Título: Bancos médios freiam captações
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Fonte: Valor Econômico, 20/11/2007, Finanças, p. C1

Depois do Banco Mercantil do Brasil, que levantou US$ 175 milhões em outubro no mercado internacional, muitos outros bancos médios se animaram novamente a captar no exterior. Mas, os que foram sondar o mercado em novembro levaram uma ducha de água fria e resolver pôr o pé no freio de suas captações, pelo menos por enquanto.

A piora no mercado de crédito externo trouxe de volta uma forte aversão ao risco que começa a afetar de forma crescente os mercados emergentes e o preço das ações em todo o mundo. "O pessimismo aumentou e cada vez mais analistas colocam a probabilidade de recessão nos Estados Unidos de 30% a 35%, o que ainda não está embutido nos preços do mercado", afirma Octavio de Barros, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco. "Há muita ansiedade para ver se o Fed (banco central americano) vai cortar ou não os juros na reunião do dia 11 de dezembro e por isso a volatilidade vai continuar", diz ele.

Depois de ter chegado a 154,5 pontos básicos no dia 16 de agosto, ápice da crise de liquidez internacional, o risco-Brasil medido pelo swap de crédito de cinco anos despencou para 73,8 pontos básicos no dia 11 de outubro. Foi reflexo da maior calmaria que seguiu o corte de juros básicos americanos dos fed funds em 0,75 ponto percentual em duas reuniões consecutivas do Fed desde 18 de setembro.

Mas, os cortes tornaram os investimentos em dólar pouco atrativos em relação a outras moedas de juros mais altos, como o real, e o dólar começou a derreter, inclusive na comparação com o euro, provocando uma forte alta nos preços dos commodities em dólar e no petróleo. O mercado passou a se preocupar com a importação da inflação nos Estados Unidos e passou a perceber que o Fed está em uma encruzilhada.

Mais bancos passaram a anunciar perdas com as hipotecas de alto risco americanas e ativos de renda fixa. Os preços dos produtos estruturados, como as carteiras de crédito chamadas de Collateralised Debt Obligations (CDOs), passaram a despencar. O Fed teve de injetar US$ 47 bilhões no mercado monetário em um dia no dia 15, o maior volume desde que os atentados terroristas à Nova York de 2001 fecharam o mercado em setembro. O risco-Brasil ganhou força e fechou ontem a 109 pontos.

Os bancos médios brasileiros, a maior parte capitalizado por meio de emissões públicas iniciais de ação (IPOs) próprias, da Bolsa de Valores de São Paulo ou da Bolsa de Mercadorias & Futuros, estão preferindo esperar.

Segundo diretor de banco que preferiu não se identificar, os bancos médios se dispõe a pagar rendimento de 300 a 400 pontos básicos acima do título do Tesouro americano de vencimento em três anos por seus títulos, mas os investidores querem comprar papéis com prêmio de risco de 500 pontos básicos ou mais.

Por isso, o Prosper, o Cruzeiro do Sul, o Sofisa, o Indusval e o Schahin resolveram esperar. "Estamos procurando uma janela de oportunidade no mercado internacional, mas ela ainda não se abriu", disse Frederico de Souza Lima, diretor da área de produtos estruturados do Schahin.

Na primeira semana de novembro, a iniciante Unialco já teve de suspender emissão de eurobônus de US$ 150 milhões por causa da piora no mercado internacional. Segundo diretor de banco de investimento, só os nomes mais conhecidos serão aceitos pelos investidores, que têm liquidez, mas estão fugindo do risco cada vez mais.

Barros acredita que o Brasil conseguirá descolar da crise nos Estados Unidos se o crescimento econômico americano não ficar abaixo de 1,5% no ano que vem. Se a redução no ritmo de expansão for maior, haverá impacto, embora esse impacto possa ser parcial. As formas de contágio poderão ser por meio da liquidez - os bancos americanos podem ficar com cada vez menos capital disponível para emprestar, diante das perdas crescente com o mercado de renda fixa, gerando um forte aperto no crédito internacional. Há também o contágio por meio do crescimento menor na China que afete os preços dos commodities. "Por enquanto, os dois contágios estão desativados, mas os riscos crescem e a volatilidade se amplia", diz.