Título: China ainda prioriza crescimento, diz Hu
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Fonte: Valor Econômico, 16/10/2007, Internacional, p. A11

A maior prioridade do Partido Comunista Chinês continuará sendo o crescimento econômico, mas dando atenção às fissuras sociais que aparecem nesse processo, disse o presidente da China, Hu Jintao, ao abrir ontem o 17º Congresso do PCC, em Pequim. Com isso, o partido frustra os que esperavam mudanças mais profundas na estrutura de poder do país e reforça a linha de que o importante mesmo é a economia.

Hu, que terá mais cinco anos na Presidência, prometeu introduzir mais democracia na maior organização política do planeta, mas lembrou aos membros do partido que eles têm de "sempre concordar" com seus líderes.

Ele falou repetidas vezes a palavra "democracia", defendendo que ela deve se caracterizar por uma "democracia intrapartidária", permitindo que os membros participassem mais no processo decisório. "Precisamos manter o papel do partido como o núcleo da liderança que dirige a situação e coordena os esforços em todas as frentes."

O discurso de cerca de duas horas e meia abriu de modo tradicional a reunião, fazendo loas à correção da retórica e das linhas filosóficas do passado. Na leitura das 64 páginas de seu pronunciamento, Hu deu poucas indicações de quais seriam as medidas específicas a tomar até 2012, quando ele deve abrir espaço para um novo líder.

Com a intenção de deixar sua marca, Hu falou sobre o que chama de "visão científica do desenvolvimento", um conjunto de princípios vagos e esparsos que dariam suporte a uma economia harmoniosa do ponto de vista social.

Como o Congresso qüinqüenal é uma chance para o partido delinear sua agenda e ratificar a visão de seus líderes, desta vez ele deve colocar a frase "visão científica do desenvolvimento" na constituição partidária, junto com os slogans políticos de Mao Tsé-tung, Deng Xiaoping e Jiang Zemin. Isso elevará Hu ao panteão dos líderes que iniciam seus segundos mandatos senso concomitantemente secretário-geral do PCC, chefe de Estado e comandante-em-chefe das Forças Armadas.

Ao focar esse "desenvolvimento científico", Hu pretende lidar com o crescente abismo entre ricos e pobres. Ele criticou o estado da economia, que a economia se fiaria muito nos investimentos, e não no consumo. Por causa dessa disparidade, o presidente chinês revisou uma das metas mais bem cristalizadas no partido, a de que o PIB deveria ser quadruplicado entre 2000 e 2020, dizendo que o PCC deveria agora focar a quadruplicação do PIB per capita.

Tocando em uma das questões mais delicadas da política externa chinesa, Hu propôs negociações de paz para um acordo formal com Taiwan. No entanto, entre as condições prévias impostas para tal acordo estava a exclusão de qualquer possibilidade de reconhecimento da independência da ilha. O discurso de Hu se diferenciou por não enfatizar o caráter bélico característica de discursos prévios em tal ocasião. Ele afirmou que Pequim prefere negociar em paz um acordo para o conflito de 58 anos com Taiwan.

Taiwan foi inflexível. "O povo de Taiwan pode se colocar junto ao povo chinês a favor da democracia e dos direitos humanos, mas dificilmente pode negociar a paz com um governo que oprime o Tibete, mata seus próprios cidadãos e apóia o governo militar de Mianmar", disse um porta-voz taiwanês.