em fechar temporariamente uma de suas refinarias no Golfo do México. A decisão reflete o temor de que tempestades poderão atingir àquela região.

No entanto, outro fator deverá impulsionar a cotação do petróleo nos próximos dias. Como a commodity estabeleceu um novo patamar de preços neste ano, alguns campos de extração, que antes eram considerados caros para serem colocados em funcionamento, começaram a entrar na mira das grandes multinacionais. E muitas dessas áreas produtivas estão localizadas nas tundras do Canadá, cujo governo estuda elevar a cobrança de royalties dos atuais 49% para 56% das receitas obtidas com a prospecção.

"O aumento dos royalties poderá frear os investimentos na extração do petróleo nas tundras. E caso ocorra uma retração nesta área, certamente, a demanda e a oferta ficarão mais apertada no futuro", afirma Lucas Brendler, analista de Investimentos da Geração Futuro Corretora.

Atualmente, a relação global entre oferta e demanda é praticamente igual, ao redor de 85 milhões de barris por dia. E há quem calcule que para uma empresa de petróleo ter hoje o mesmo lucro de quando a commodity era negociada a US$ 22, é preciso que a cotação fique acima de US$ 40.

Portanto, com todo esse cenário, o barril de petróleo para dezembro deste ano foi negociado a US$ 93,53 na Bolsa Mercantil de Nova York, alta de US$ 1,67. Já na Bolsa Internacional do Petróleo de Londres, a commodity também para dezembro foi vendida a US$ 90,32, o que significou um acréscimo de US$ 1,63.

No acumulado deste ano o petróleo já registra valorização de 53,2% em Nova York e de 44,84%, em Londres. Só para se ter idéia do que isso significa a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) acumula alta de 46,26% no mesmo período.

Boa parte dessa alta no valor do petróleo mostra a participação cada vez maior dos fundos de investimento no setor. Tanto que para o economista Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), perto de 30% do preço internacional da commodity é fruto da especulação financeira. Mesmo sendo difícil estabelecer tamanho patamar, Brendler aposta em um índice de pelo menos 15%.

Analistas nacionais e internacionais estão, na verdade, em uma contagem regressiva para a cotação de US$ 100. Agora, mesmo que a commodity alcance esta marca emblemática, muito provavelmente este ainda não será o valor máximo já registrado pelo produto. Segundo dados atribuídos à Agência Internacional de Energia (EIA, na sigla em inglês), o maior preço do petróleo já registrado, e ajustado pela inflação, teria sido de US$ 101,70 em abril de 1980.

"O petróleo está à espera de um ou dois eventos para que alcance os US$ 100", avalia Daniel Yergin, presidente da Cambridge Energy Research Associates. "A cotação de US$ 100 é cada vez mais possível", diz Brendler. (Com agências internacionais)