Título: Produtividade cresce 3,9% até agosto com alta do emprego
Autor: Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 16/10/2007, Brasil, p. A5

O impulso dos setores menos intensivos em mão-de-obra, como o de máquinas e o automobilístico, o aumento da produtividade e a expansão dos investimentos, têm feito com que a produção industrial cresça em ritmo mais intenso do que o da geração de empregos na indústria. Entre janeiro e agosto deste ano, a indústria avançou 5,3% em relação ao mesmo período do ano passado. Já o número de ocupados subiu 1,6% na mesma comparação.

O crescimento das horas pagas também é tímido e acumula alta de 1,3% no ano. A produtividade da indústria, medida pela quantidade de itens produzidos pelo número de horas pagas, já se expandiu 3,95% neste ano. Este é um número maior do que o resultado obtido em todo o ano de 2006, que foi de 2,5%, conseguido às custas de produção em alta, mas de emprego estável.

Fábio Romão, economista da LCA Consultores, diz que os investimentos em máquinas e equipamentos estão aumentando a capacidade da indústria e também modernizam seus equipamentos. Com isso, é provável que a necessidade de mão-de-obra seja menor e que a empresa consiga produzir mais mesmo com igual número de pessoas ou com um número só um pouco maior de trabalhadores.

A valorização cambial também faz com que a alta do emprego não seja tão forte quanto a da produção, na medida em que afeta principalmente os setores intensivos em mão-de-obra. Pelos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados ontem, as indústrias do vestuário e de calçados acumulam perdas de 4,76% e 6,47%, respectivamente, em seu total de ocupados. A exceção fica por conta da indústria de alimentos, que já empregou 4,36% mais entre janeiro e agosto deste ano (em relação ao total de empregados no mesmo período do ano passado), embalada pela própria alta do emprego e da renda.

Romão, da LCA Consultores, também explica que há um outro fenômeno causado pelo real valorizado em relação ao dólar. Em alguns setores, peças antes produzidas internamente estão sendo substituídas por importadas, o que também faz com que a mão-de-obra necessária para produzi-las seja menor.

O ritmo de produção da indústria, porém, tem sido ditado por setores que empregam menos, como o de máquinas e equipamentos, cuja atividade já acumula incremento de 17,5% até agosto e o de fabricação de meios de transporte, no qual a produção registra elevação de 12,1%. Mesmo pouco intensivos em mão-de-obra, esse setores estão contratando mais. Entre janeiro e agosto, na comparação com o mesmo período de 2006, as indústrias de máquinas aumentaram em 5,3% seu quadro de funcionários, enquanto no ramo de meios de transporte a ocupação subiu 5,8%.

Para Edgard Pereira, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a composição do crescimento industrial é um fator chave para explicar o descompasso entre a evolução da produção e do emprego, mas também não se pode esquecer que "não é surpresa que o emprego tenha reação defasada com relação ao aumento da produção." A decisão de contratar um funcionário não é tomada da noite para o dia, por isso é preciso que o empresário tenha confiança no crescimento da economia, o que pode levar um tempo.

Pereira lembra o que aconteceu em 2004. Foi um ano de expansão econômica, com uma alta na produção industrial de nada menos do que 8,3% no período. O emprego, por sua vez, cresceu apenas 1,8%. Por isso, na avaliação do economista do Iedi, a produção precisa avançar a passos mais largos para que isso se reflita de forma mais intensa no mercado de trabalho.

Embora a ocupação não apresente resultados muito positivos, a renda dos que trabalham na indústria tem crescido significativamente. A folha de pagamentos real, indicador que serve de parâmetro para saber o que houve com os salários, já ficou 4,8% maior entre janeiro e agosto deste ano. Nos 12 meses terminados em agosto, o incremento é de 3,9%. Já a folha de pagamentos per capita, acumula alta de 3,2% no ano e de 2,7% em 12 meses.