Título: Sarney rejeita cargo e PSDB pede nome independente
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 16/10/2007, Politica, p. A8

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), afirmou ontem que a oposição não aceitará a indicação, pelo PMDB, de um "pau mandado" do Palácio do Planalto para substituir Renan Calheiros (PMDB-AL) na Presidência da Casa - caso ele não retorne ao cargo. Formalmente, Renan está afastado por uma licença de 45 dias. Mas, segundo avaliação geral, não há condições políticas para volta. As negociações para a sucessão já começaram nos bastidores.

"Nós respeitamos a primazia do PMDB de indicar o presidente, se o senador Renan Calheiros renunciar ao cargo. Mas o PMDB precisa fazer a pedida, do contrário perde o cargo. Perde, se vier com um nome bolorento, um pau mandado. Se o PMDB não fizer a pedida justa, a oposição pode lançar um candidato", disse Virgílio.

Um dos nomes rejeitados pelo PSDB é o do ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), que tem sido firme ao rejeitar a indicação. "Não há hipótese que me faça aceitar. Quero concluir meu livro de memórias e trabalhar pelo Amapá. Nem aceitaria apelo de ninguém", disse ontem. O líder do PMDB, Valdir Raupp (RO), afirmou ser "anti-ético" discutir sucessão, já que Renan está apenas licenciado. Mas avisou que seu partido não abrirá mão do cargo, por ter a maior bancada.

Segundo Virgílio, o direito do PMDB será respeitado, mas o indicado, para ser aceito, tem que ser identificado com o governo e, ao mesmo tempo, ter bom trânsito e respeito da oposição. O nome da bancada pemedebista citado ontem como um dos mais adequados - pela boa relação com o governo e com a oposição - era o do ex-governador Garibaldi Alves (RN).

O vice-presidente do Senado, Tião Viana (PT-AC), que substitui interinamente Renan, presidiu reunião da Mesa Diretora em que foi decidido envio da quinta representação contra Renan ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar. Nessa representação, proposta por DEM e PSDB, o pemedebista é acusado de ter mandado um assessor, o ex-senador Francisco Escórcio, espionar os senadores Demóstenes Torres (DEM-GO) e Marconi Perillo (PSDB-GO).

Tião viveu intensamente seu dia de presidente do Senado. Visitou o vice-presidente José Alencar, em exercício na Presidência da República durante viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à África. Visitou Renan em casa, com quem tratou de providências da interinidade. Convocou reunião de líderes para hoje, a fim de definir pauta de votações nos próximos 45 dias. Visitou o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). Leu requerimento com o pedido de licença feito por Renan e o deferiu.

Presidiu reunião da Mesa em que, além de encaminhar a representação contra Renan ao conselho de ética, fixou que a Ordem do Dia começará, todos os dias, às 16h. Ouviu elogios de senadores de todos os partidos pela "serenidade" e "equilíbrio" necessários para comandar o Senado. E avisou que pretende trocar servidores de confiança do gabinete da presidência. O diretor da Secretaria de Comunicação, Weiller Diniz, entregou o cargo.

Arthur, em pronunciamento, disse que a licença de Renan "apresenta à nação a possibilidade inequívoca de desanuviarmos o ambiente desta Casa, que estava, de fato, envenenado pela polarização entre os que queriam, a qualquer preço, manter o senador Renan Calheiros à frente da Presidência da Casa". Defendeu "pauta positiva" nesses 45 dias. Deixou claro, entretanto, que não significa boa vontade em relação à votação da CPMF.