Título: Em nova fase, Ipea vai mudar ênfase das pesquisas
Autor: Durão, Vera Saavedra ; Magalhães , Heloisa
Fonte: Valor Econômico, 19/11/2007, Brasil, p. A10

Muito criticado nos últimos dias, acusado de afastar quatro economistas porque têm posições contrárias a ações do governo Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcio Pochmann, diz que tudo isso é "um disparate", mas reconhece que o instituto está partindo para uma nova fase, com mudança na temática dos estudos que serão desenvolvidos. Ele argumenta que o afastamento de Fabio Giambiagi e Otávio Tourinho, ambos funcionários do BNDES, aconteceu exatamente devido a essa mudança.

O convênio com o banco que os emprestou ao Ipea termina no dia 7 de dezembro e agora vai haver alteração dos rumos dos trabalhos. Pochmann defende convênios mais amplos com o BNDES, que integrem a macroeconomia a assuntos ligados à área social, ao desenvolvimento regional e a problemas metropolitanos. "O convênio atual trata do papel do BNDES no passado. Queremos olhar para frente", afirmou.

Um novo convênio com o BNDES está sendo desenhado. Estão à frente das definições, o diretor de macroeconomia do instituto, João Sicsú, e Ernani Teixeira, da área de estudos econômicos do banco. Segundo Sicusú os temas serão definidos no fim do mês. "Existem várias possibilidades a explorar, como estudos na área do PIB potencial, metodologia e mensuração e índice de capacidade ociosa. Discutimos a possibilidade de fazer um trabalho de história das instituições que contribuíram para o desenvolvimento brasileiro. Outra frente é o comportamento dos Estados nacionais diante de crises financeiras que podem vir ou não ser globais. Outra proposta é que, em 2009, a grande depressão mundial completa 80 anos. A idéia é avaliar o comportamento dos demais países com as crises que podem atingir as economias avançadas", disse Sicsú.

Os economistas Gervásio Rezende e Regis Bonelli também foram afastados. Pochamann diz que ambos, aposentados, não tinham vínculos empregatícios com a instituição. E o órgão só pode abrigar aposentados se passarem em novos concursos ou ocuparem cargos de confiança. Explicou que o Ipea tem 500 aposentados e estão sendo levantados se há outros casos como os de Bonelli e Rezende.

De qualquer forma, independentemente do respaldo administrativo, os quatro economistas afastados, ora em artigos ora em entrevistas, faziam críticas ao governo Lula. Pochmann entretanto afirma que "não há nenhuma perseguição ideológica ou exclusão". E diz: "É claro que juntando os quatro, dá uma conotação ideológica, mas no corpo do Ipea há pessoas com visões distintas."

Segundo Pochmann, o Ipea não quer excluir os aposentados. Pelo contrário, quer desenvolver um convênio para reter os do próprio instituto como também buscar cérebros de universidades ou empresas de âmbito federal, estadual ou municipal. Mas para isso precisa de respaldo jurídico. "Já tomamos a decisão de identificar uma modalidade jurídica de aproveitamento dos aposentados, que ainda não existe", disse. Informou que em 2008 metade dos 400 funcionários do Ipea terão tempo de serviço para se aposentar daí a preocupação. Também já pediu ao Ministério do Planejamento a realização de um concurso público.

Ele garantiu que o Ipea manterá o pluralismo entre seu corpo de funcionários. Para tanto, foi criado um conselho formado por acadêmicos de opiniões distintas, como Delfim Netto, Luiz Carlos Bresser Pereira, Cândido Mendes, João Paulo dos Reis Veloso, Maria da Conceição Tavares, Raphael de Almeida Magalhães e Luiz Gonzaga Belluzzo. Belluzzo e Bresser Pereira confirmaram ao Valor que foram convidados há cerca de um mês para o conselho e aceitaram o convite, mas que o conselho ainda não se reuniu.

Pochmann chegou à presidência do Ipea em agosto por indicação do ministro-chefe da Secretaria de Estratégias de Longo Prazo, Mangabeira Unger, e do vice-presidente da República, José Alencar, ambos filiados ao PRB. Economista licenciado da Unicamp, foi secretário de Trabalho na prefeitura de Marta Suplicy (PT) em São Paulo.

Os dois economistas do BNDES voltam ao banco. Tourinho deve se aposentar. Já Giambiagi, economista considerado de uma linha mais ortodoxa, defensor de uma ampla reforma previdenciária e crítico contumaz dos gastos do atual governo, deve ir para a área de gestão de risco. Segundo fontes ouvidas pelo Valor deve ficar em área onde terá menos espaço para dar opiniões publicamente.

Pochaman, desde que chegou ao Ipea, trocou quase todas os diretores. Além de substituir Paulo Levy por Sicsú na diretoria de Macroeconomia, houve mudanças na área de Estudos Setoriais, com a entrada de Márcio Wolhlers, economista da Cepal e da Unicamp, no lugar de João Alberto de Negri, funcionário do Ipea. Na diretoria de Estudos Sociais, Jorge Abrahão de Castro ficou no cargo antes ocupado por Anna Maria Peliano. Ambos são do corpo do Ipea

Já Mário Theodoro, um ex-economista do Ipea e hoje consultor concursado do Senado, substituiu Renato Lóes (do Ipea) como diretor de Cooperação e Desenvolvimento. Na área de Estudos Regionais e Urbanos, a diretoria foi ocupada pela professora de economia da Universidade Federal do Paraná Liana Carleial no lugar de José Aroudo Mota, funcionário de carreira do Ipea. Apenas a diretora administrativa e de Finanças, Cinara de Lima, foi mantida no cargo.