Título: Inflação e novas vagas afetam renda média
Autor: Maia, Samantha
Fonte: Valor Econômico, 26/10/2007, Brasil, p. A3

Os dados da Pesquisa Mensal de Emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o mês de setembro mostram que a inflação mais forte nesse segundo semestre não serviu para frear o crescimento do poder de compra do empregado do setor privado, mas ajudou a enfraquecer seu ganho em relação ao acumulado no ano. Em setembro, o rendimento médio real do trabalhador do setor privado (com carteira de trabalho) foi de R$ 1.084,50, valor 1,3% inferior ao recebido em setembro do ano passado. No acumulado dos últimos 12 meses, contudo, esse rendimento ainda tem um ganho de 3,9%.

Puxada principalmente pelos preços dos alimentos, a inflação de 0,59% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) e de 0,47% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em agosto foi um dos fatores que influenciaram essa evolução, segundo o economista Sérgio Vale, economista da MB Associados. "A queda relativa a setembro de 2006 não deve afetar o consumo, ela apenas reflete a inflação e os efeitos da valorização mais forte do salário mínimo no ano passado", diz Vale.

No total da população ocupada, o aumento do rendimento real foi de 2,5% na comparação entre setembro de 2007 e 2006, alta influenciada pelos ganhos do setor público e dos trabalhadores por conta própria. Segundo Fábio Romão, economista da LCA Consultores, outro fator que pode ter levado à queda de 1,3% do rendimento médio entre os empregados com carteira no setor privado é a continuidade do aumento da formalização, movimento que tem incorporado ao grupo profissionais com salários mais baixos.

A pesquisa do IBGE mostra avanço de 6,9% no crescimento das contratações com carteira assinada na comparação com setembro do ano passado. "Mesmo os salários mais baixos não devem refletir negativamente no consumo, pois a contratação aumenta a confiança nos gastos", diz. E como o total de ocupados aumenta, a massa salarial cresce. Em agosto, ela foi 5,4% maior do que em agosto de 2006.

Segundo Vale, a queda de 0,5% da população desocupada em setembro em relação a agosto - que levou a taxa de desemprego para 9% da população economicamente ativa, menor índice da série histórica iniciada pelo IBGE em 2002 - é um movimento consistente porque a contratação continua forte em todos os segmentos da economia. "Serviços e comércios continuam sendo puxados pelo aumento da renda e do crédito e a indústria mantém recuperação com base no consumo interno", diz.

O grupo em que comércio está inserido apresentou aumento de 3,2% das pessoas ocupadas em relação a setembro de 2006. Construção aparece como outro grupo forte nas contratações, com alta de 5,4% das pessoas ocupadas no mesmo período.

Os dados do mercado de trabalho no acumulado de janeiro a setembro - a taxa de desocupação foi de 9,7%, enquanto o rendimento médio no ano atingiu R$ 1.123,66 - mostram que 2007 pode ser o melhor ano da série histórica. Para Cimar Pereira, coordenador da Pesquisa Mensal de Emprego, a taxa de desocupação, só não fechará o ano em um dígito caso aconteça uma "grande reviravolta".

O desempenho do mercado de trabalho de São Paulo foi apontado como o grande responsável pelo crescimento da população ocupada e pela redução da taxa de desocupação em setembro. De acordo com o IBGE, das 201 mil pessoas que conseguiram emprego entre agosto e setembro, 144 mil estavam no Estado mais rico do país.

Segundo Pereira, por ser o principal motor da economia, o bom desempenho de São Paulo permite projetar que no futuro as outras cinco regiões metropolitanas analisadas pelo IBGE podem se beneficiar do avanço do mercado de trabalho paulista. "São Paulo é o centro nervoso da economia e é lá que as coisas começam a refletir primeiro", explicou. "Há um histórico de reflexo em outras áreas. As outras regiões vão avançar na sombra de São Paulo." (Com Valor Online)