Título: Adeco busca fazer do Brasil sua base para algodão, café e etanol
Autor: Scaramuzzo , Mônica
Fonte: Valor Econômico, 14/11/2007, Agronegócios, p. B16

Há quase três anos no Brasil, a Adeco Agropecuária, empresa agrícola que tem o megainvestidor George Soros como acionista majoritário, quer transformar o país em sua plataforma para a produção de algodão, café e álcool. Com produção de grãos e leite na Argentina e grãos no Uruguai, o Brasil deve se tornar no próximo ano a maior plataforma de agronegócios do grupo. Os primeiros passos já foram dados. Agora, a Adeco se prepara para a segunda etapa de expansão no território nacional, o que permitirá ao país ultrapassar a vizinha Argentina em faturamento dentro do grupo.

Após anunciar investimentos de US$ 900 milhões na construção de três usinas de álcool no Mato Grosso do Sul, o grupo, que já tem uma usina sucroalcooleira em Minas Gerais, deverá fazer aportes de mais US$ 70 milhões para ampliar a produção de café e algodão no país. "Queremos duplicar nossa área plantada no Brasil", diz Leonardo Berridi, diretor da Adeco no Brasil.

A expansão da Adeco no Brasil tem sido pontuada por aquisições de terras, sobretudo no Centro-Oeste e oeste baiano. No fim de 2004, quando fez seu primeiro investimento no país, de US$ 50 milhões, a Adeco comprou terras no sudoeste de Tocantins e oeste baiano, um total de 20 mil hectares. Hoje a empresa ocupa 24 mil hectares nessas duas regiões, além dos 14 mil hectares com cana no Mato Grosso do Sul.

A produção de café - todo irrigado - e de algodão do grupo está concentrada na região de Barreiras, no oeste baiano, e a de milho e soja no sudoeste de Tocantins. "É a melhor região para se plantar café no Brasil, uma vez que não há risco de geadas", diz Berridi. Os planos do grupo são fazer investimentos de mais US$ 70 milhões para ampliar a produção de grão e de algodão na mesma região.

Criada em 2002, com aquisições de terras na região dos Pampas e do nordeste argentino, a Adeco quer explorar o que há de melhor nos países em que atua. Além de George Soros, acionista majoritário, o grupo tem como sócios o fundo de investimentos estrangeiros HBK e pequenos investidores, entre os quais, dez executivos do grupo da Argentina e do Brasil.

Na Argentina, a Adeco comprou em 2002 cerca de 75 mil hectares de terras e hoje tem uma área de cerca de 200 mil hectares ocupados com soja, milho, trigo, arroz e pecuária leiteira. O grupo acabou de selar uma joint venture com a Agropur, cooperativa de leite do Canadá, em um investimento de US$ 40 milhões, para crescer em lácteos na Argentina. "Queremos explorar a expertise de cada país", diz Berridi. "No Uruguai, o grupo ocupa uma área de 10 mil hectares também com soja, milho e cevada."

O grupo responde por 10% da produção de arroz da Argentina, com uma produção de 120 mil toneladas naquele país. "Vamos lançar arroz com a nossa marca no Brasil", afirma Berridi. Em grão, a produção da Adeco nos três países soma cerca de 600 mil toneladas.

No Brasil, a Adeco deverá fechar o ano com faturamento de US$ 64 milhões. Na Argentina, em US$ 110 milhões. Para 2008, a expectativa é de que a receita quase dobre no território brasileiro, totalizando US$ 120 milhões. Para a Argentina, a receita está estimada em US$ 132 milhões em 2008, afirma Orlando Carlos Editore, diretor-administrativo e financeiro do grupo no Brasil.

Com a entrada das usinas em operação, o faturamento da Adeco do Brasil vai ultrapassar o da Argentina, afirma Editore.

No país vizinho, o grupo quer se concentrar em grãos. "Os custos de produção para os grãos são três vezes menores que o do Brasil, apesar das terras mais férteis custarem três vezes mais que a do Brasil", afirma Berridi.