Título: OCDE diz que país deve elevar produtividade
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 20/11/2007, Brasil, p. A4

O Brasil precisa aumentar a produtividade para compensar a persistente valorização do real e estar preparado para a desaceleração da economia global, alertou ontem o diretor-geral da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Angel Gurria.

Ao mesmo tempo, Dominique Strauss-Kahn, novo chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), disse que a entidade "se interroga" sobre valorização do real em meio aos desequilíbrios nos mercados de câmbio internacionais, ao lado da alta do euro e do dólar canadense. Por sua vez, o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, defendeu como os outros o ajuste nas contas externas dos EUA, argumentando que o acúmulo de enormes déficits pode contribuir para mais protecionismo no país.

Enquanto as três autoridades se manifestavam em Genebra, a Câmara de Comércio Internacional previa deterioração nas perspectivas da economia global e mais queda do dólar americano ao longo dos próximos seis meses.

Em entrevista na Organização Mundial do Comércio (OMC), o diretor-geral da OCDE atribuiu a alta da moeda brasileira "à história clássica de sucesso do país", mas alertou que "tudo pode mudar" no cenário internacional. Ele comparou a realidade do Brasil à da Europa com o euro, para insistir que o país tem se beneficiado com a alta de preço das matérias-primas, mas que as manufaturas precisam ter mais valor. "Para ter mais produtividade, é preciso ter mais valor agregado", disse.

Gurria citou o exemplo da Alemanha, maior exportador mundial mesmo com o euro valorizado, enquanto a França - vizinha e com o mesmo euro - não aumenta as exportações. Ou seja, o problema não é a moeda, mas "a produtividade, a rentabilidade dos investimentos, a pesquisa - e é a mesma coisa no Brasil."

Para o diretor da OCDE, "o Brasil está muito forte no momento", mas precisa redobrar as atenções com o cenário internacional. Considerou normal a desvalorização do dólar, no cenário de ajuste das contas externas. Mas notou que, se o Brasil "está jogando as regras do jogo", outros não estão - a clara referencia à resistência da China em valorizar a moeda. "Fica muito difícil fazer hoje os ajustes com sucesso se (os asiáticos) não têm a flexibilidade, a flutuação livre", disse.

As projeções da OCDE para a economia mundial são positivas, com desaceleração já prevista. Mas Gurria disse que a próxima projeção deve insistir nos riscos de uma queda maior do que a prevista. Além do preço do petróleo e da crise de crédito no sistema financeiro, ele aponta a crise imobiliária nos EUA. Também aponta mais pressão inflacionária com a alta de preços dos alimentos, num contexto que a classe média aumenta na China e Índia. "Eles comem agora cereais três vezes ao dia, enquanto tem o biocombustível, é alimento indo para o tanque do carro ao invés de ir para a boca."

No mercado financeiro, vê mais problema de perda de confiança, "uma espécie de vírus que não se sabe qual o impacto" sobre os grandes bancos internacionais, e que torna a situação "mais complicada" para o Brasil, mesmo se o país "está mais forte".

Em relação à adesão à OCDE, Gurria afirmou que tudo depende de Brasília. "O Brasil é que deve fixar seu tempo, seu ritmo, mas é um dos países com condições mais apropriadas (para aderir)." E avisou que o Brasil não precisa entrar na Opep, o cartel do petróleo. "O México entrou na OCDE, mas até hoje é só observador na Opep."