Título: União estuda modelo de venda da geração de Angra
Autor: Leila Coimbra
Fonte: Valor Econômico, 01/02/2005, Empresas &, p. B9

O governo está estudando uma nova solução para a energia produzida pelas usinas nucleares de Angra I e II. A hipótese cogitada pelo governo é dar à energia nuclear o mesmo tratamento dispensado à hidrelétrica de Itaipu, cuja energia é repassada compulsoriamente para as distribuidoras. Dentro desta estratégia, a Eletronuclear, empresa que administra Angra I e II, deixaria de ser uma subsidiária de Furnas e passaria a ser diretamente controlada pela Eletrobrás, que hoje também é responsável pela comercialização da produção de Itaipu. O secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Maurício Tolmasquim, disse que a idéia ainda é embrionária e não há nada decidido. Tolmasquim acredita, porém, que se a idéia for levada adiante a energia nuclear poderia ser vendida sob essa nova forma de comercialização em 2006, para suprir os 5% do mercado das distribuidoras que não foram contratados no leilão de energia existente realizado em dezembro passado. Essa hipótese foi criticada pelas geradoras. "É um absurdo", disse ontem o presidente da Associação dos Produtores Independentes de Energia (Apine), Luiz Fernando Vianna, durante seminário sobre comercialização de energia. "Espero que não levem adiante essa idéia". O problema é que hoje em dia a energia nuclear é muito cara, e dificilmente ela conseguirá comprador diante do ambiente competitivo da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), apelidado de "pool" elétrico. Segundo Tolmasquim, hoje o megawatt hora (MWh) produzido por usinas nucleares está em torno de R$ 92. Os preços médios do leilão de dezembro passado ficaram em R$ 57,51 o MWh em 2005; R$ 67,33 o MWh para entrega a partir de 2006 e R$ 75,46, para 2007. Mesmo a produção de Itaipu, comercializada em dólar, é competitiva diante da geração nuclear. Os preços de Itaipu hoje são de US$ 19, 2 o MWh. Os preços das usinas nucleares não é competitivo porque o governo gastou algo entre US$ 15 bilhões a US$ 20 bilhões para produzir 650 MW em Angra I e 1.300 MW em Angra II. Não há consenso sobre os valores, mas reatores similares novos custariam algo entre US$ 1,5 bilhão e US$ 2 bilhões.