Título: Analistas prevêem cenário de alta para os preços do aço no mundo
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 01/02/2005, Empresas &, p. B4

A siderurgia teve um ritmo de expansão alucinante em 2004 e com preços em forte elevação, com alta média global de 42,2% segundo o índice do CRU. Para 2005, a expectativa do Instituto Internacional do Ferro e Aço (IISI, na sigla em inglês) é de aumento na demanda de 4,5%. A Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OECD) divulgou relatório mais otimista, apostando em 5%. Esses dois cenários, conforme o analista Luiz Caetano, do Banco Brascan, apontam continuidade da demanda por aço no mundo, bem como da elevação dos preços, pelo menos até meados do ano. A partir daí poderão declinar por causa da entrada da China como exportadora de aço no mercado mundial. A publicação inglesa "Metal Bulletin", em estudo recente, estima que os preços devem prosseguir elevados no mesmo período, caindo suavemente até o final do ano. O estudo prevê que o preço médio das chapas laminadas a quente para os EUA vão alcançar US$ 720 a tonelada, ante US$ 660 no fim de 2004. A alta média desses produtos será de 3,3% , enquanto o fio-máquina (um tipo de aço longo) pode atingir US$ 590 e declinar no final do ano para US$ 500. Com isso, esse produto teria um preço médio 2,7% superior ao de 2004.

O analista da Brascan observa em seu relatório que algumas siderúrgicas brasileiras têm dúvidas sobre possível redução de preços no segundo semestre. "Ouvimos de produtores de aços planos e longos que os preços podem vir a arrefecer apenas no quarto trimestre de 2005". A seu ver, no mercado doméstico dificilmente os preços nominais do aço cairão "em função do controle exercido pelas siderúrgicas e devido à previsão de crescimento da economia do país. Para Caetano, as usinas só deverão ser sofre impacto negativo de queda nos preços das exportações. No Brasil, segundo o levantamento da Brascam, em 2004 os preços dos laminados a quente tiveram altas próximas de 80%. Para os demais produtos, os aumentos superaram 50%. No mercado mundial, segundo o índice geral da CRU, os preços do aço dispararam, mas os aumentos se diferenciaram por região. O mercado em que os preços mais alcançaram altas foi o da América do Norte - 73,6%. A Ásia registrou a menor elevação de preços no período, de 18,9%. Na Europa, subiu 59,6%. Dentre os produtos siderúrgicos pesquisados pela entidade no mercado internacional, os aços planos lideraram com a maior elevação, de 50,8%. Os produtos longos subiram 36,8% e o aço inoxidável, 31,3%. A ameaça de uma reviravolta neste cenário de preços do aço do cliente que, atualmente, é o maior demandante no mundo, a China, aponta o trabalho do analista. A produção local de aço cresceu 23,2% em 2004. As tentativas do governo em reduzir o PIB não alteraram o ritmo da produção de aço no país. Esse crescimento forte, porém, poderá levar a China a se tornar inevitavelmente exportador do produto, o que é o grande temor das usinas estrangeiras. Caetano acredita que já neste ano a China vai se tornar exportadora de aço, colocando inicialmente 10 milhões de toneladas no mercado, ou 3% de sua produção anual. Mas, nos próximos anos este volume pode aumentar e, com isso, o país tornar-se um grande exportador, contribuindo para queda dos preços mundiais. Porém, esta tendência poderá ser freada pelo governo, que enfrenta problemas internos relacionados à oferta de energia, meio ambiente e logística. Esse cenário da siderurgia poderá favorecer um aumento expressivo do minério de ferro, avalia Caetano. "Este ano deve ser melhor ainda para os produtores de minério de ferro, com a demanda crescendo fortemente. Só na China, as usinas de aço devem produzir mais de 50 milhões de toneladas, ou mais 19%, que em 2004. A demanda local por minério pode crescer este ano 15%, segundo analistas australianos. Apesar disso, Caetano aposta numa alta em torno de 30% para o minério de ferro nas negociações que se encontram em curso das mineradoras com as usinas de aço. É uma estimativa conservadora comprada aos percentuais noticiados de 50% e até 90%.