Título: Conselhos de ouro
Autor: Monteiro , Luciana
Fonte: Valor Econômico, 20/11/2007, EU & Investimentos, p. D1

Antes, investidores modestos. Hoje, milionários. A valorização de 473% do Ibovespa do início de 2003 até o dia 16 fez com que muitos investidores entrassem para o seleto clube dos abonados em menos de cinco anos. Quem tivesse, por exemplo, R$ 250 mil aplicados na bolsa naquela época, hoje teria quase R$ 1,5 milhão. Além disso, as aberturas de capital têm contribuído para aumentar o número de endinheirados, já que muitos empresários que antes tinham uma parte do patrimônio engessado, embolsaram uma fortuna com a venda de participações. No mesmo ritmo em que cresce o número de milionários, se multiplicam e ganham força também os escritórios de "advisory" ou "asset allocators", instituições independentes que oferecem aconselhamento financeiro.

Esse tipo de serviço vem ganhando uma fatia de mercado que os grandes bancos de varejo ainda dão pouco atenção. Embora a quantia de R$ 1 milhão não possa ser considerada inexpressiva, para os privates banks esse volume ainda é pequeno demais para compensar os gastos com um tratamento mais exclusivo. Tanto que muitos bancos que exigiam R$ 1 milhão em aplicações para que o cliente fosse classificado como private elevaram o valor para R$ 3 milhões ou mais.

As grandes instituições bancárias estão mais interessadas em fisgar e manter os clientes maiores, enquanto os menores ficam largados nas estruturas de varejo ou, no máximo, no varejo de alta renda, diz Thiago de Castro. sócio da TAG Investimentos. O problema é que esse aplicador - que tem sido chamado no mercado como pré-private - tem um perfil mais sofisticado, quer receber mais atenção de seu gerente e tem muitas vezes necessidades específicas, que não são tratadas num atendimento em agências. A TAG, por exemplo, conta com uma área voltada somente para os ativos imobiliários dos clientes, já que boa parte dos endinheirados gosta de manter parte do patrimônio em imóveis. "O cliente pode desimobilizar esses recursos e, mesmo assim, manter parte do patrimônio ligado ao setor imobiliário", diz.

As aberturas de capital têm feito com que muitos investidores pessoa física, que antes tinham o dinheiro aplicado no próprio negócio, busquem orientação financeira para seus recursos, diz Francisco Costa, sócio da Personal Investimentos. Além disso, muita gente ficou milionária com a bolsa, seja via fundo de ação ou com a escolha dos papéis por conta própria, lembra. "Mas a maior parte dos clientes é formada pelos orfãos da renda fixa, ou seja, gente que estava acostumada a ganhar muito dinheiro com juros e percebeu que, agora, precisa se mexer para ter o mesmo nível de retorno", diz.

Além dos donos das empresas que abriram capital, ganharam muito dinheiro também alguns executivos que ocupam cargos-chaves dessas companhias, como diretores e superintendentes, afirma Rogerio Betti, sócio da Beta Advisors. Não por acaso, diz ele, é cada vez maior o número de executivos na faixa dos 35 anos, que receberam gordos bônus, no rol de milionários. Também muita gente que era cliente médio dos bancos ganhou dinheiro com a bolsa e, apesar de ter um perfil de investimento mais sofisticado, não tem acesso a uma série de produtos, lembra Betti.

Apesar de muitos terem atingido o primeiro milhão com a valorização da bolsa, esse efeito ainda é muito pequeno na geração de riqueza do país como um todo, visto que a aplicação em ações ainda é pequena no Brasil, lembra George Wachsmann, sócio da Bawn Investments. "Não é como nos Estados Unidos, por exemplo, onde mais de 50% da poupança estão em ações e, portanto, uma alta da bolsa traz um efeito riqueza muito grande", diz. Ele ressalta que as instituições que atuam nessa área são muito diferentes entre si e o investidor precisa estar atento a essas diversidades. Alguns escritórios atuam somente como distribuidores de produtos, oferecendo fundos de diversas gestoras. Outros trabalham mais com o conceito de aconselhamento financeiro, olhando para o patrimônio todo do cliente.

A independência na orientação do melhor tipo de investimento é outro fator que tem de ser levado em conta pelos clientes. "Como essas instituições não contam com produtos próprios, o investidor sente que não há conflito de interesse, como acontece nos bancos", lembra Costa, da Personal. Em geral, o dinheiro do cliente também não passa pelo consultor, que apenas orienta o investidor a aplicar neste ou naquele fundo.

Mas o investidor precisa ficar atento à forma como esses escritórios cobram pelo serviço. Alguns estabelecem um preço fixo, ou um percentual da carteira, por exemplo, pago mensalmente. A maioria, no entanto, não cobra do cliente, pois recebe uma percentual da taxa de administração dos fundos que indica, o chamado "rebate". O investidor, portanto, deve ficar atento para saber se a instituição está oferecendo o melhor produto para seu perfil ou simplesmente recomendando aquele que lhe dá o maior rebate.

"Quando se contrata qualquer tipo de serviço, é preciso ficar atento a possíveis conflitos de interesse", ressalta Wachsmann, da Bawn. Ele faz uma comparação com um decorador, que pode não cobrar por um projeto e encaminhar o cliente para uma loja em que recebe um percentual sobre compras. Já outro pode cobrar pelo projeto e levar o cliente a lojas onde a relação custo-benefício seja melhor. "É uma situação que merece muita atenção", diz.

Num setor relativamente novo no Brasil, ainda não há dados sobre o número de escritórios de "advisory" ou "asset allocators". O setor, inclusive, não conta ainda com uma regulamentação clara. Mas é possível conferir no site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) se o profissional ou a empresa já tiveram problemas.