Título: Açúcar e café ampliam ganhos no exterior
Autor: Mônica Scaramuzzo, Alda do Amaral Rocha e Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 01/02/2005, Agronegócios, p. B12

Exceto pelas "viradas" do algodão, que encerrou janeiro com forte valorização da bolsa de Nova York, e do suco de laranja, que voltou a cair no mesmo mercado, o comportamento das cotações internacionais das principais commodities agrícolas negociadas pelo Brasil no exterior seguiu, no mês passado, mais ou menos o mesmo script escrito em dezembro. Ou seja, açúcar e café continuaram em alta e os principais grãos ainda com pouca sustentação, conforme cálculos do Valor Data com base na média dos preços dos contratos de segunda posição de entrega em Nova York e na bolsa de Chicago. A guinada observada fez o algodão encerrar janeiro com a maior variação positiva entre as oito commodities que fazem parte do levantamento. A alta sobre a média de dezembro chegou a 7,76%, impulsionada basicamente por movimentos técnicos. Segundo Fernando Martins, da Fimat Futures, os fundos inverteram a posição vendida de dezembro. "Eles tiveram boa participação nas compras de janeiro". Mas os chamados "fundamentos" para o produto são baixistas, uma vez que os Estados Unidos colhem uma safra recorde e há aumento de área plantada em países da Ásia e mesmo no Brasil. Em janeiro, disse Martins, as exportações americanas também sustentaram os preços, mas não "chegaram a surpreender". A expectativa é que as cotações sigam sob pressão em fevereiro. Nos últimos doze meses até janeiro, a baixa acumulada chegou a 37,82%. No café, os fundos foram responsáveis pela liquidação de posições no início de janeiro. Mas a queda dos preços estimulou as compras de torrefadoras. "Os países de origem, sobretudo da América Central, foram vendedores no início de janeiro", afirmou Rodrigo Costa, da Fimat. Segundo Alexandre Mourani, da Ágora Senior, a valorização do euro estimulou as compras das torrefadoras européias, sobretudo da Alemanha. Com isso, o preço médio em Nova York subiu 2,31% em janeiro na comparação com o mês anterior. Nos últimos doze meses, a alta acumulada chegou a 39,91%. Nesse mercado, as perspectivas de déficit mundial sinaliza novos ganhos. Também suportado por boa demanda, o açúcar seguiu firme em janeiro na bolsa nova-iorquina, apesar das fortes oscilações. Mourani, da Ágora, disse que as cotações foram sustentadas pela entressafra de cana no Centro-Sul do Brasil e pelas perspectivas de boa demanda na Ásia, principalmente na Índia. As mesmas perspectivas sustentam as cotações externas há meses. No ano-móvel até janeiro, o salto acumulado chegou a 52,81%. No mês passado, a cotação média dos contratos de segunda posição ficou 2,37% acima da média de fevereiro. A partir de maio próximo, espera-se perda de sustentação com a entrada da nova safra de cana do Centro-Sul brasileiro. No caso do suco de laranja, a valorização de dezembro em Nova York não teve continuidade e, na média, as cotações caíram 1,09%. No fim do ano passado, ainda sustentavam o mercado os danos à citricultura da Flórida provocados por furacões e a expectativa de que baixas temperaturas no Estado americano pudessem comprometer a produção de laranja. Como as temperaturas foram mais amenas que o esperado, os preços recuaram. Ainda assim, nos últimos doze meses até janeiro a valorização acumulada ainda alcança 27,18%. As cotações do cacau também recuaram em janeiro, devido à ação dos especuladores e às vendas da safra africana. Em relação a dezembro, a queda de janeiro foi de 6,23%; em 12 meses, a baixa chega a 4,86%. Thomas Hartmann, da TH Consultoria e Estudos de Mercado, observou que o volume comercializado pelos países da África está menor neste ano, como já era previsto. Os conflitos na Costa do Marfim também podem trazer oscilações ao mercado neste mês. "Há potencial de alta, mas limitado". Em Chicago, janeiro foi mais um mês de queda de preços. Para a soja, carro-chefe das exportações brasileiras dos agronegócios, os estoques mundiais elevados e a supersafra americana continuam a dar o tom. Em janeiro, a queda sobre dezembro foi de 2,61%; em 12 meses, as perdas chegam a 35,98%. Para Anderson Galvão, da Céleres, o que vem alimentando as quedas é o descompasso entre oferta e demanda, já que a primeira cresce mais que a segunda. Para ele, até março e abril "Chicago não deve cair tanto". Mas a expectativa é de que o prêmio enfraqueça mais no Brasil com a entrada da nova safra. "Em portos brasileiros, a saca sai por US$ 11, um preço baixo. Os produtores estão fazendo suas contas, e as contas não fecham", disse Antonio Sartori, da Brasoja. Descompasso também se vê no milho, já que as exportações dos EUA também não crescem na mesma proporção que a oferta, segundo Leonardo Sologuren, da Céleres. Para ele, o recuo, que chega a 23,23% em 12 meses, decorre da maior oferta e dos estoques americanos elevados. Sologuren lembrou que em maio passado, quando fez a primeira previsão para 2004/05 dos EUA, o departamento de agricultura do país (USDA) estimou produção de 264,8 milhões de toneladas. A última projeção, feita em janeiro, indicou 299,9 milhões. Os estoques finais dos EUA, assim, saíram de 18,08 milhões para 49,7 milhões de toneladas. Já o trigo teve pequena alta em janeiro, sustentada pela entressafra nos EUA. No mês, o ganho sobre fevereiro foi de 0,18% em Chicago. Nos últimos 12 meses, porém, a queda é de 22,21%. Aldo Lobo, da Safras & Mercado, disse que a tendência natural seria de alta nesse período, mas que a Argentina ocupou parte do mercado antes atendido pelos EUA. "A valorização do dólar tornou o trigo americano menos competitivo." Para Lobo, os preços tendem a se manter estáveis, mas podem subir caso haja problemas climáticos na safra de inverno de EUA e Canadá. (Colaborou Fernando Lopes)