Título: Maior rigor na China desacelera exportações
Autor: Tschang, Chi-Chu
Fonte: Valor Econômico, 16/10/2007, Empresas, p. B4

À medida que Pequim endurece a fiscalização dos exportadores de brinquedos e exige mais testes sobre a segurança dos produtos, muitos pequenos produtores começam a sentir apertos financeiros. "O aumento da supervisão criou um verdadeiro caos para alguns fabricantes na China", afirma Ron Rycek, vice-presidente de vendas de brinquedos da Hilco Corp., que vende jogos para Amazon.com.

A temporada mais agitada para as fábricas de brinquedos do país ocorre no fim do verão e início do outono. Em agosto, em meados do verão na China, contudo, o governo ordenou mais inspeções. No passado, os exportadores conseguiam embarcar suas mercadorias assim que saíam das linhas de produção.

Agora, são obrigadas a manter os brinquedos em depósitos, enquanto as autoridades testam questões de segurança em amostras dos lotes, antes de certifica-los para exportação. "Nossos produtos ficaram presos entre 15 e 20 dias antes de serem liberados", reclama He Shiming, executivo-chefe da fabricante Yunhe Lixin Arts & Craft Factory, que produz xilofones de madeira e carros de brinquedo.

Alguns fabricantes de menor porte, especialmente os de brinquedos de madeira, estão sentindo o golpe. Pela política antiga, os brinquedos de madeira não precisavam de certificado de exportação. Isso mudou depois da descoberta de tinta a base de chumbo em uma remessa de brinquedos baseados no personagem infantil "Thomas the Tank Engine".

A mudança foi devastadora para a Zhejiang Yunhe Xinfeng Art & Craft Factory. Em 2006, a empresa vendeu US$ 400 mil e esperava sair-se ainda melhor neste ano, mas os clientes agora temem que não consiga o certificado de exportação. Como resultado, não recebe encomendas desde o verão. Desde então, a empresa demitiu cerca de 90 dos 100 funcionários. "Interrompemos a produção até que tenhamos o certificado", diz o gerente Chen Shaoping.

Apesar dos problemas, a maioria dos brinquedos planejados para a temporada de festas deste ano chegará com tempo de sobra para ser colocada debaixo da árvore de Natal. A nova política isenta as encomendas feitas antes de 10 de agosto da exigência dos certificados. "Em agosto, provavelmente 80% dos brinquedos para o Natal já estava a caminho, nos navios", diz Peter Fishel, que comandou uma empresa de brinquedos em Hong Kong. Ainda assim, várias empresas calculam que os brinquedos encomendados agora só chegarão aos portos nos EUA cerca de cinco ou seis meses depois do pedido, em comparação aos três a quatro meses que demoravam antes.

Mesmo algumas empresas que conseguiram continuar operacionais sentiram o aperto. Os fabricantes, normalmente, não recebem o pagamento até que os produtos sejam enviados. Para pagar materiais, salários e outras despesas até que os clientes transfiram os fundos, o usual é que peçam empréstimos. Como os brinquedos estão parados nos armazéns, enquanto as amostras são enviadas aos laboratórios, os produtores não podem pagar esses créditos com a rapidez que esperavam. "A fiscalização está segurando nosso capital e nosso espaço nos depósitos", afirma Leona Lam, executiva-chefe da Leconcepts Holdings, de Hong Kong, que fornece peças para fábricas de brinquedos de plásticos vendidos por empresas como Mattel.

Kwok Nam Po, diretor-gerente da Herald Metal & Plastic Works, que produz os bonecos Star Wars para a Hasbro, afirma que sua empresa depara-se com dificuldade de crédito em função dos atrasos. "Há muita pressão", diz. O aumento na fiscalização também é cara. A AMWH.K., que produz itens para a Mattel, viu seus custos com os testes saltarem 10% e agora constrói um laboratório próprio para atender os novos padrões da Mattel. (Tradução de Sabino Ahumada)