Título: Perdas com crimes crescem 40% no mundo
Autor: Campassi, Roberta
Fonte: Valor Econômico, 16/10/2007, Empresas, p. B3

Grandes companhias no mundo todo foram obrigadas a enrijecer seus controles internos ao longo dos últimos anos para coibir crimes corporativos. Todo esse esforço, porém, ainda não alterou significativamente a incidência de fraudes nas empresas, de acordo com uma pesquisa mundial elaborada pela firma de auditoria PricewaterhouseCoopers (PwC). Ao contrário: os prejuízos cresceram 40% nos últimos dois anos.

No mundo todo, 43% das 5.428 empresas consultadas detectaram a ocorrência de crimes corporativos entre 2006 e 2007, contra 45% no biênio 2004-2005. Apesar da pequena queda, as porcentagens são praticamente iguais àquelas registradas há oito anos, quando a pesquisa bienal foi iniciada, informou a PwC. O levantamento é feito com base no depoimento dos altos executivos das companhias.

Além disso, o volume de perdas geradas pelas fraudes subiu de US$ 1,7 milhão por empresa, em 2004 e 2005, para US$ 2,4 milhões em 2006 e 2007. Ao todo, os crimes econômicos citados - fraudes contábeis, apropriação de ativos (furtos, por exemplo) e corrupção, entre outros - geraram prejuízos de US$ 4,2 bilhões para as companhias. Houve, ainda, perdas indiretas relacionadas ao valor das ações, à credibilidade da marca e ao relacionamento com os órgãos reguladores.

O Brasil foi incluído na pesquisa deste ano com 76 empresas, sendo 45 de grande porte. Do total, 46%, ou 35, detectaram crimes econômicos. Em 2005, a porcentagem era de 45%. O valor das perdas por empresa brasileira não foi divulgado pela PwC. No entanto, o Brasil faz parte do grupo de sete países emergentes incluídos na pesquisa (Brasil, China, Rússia, Turquia, México, Indonésia e Índia), cujas empresas perderam, em média, US$ 5,1 milhões com crimes corporativos. É quase o dobro da perda média global.

O fato de os números não apresentarem melhora surpreende dentro de um contexto em que regras e controles sobre a contabilidade e os procedimentos administrativos estão mais rígidos. O cerco às práticas ilegais vem se fechando desde a promulgação da lei Sarbanes-Oxley, nos Estados Unidos, em 2002. Nos últimos anos, empresas listadas nas bolsas americanas ficaram obrigadas a atestar a qualidade de todos os seus controles internos e a divulgar volumes maiores de dados.

Luís Madasi, sócio da PwC na área de investigação, avalia que a pesquisa sobre crimes econômicos é o resultado de um paradoxo: quanto mais rigidez nos controles e na fiscalização, mais crimes são encontrados. "Em outras palavras, quem procura acha", diz. "No curto prazo, a incidência de crimes pode até aumentar, mas tende a cair no médio e longo prazo." De todas as companhias pesquisadas no mundo, 33% estão listadas em bolsas de valores e diretamente sujeitas às regras mais estritas. É esse o caso de 45% das empresas estudadas no Brasil.

Para Steven Skalak, chefe da divisão de investigações da PwC internacional, controles mais rígidos não bastam para combater as fraudes. "A solução está em estabelecer uma cultura que apóia os controles e às denúncias com diretrizes éticas claras", afirma. "As empresas precisam estimular a lealdade e aplicar punições a quem comete fraude."

Madasi, no Brasil, avalia que as empresas brasileiras, com destaque para as de grande porte, estão cada vez mais preocupadas em adotar medidas para coibir crimes. As ações incluem o reforço das auditorias internas, a criação de ouvidorias e canais de denúncia e a elaboração de códigos de ética. O levantamento da PwC mostra que, no Brasil, 43% dos crimes são detectados por investigação interna, sistemas eletrônicos ou pela segurança corporativa, enquanto 53% são descobertos por meio de dicas e canais de denúncia. Em relação à punição, 61% dos crimes nas empresas brasileiras terminaram em demissão dos envolvidos; 40% geraram ações judiciais; 22% geraram reprimendas e, em 6% das situações, nada foi feito. No mundo, demissões ocorreram em 40% dos casos, processos foram abertos em 50% e, em 16% deles, nada foi feito.