Título: CSN perde disputa e terá de atender a Vale
Autor: Ribeiro, Ivo
Fonte: Valor Econômico, 31/10/2007, Empresas, p. B8

A Vale do Rio Doce saiu vencedora na dura queda-de-braço travada com Cia. Siderúrgica Nacional (CSN) sobre um enorme contrato de venda de minério de ferro da mina Casa de Pedra para a trading japonesa Mitsubishi. Mas Benjamin Steinbruch, principal acionista e presidente da CSN, procura tirar proveito da situação. "Acatamos a decisão da Justiça e vamos entregar o minério no porto", afirmou, enfatizando que o importante é que agora a CSN começa a emitir anualmente uma fatura gorda contra a Vale. Para 2008, no mínimo uns US$ 500 milhões com a entrega de 8 milhões de toneladas de minério. Procurada, a Vale não quis se manifestar.

Steinbruch disse ao Valor, durante sua participação no evento de siderurgia que ocorreu até ontem na cidade colombiana, que a Vale torna-se uma grande cliente da CSN. O contrato de 53 milhões de toneladas firmado há três anos com a Mitsubishi durará até por volta de 2015. A entrega do produto estava parada porque a CSN alegava que a Vale deveria retirar o minério na mina, em Congonhas (MG). A Vale insistia que o acordo previa a entrega no porto, em Sepetiba, no Rio.

Após longo tempo, um juiz da Corte Internacional de Arbitragem deu parecer favorável à Vale. "O único inconveniente é que teremos menor capacidade no nosso porto para movimentar outras cargas por pouco tempo", disse o empresário. Em 2009, o volume de entrega a Vale deve saltar para 11 milhões de toneladas, mas depois irá se estabiliza no patamar de 5,5 milhões de toneladas por ano.

O contrato é resultado do direito de preferência de compra que a Vale tem contra a CSN para todo o minério que exceder o consumo cativo da suína da siderúrgica, que chega a 8,5 milhões de toneladas por ano. Nas vendas a mercado interno a mineradora abriu mão desse direito, mas nos contratos internacionais faz questão de exercer a prerrogativa.

Esse direito de preferência sobre excedente de Casa de Pedra é alvo de discussão na Justiça há mais de dois anos. Em 2005, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) julgou que a Vale fizesse uma opção entre ficar com esse direito e vender outra mineradora, a Ferteco, que adquiriu em 2001. A Vale foi à Justiça e briga até hoje para manter o direito e a Ferteco.

Além de ter uma grande cliente garantida para suas vendas de minério de ferro, um novo negócio da CSN, Steinbruch poderá ficar ainda mais feliz se a Vale emplacar um gordo aumento nos reajustes dos preços do minério de ferro para 2008. As negociações começam em duas a três semanas, mas analistas prevêem altas de 30% a 50%, que vão entrar em vigor em abril. Aos jornalistas presentes no evento, Steinbruch afirmou que espera um aumento de 50%. Sua justificativa é que a demanda mundial continua forte.

De acordo com Otávio Lazcano, diretor financeiro da CSN, a receita com minério de ferro deverá alcançar pelo menos US$ 1,5 bilhão (o valor inclui o volume vendido à própria CSN para fazer seu aço). Ele observou que esse valor é praticamente o mesmo do investimento em curso na mina para quadruplicar a atual capacidade, de 16 milhões de toneladas por ano. A empresa tem projeções de produzir e vender mais de 60 milhões de toneladas anuais a partir de 2010, quando seus projetos de expansão da mina e porto estiverem concluídos.

"O preço da ação da CSN hoje, na casa de R$ 140,00, ainda não reflete o real valor de todos os negócios e ativos que estão dentro da empresa", disse o diretor. "Os analistas e investidores não atribuem valor para muitos desses ativos e só reconhecem no máximo 20% a 30% do valor de Casa de Pedra no preço da CSN", reclama o diretor, que acrescenta: "Estamos com toda produção vendida de minério de ferro para 2008 e 2009, na faixa de 30 milhões de toneladas". Por conta da questão com a Vale, a CSN carrega estoque na mina de 11 milhões de toneladas.

Para Steinbruch, o valor de mercado da CSN, de US$ 22 bilhões na última sexta-feira, ainda não inclui por parte do mercado toda a percepção da geração de resultado do negócio de mineração. "A CSN pode valer o dobro se isso for considerado."

Na Colômbia, a CSN disputou no início deste ano a compra da Acerías Paz del Rio, uma siderúrgica de aços planos e longos, que acabou ficando com a Votorantim Metais por US$ 491 milhões. "Era um ativo que nos interessava, lamento não ter conseguido comprar", disse Steinbruch, que se reuniu por uma meia hora com o ministro de Fazenda colombiano após sua palestra de abertura do congresso latino-americano de siderurgia que ocorreu de domingo a ontem em Cartagena.

Segundo o empresário, foi apenas uma conversa informal, mas a CSN continua com interesse de fazer investimentos na América Latina, como a Gerdau e a própria Votorantim. "Vamos manter uma estratégia de olhar novas oportunidades na região", disse. Ele lembrou que a Vicunha Têxtil, outro negócio da sua família, adquiriu há pouco tempo uma empresa no Equador. "Na Colômbia temos distribuição, mas gostaríamos de ter uma unidade industrial". (Colaborou Vera Saavedra Durão, do Rio)

O jornalista viajou a convite do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS)