Título: EUA deverão ajudar a reduzir emissão de gases poluentes, espera vice do IPCC
Autor: Grabois, Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 26/10/2007, Brasil, p. A3

vice-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC, na sigla em inglês), o cingalês Mohan Munasinghe, acredita que a posição dos Estados Unidos de não colaborar para a redução das emissões de gases que contribuem para o aquecimento global deve mudar no próximo acordo, a entrar em vigor a partir de 2013. Até 2012 vale o Protocolo de Kyoto, que os Estados Unidos, maior emissor de gases poluentes do mundo, não assinaram.

Em dezembro deste ano, os 180 países signatários das Nações Unidas Sobre Mudança do Clima se reúnem em Bali, na Indonésia, para iniciar as discussões das políticas para reduzir a emissão do novo acordo. "Talvez haja mudanças no governo dos Estados Unidos, então acho que teremos progresso. Haverá mais pressões sobre as políticas dos governos", disse Munasingue, que esteve no Brasil para discutir as conclusões do último relatório do IPCC sobre mudanças climáticas com representantes da iniciativa privada e das diferentes esferas de governo do Brasil.

"Não sou pessimista sobre os Estados Unidos ou outro país em particular porque os governos mudam e a população está cada vez mais favorável a ações contra as mudanças climáticas", disse.

Para ele, a posição americana de colocar barreiras ao Protocolo de Kyoto faz parte do passado, inclusive porque os Estados e cidades americanas pressionam para a adesão. Outro fato, diz ele, é o aumento do nível de importância dado pelas empresas para o tema da responsabilidade social e ambiental. "Os grupos empresariais estão preocupados com questões ambientais e sociais e não apenas em gerar lucros", completou.

Para Munasingue, Kyoto foi desapontador. Por isso, espera regras mais rígidas e uma implementação apropriada do novo acordo. A previsão do IPCC é de que nos próximos 30 anos, a emissão de gases irá crescer de 50% a 100%. O caminho, sugere ele, é não só mostrar a necessidade de atuar através de políticas de governo, mas principalmente por meio de mudanças nos processos produtivos das empresas.

Ele defendeu ainda que a negociação do novo protocolo seja feita de forma globalizada e é contra a atuação de um país em separado ou em bloco. "Há países ou grupos que podem ter mais influência que outros", disse.

Munasinghe defendeu o estabelecimento de metas para redução e mitigação de emissão de gases pelos países ricos e pelos em desenvolvimento.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse que a posição brasileira sobre a fixação de metas na reunião de Bali está em discussão interna no governo, mas demonstrou que o compromisso em diminuir o desmatamento é suficiente. Ela citou que o desmatamento na Amazônia caiu 30% em 2007 para 9,6 mil quilômetros quadrados, segundo estimativa do governo. Nos últimos três anos, a queda do desmatamento acumulou 65%, o equivalente a 500 mil toneladas. "Isso representa 20% do que teria que ser reduzido pelos países ricos no mesmo período", disse a ministra.

"Vamos defender que tenhamos a continuidade do Protocolo de Kyoto, que aumentem as metas dos países ricos. Os países em desenvolvimento devem assumir o compromisso de reduzir o desmatamento", afirmou. O Brasil, disse Marina Silva, ainda tem a vantagem de ter 45% de sua matriz energética baseada em fontes renováveis, enquanto os países ricos têm uma média de apenas 6%.

A ministra, contudo, disse que 2008 será um ano atípico, pois concentrará ano eleitoral, seca e reaquecimento do preço das commodities. "Estamos trabalhando para que em 2008 não aconteça um retrocesso", afirmou.