Título: Securitização ainda é pequena no mercado de crédito para veículos
Autor: Travaglin, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 30/10/2007, Finanças, p. C2

Dentre as linhas que mais crescem, o destaque é o financiamento de veículos, que já liberou R$ 48 bilhões desde o início do ano, volume 28% superior ao ano passado. As captações no mercado via securitização, no entanto, não representam nem 5% desse montante em 2007.

Neste ano, até setembro, foram lançados R$ 2 bilhões de títulos com lastro em veículos, o que corresponde a quase 20% do total de securitização feita no Brasil. O volume é 25% superior ao ano passado, segundo relatório da consultoria Uqbar, especialista em securitização.

Apesar de pequeno, a emissão desses títulos já desperta a atenção do Banco Central. Em recente seminário sobre securitização, em São Paulo, o chefe do departamento de normas do BC, Sérgio Odilon dos Anjos, ressaltou a preocupação da entidade com as operações de securitização. "É preciso levar em conta o risco de pré-pagamento", disse.

Segundo ele, existe a opção de o cliente quitar o saldo da dívida de forma antecipada, com o devido desconto dos juros. Isso causaria um problema nos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC), principal instrumente usado nessas operações,

lastreados nesses títulos, já que o retorno seria reduzido.

Outra preocupação no caso desses títulos seria um aumento da inadimplência. O presidente da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef), Luiz Montenegro, ressalta, no entanto, que não há risco latente no momento. "As perspectivas apontam para um futuro tranqüilo", avalia.

O sócio da Uqbar, Chuck Spragins, concorda. "Não há sinais de problemas nos títulos lastreados em crédito no Brasil."

O sócio da Integral Trust, Francisco Turra, que finalizou recentemente uma operação de FIDC de R$ 200 milhões da financeira Omni, também não vê problemas nesse mercado. Ele lembra que a operação "foi totalmente colocada no mercado", com bastante apetite dos investidores.

Mas algumas instituições já vêem alguns sinais de alerta. O presidente da GM do Brasil, o chinês Ray Young, disse recentemente que o crédito para veículos no Brasil é o "nosso subprime". Isso porque, segundo ele, o avanço do endividamento para a compra de bens mostra semelhança com o mercado americano, onde "até desempregado consegue hipoteca", disse o executivo.

De fato, sondagem da Serasa, encomendada pelo Instituto Gestão de Excelência Operacional em Cobrança (Geoc), mostra que no financiamento de veículos 21,8% dos credores ouvidos pela pesquisa possuem renda de até R$ 500, mostrando que a expansão tem atingido classes com renda mais baixas.

Em relatório, a Link Corretora pondera que há semelhanças entre os mercado de veículo brasileiro e o de hipotecas americano, mas é preciso ir "com calma com as comparações", principalmente do ponto de vista do risco. "O nível de alavancagem do mercado de crédito como um todo é quase sete vezes maior nos Estados Unidos (mais de 200% do PIB) do que no Brasil (32%)", diz o texto da corretora.