Título: A vez das pequenas companhias na bolsa
Autor: Valenti , Graziella
Fonte: Valor Econômico, 19/11/2007, Empresas, p. B3

Demorou, mas parece que finalmente chegou. Pequenas e médias empresas são as promessas de novas sociedades por ações para 2008 e o Bovespa Mais, dois anos após seu lançamento, o caminho a ser trilhado até os investidores e os recursos almejados.

Atendida a demanda reprimida das grandes e médias companhias que sonhavam com o Novo Mercado e daquelas que correram para crescer com fusões e aproveitar o bom momento, agora é chegado o momento dos menores negócios receberem mais atenção. Bancos e escritórios de advocacia buscam novos clientes.

"É um efeito cascata. O mercado de ações foi acessado primeiro pelas maiores e agora devem vir as médias e as pequenas", afirma Alexandre Barreto, da Souza, Cescon, Avedissian, Barrieu e Flesh Advogados. O escritório assessora a primeira empresa que irá ao Bovespa Mais, a Nutriplant. O faturamento líquido no ano fiscal 2006/2007 da empresa somou R$ 28 milhões.

João Batista Fraga, superintendente de empresas da bolsa paulista, acredita que as emissões no mercado de acesso, criado em 2005, devem ser entre R$ 20 milhões e R$ 50 milhões. "Mas esse volume já é bem razoável. Pode ser menor. Num segmento semelhante da bolsa de Toronto, que gostamos de observar, são comuns captações de R$ 7 milhões."

Em razão dos volumes menores, Barreto crê que o perfil do investidor que buscará oportunidades no Bovespa Mais é diferente daquele que foi ao Novo Mercado. Nas operações deste ano, o estrangeiro comprou 75% dos papéis. Já nas ofertas do novo segmento, predomina a aposta de que o doméstico será o principal aplicador, especialmente, os interessados em retorno no médio e longo prazo.

O sucesso esperado para o Bovespa Mais poderá acelerar a mudança no cenário de crédito para empresários e empreendedores. A disponibilidade de crédito para esse nicho já vinha crescendo no setor bancário e deve aumentar ainda mais, com a perspectiva crescente de acesso ao mercado de capitais, como alternativa.

"As empresas pequenas e médias já estão tendo mais acesso a recursos", destacou Fábio Barbosa, presidente do ABN Amro Real. Ele acredita que o acesso ao mercado de capitais, além de contribuir para o crescimento das empresas, promoverá as mesmas modificações assistida nos últimos anos junto às companhias maiores. "A formalização adquirida por uma empresa durante o preparo para listagem de ações não fica restrita a ela, se estende aos fornecedores, aos clientes, a toda a cadeia."

De um lado, os bancos têm mais dinheiro em caixa para fornecer crédito, de outro, o cenário macroeconômico está mais estável. Tudo isso combinado à formalização das empresa menores e a maior segurança que tal organização oferece para as instituições que concedem crédito leva os especialistas a apostarem no começo de uma nova realidade.

"As pequenas e médias estão tendo a assessoria financeira que nunca tiveram", comenta Ceres Lisboa, analista especializada no setor financeiro da Moody's. "O aumento do crédito colocou esse segmento no centro de interesse dos bancos, que necessitam diversificar a carteira."

Carlos Macêdo, analista do Unibanco, destaca que desde maio há um forte aumento no crédito. O volume em circulação passou de R$ 788 bilhões em maio para R$ 854 bilhões em setembro. Segundo ele, os três maiores bancos privados - Bradesco, Itaú e Unibanco - ampliaram en cerca de 30% a carteira de crédito, nos últimos 12 meses.

Também contribuiu para esse crescimento o processo de capitalização que os bancos médios passaram, com ofertas de ações. Só nesse ano, captaram R$ 4,8 bilhões. De posse desse dinheiro, passaram a atuar em segmentos que antes não atendiam, ampliando a concorrência a instituições estrangeiras que sempre operaram de forma altamente seletiva no país e mesmo aos grandes bancos.

Além disso, o setor teve um segundo aumento de caixa, com a abertura de capital da Bovespa e da BM&F, cujo processo ainda está em andamento. Essas operações transformaram títulos sem liquidez - obrigatórios para permitir a atividade no mercado financeiro - em ações dessas bolsas. No total, as duas juntas devem injetar cerca de R$ 3 bilhões nos bancos.

O dinheiro no caixa do banco é transformado num montante de crédito de três a cinco vezes maior - o limite regulamentar é de nove vezes. Significa dizer que, nesse segundo semestre, a disposição para concessão de crédito foi ampliada em até R$ 39 bilhões.

A mudança que está se desenhando para pequenas e médias companhias parece radical. Além dos bancos, do mercado de capitais, o setor de private equity - os chamados fundos de participações - também olha com mais atenção para o país. Entre os diversos fundos que aportaram aqui neste ano, está ninguém menos que o gigante The Carlyle Group.

O Carlyle chegou aqui, inicialmente, dedicado ao setor imobiliário e de construção civil. Mas agora o fundo iniciou também a estruturação de uma equipe para compra de controle e de participações relevantes em companhias - aquilo que no jargão financeiro chamam de "buy out".

O executivo Fernando Borges, vindo do AIG Capital Partners, chegou há menos de um mês na companhia para liderar e montar esse time. "A idéia é começar logo, em menos de um ano. É o prazo normal até ter a máquina funcionando." Ele não quis detalhar valor a ser dedicado ao país, nem a estrutura de captação, mas explicou que não é possível falar em transações inferiores a US$ 50 milhões. "Pode até ser bem maior, mas não menor."

Segundo Borges, a revitalização do mercado de capitais e o grande movimento de ofertas inicias de ações, ao mesmo tempo que concorre, estimula o setor de private equity. Embora possa acontecer de uma empresa alvo preferir a capitalização via bolsa, a liquidez da praça local oferece segurança de saída para os investimentos. A estratégia desses fundos é aplicar para melhorar a gestão e expandir o negócio para, mais à frente, vendê-lo - seja para outra empresa, seja pulverizando o capital no mercado.

Por enquanto, dada a falta de uma base histórica, não há como estimar o tamanho do Bovespa Mais. Porém, Fraga, da bolsa, admite que o universo potencial é superior ao do Novo Mercado, já que existem mais companhias pequenas e médias do que grandes.