Título: Cresce expectativa de recessão nos EUA
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 20/11/2007, Internacional, p. A9

O número de economistas que prevêem que os EUA entrarão em recessão quase dobrou nos últimos dois meses, segundo uma pesquisa feita pela National Association Business Economics (Nabe, na sigla em inglês), a principal associação de economistas do país.

De 50 especialistas consultados, nove disseram apostar que as chances de contração nos próximos 12 meses são de 50% ou mais, segundo sondagem feita entre 22 de outubro e 6 de novembro. Na pesquisa anterior, de setembro, apenas 5 de 46 especialistas consultados faziam essa projeção.

Mais de dois terços dos consultados disseram que as chances de recessão são de pelo menos 25%.

Os reflexos provocados pelo maior recuo no mercado de residências nos EUA dos últimos 16 anos, as oscilações nos mercados financeiros e a elevação dos preços de energia levarão a uma desaceleração do crescimento anual da economia neste trimestre, que deve ficar em 1,5%. O resultado, se confirmado, será menor do que o previsto pelos economistas na sondagem anterior.

Ontem, a divulgação de outros dois dados reforçaram o desânimo em relação à economia americana. O primeiro diz respeito à confiança das empresas de construção de casas em novembro. O índice da Associação Nacional de Construtores de Casas ficou 19 pontos (o mesmo de outubro), a menor marca desde o início da apuração em 1985. O segundo é a previsão de que o varejo dos EUA terão a pior temporada de fim de ano desde 2002, segundo cálculos da FedEx, Starbucks e J.C. Penney.

Os efeitos provocados pelo relatório da Nabe se espalharam pelos mercados ontem. As bolsas da Europa e da Ásia caíram influenciadas pelas preocupações com um cenário de recessão americana. Na Rússia, o índice Micex recuou 1,5%, a maior queda em quatro semanas também por causa das preocupações com problemas na economia americana e uma eventual redução na demanda por commodities.

"Embora a economia dos EUA enfrente um risco maior de recessão por causa dos mercado de crédito e imobiliário e dos preços da energia, os membros da Nabe ainda não consideram a recessão como o cenário mais provável", disse, por meio de nota, Ellen Hughes-Cromwick, presidente do grupo e economista-chefe da Ford Motor.

A economia crescerá 2,6% de agora até o quarto trimestre de 2008, segundo a pesquisa. Ainda que esse valor seja menor que a previsão de setembro, supera a projeção de 2,4% para 2007.

De acordo com a mediana da pesquisa da Nabe, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) manterá a taxa de juros de empréstimos interbancários em 4,5% até o fim do próximo anos. Em outubro, o Fed baixou pelo segundo mês a taxa de referência entre bancos e disse que as reduções compensam os riscos de aumento da inflação e de desaceleração no crescimento.

Os economistas consultados pela Nabe prevêem que a economia ganhe força ao longo do próximo ano, puxada por um crescimento estimado de 3% no último trimestre de 2008, segundo mediana calculada a partir das respostas.

"Nosso grupo de projeções considera que haverá um crescimento gradual a partir do fraco ritmo projetado para este trimestre, mesmo que que não haja mais flexibilizações por parte do Fed", disse Hughes-Cromwick.

Mas em relação ao ritmo de construção de casas, os economistas mostram-se mais pessimistas. Segundo a sondagem, número de obras iniciadas cairá no ano que vem para 1,2 milhão de unidades, ante os 1,36 milhão projetados para este ano. Desde o primeiro trimestre de 2006, a crise no mercado residencial tem comprometido o crescimento da economia.

Os entrevistados pela pesquisa também reduziram estimativas sobre emprego e lucros. Segundo eles, o índice de desemprego ficará em média em 4,9% em 2008 e os lucro após pagamentos de impostos crescerão 4,7%. Em setembro, as previsões eram de 4,8% e de 5,6% respectivamente.