Título: Fornecimento para Comgás pode ser até 20% menor
Autor: Góes, Francisco
Fonte: Valor Econômico, 31/10/2007, Empresas, p. B7

A repercussão em São Paulo ao corte no fornecimento de gás pela Petrobras foi muito mais tranqüila - não há notícias de empresas paradas por conta do corte -, mas também causa preocupação. O caso envolveu a Petrobras, a Cia. de Gás de São Paulo (Comgás), controlada pela multinacional britânica BG, e a Comissão de Serviços Públicos de Energia (CSPE), órgão do governo paulista que fiscaliza o setor no estado.

Segundo Sérgio Luiz da Silva, diretor vice-presidente da Comgás para grandes consumidores, a companhia recebeu uma notificação da Petrobras ontem, informando que a distribuidora se atenha a seus contratos. Atualmente, a companhia compra diariamente 3 milhões de metros cúbicos (m³) da Petrobras, 10,7 milhões de m³ do gasoduto boliviano e mais 650 mil m³ da subsidiária boliviana da BG. Só que o contrato com o gasoduto boliviano garante à Comgás o fornecimento de 8,7 milhões e não de 10,7 milhões de m³.

Em outras palavras, a notificação dá a entender que poderia haver um corte nesses 2 milhões de m³. "Essa notificação, que também foi recebida pela CSPE, é muito grave, porque impacta a indústria de uma forma bastante intensa", avalia a secretária de Saneamento e Energia paulista, Dilma Seli Pena. Dados da secretaria do Estado de São Paulo mostram que a indústria consome diariamente ao redor de 12 milhões de m³, enquanto que o gás natural veicular fica com 1,65 milhão de m³ e a residência abocanha outros 1,35 milhão de m³.

Diante desta notificação, a secretária estadual afirma que a idéia inicial é estabelecer um canal de negociação. E diz que pretende ter encontros com as empresas paulistas.

Mas mesmo esse número de 2 milhões de m³ também poderá ser reduzido, caso seja levado em consideração os últimos movimentos no Estado de São Paulo. Desde o fim da semana passada, a Petrobras acertou com a Comgás uma redução de 600 mil m³ diários no fornecimento do insumo. E esse indicador ainda poderá subir um pouco e alcançar 800 mil m³ nos próximos dias. Portanto, existe uma possibilidade desses 600 mil, ou mesmo desses 800 mil, serem incluídos na conta dos 2 milhões de m³.

Agora, tanto os 600 mil como os possíveis 800 mil, não foram conseguidos por meio de imposição e, sim, através de uma negociação entre as partes. "Nós procuramos sete clientes nossos no estado e explicamos o pedido da Petrobras. E como cinco deles já concordaram em substituir, foi feita a troca do gás natural pelo óleo combustível, o que já propiciou essa economia de 600 mil m³", explica Silva.

No acordo entre Petrobras, clientes e Comgás, ficou acertado que caberá à estatal fornecer o óleo combustível e também ressarcir os custos decorrentes da troca de insumo. E, apesar da boa adesão, o executivo da Comgás não soube informar se os dois clientes restantes farão a conversão temporária.

Contudo, o Valor apurou que pelo menos nesses 600 mil m³, a idéia da Petrobras é temporária. Tanto que fontes do setor trabalham com a possibilidade dessa conversão não superar os 30 dias.

Com essa medida, a estatal pretende abastecer usinas térmicas localizadas na região Sul do Brasil, despachadas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Fontes do setor acrescentam ainda que esse montante de gás natural seguirá para a usina térmica de Araucária, que tem capacidade de 484 megawatts. Segundo o ONS, a térmica foi despachada e encontra-se em funcionamento.

"Nunca vemos um desabastecimento temporário como boa medida. Mas estamos cientes que a Petrobras tem feito esforços para reduzir a dependência do gás boliviano, como plataformas de gás natural liqüefeito, que deverão entrar em operação em 2008, e o gás do Espírito Santo", afirma Saturnino Sérgio da Silva, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).