Título: Cafeicultores insistem na renegociação de dívidas
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 01/02/2005, Agronegócios, p. B12

Os cafeicultores apostam no aumento do fluxo de pagamento de suas dívidas com o Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé) para convencer o governo a permitir nova repactuação de R$ 535 milhões em débitos acumulados de 2002 a 2004. No ano passado, o Funcafé teve retorno financeiro de R$ 773,8 milhões, maior volume desde o início da crise do setor, em 1997. Segundo o Ministério da Agricultura, os produtores quitaram R$ 615,7 milhões do principal e R$ 69,8 milhões de encargos financeiros. O fundo recebeu, também, a injeção de R$ 88,3 milhões com a venda de 880 mil sacas dos estoques de café. Em 2003, os produtores pagaram R$ 220,3 milhões ao Funcafé - R$ 193,5 milhões do principal e R$ 26,8 milhões em encargos. "Na hora que temos recursos, nós pagamos. Até porque o Funcafé é um patrimônio nosso", afirmou João Roberto Puliti, presidente da Comissão Nacional do Café da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Os produtores já arrebanharam apoio político para a rolagem. Na semana passada, o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), e o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, defenderam o pedido em conversa com o presidente Lula e com os ministros Antonio Palocci (Fazenda) e José Dirceu (Casa Civil). Os governadores do Espírito Santo, Paulo Hartung (PPS), e da Bahia, Paulo Souto (PFL), também querem a rolagem. O Ministério da Fazenda, porém, é abertamente contra a proposta. Resiste à pressão por considerá-la sem fundamento, já que os preços do café estão em alta no mercado internacional. "Toda vez que esse preço reage, o café já saiu das nossas mãos", defendeu Puliti. Na última reunião do Conselho Deliberativo da Política do Café (CDPC), em meados de janeiro, os produtores conseguiram aprovar a proposta de prorrogação dos R$ 535 milhões em dívidas de custeio e colheita, com vencimento entre novembro de 2004 e julho deste ano. Desse total, R$ 145 milhões, que venceram ontem, já haviam sido rolados por 90 dias. "As autoridades monetárias são muito frias, mas se não prorrogar, não haverá pagamento", disse Puliti, dono de 200 mil pés de café em 70 hectares de São Gonçalo do Sapucaí (MG), na região de Varginha. Pela proposta, o pagamento da dívida seria rolada para os próximos meses de maio (20%), julho (40%) e setembro (40%). O Ministério da Agricultura defende a prorrogação por três motivos: é início da colheita, ajudaria a reduzir a pressão sobre a comercialização e financiaria a estocagem do produto para vender na entressafra. Além disso, sustenta a Agricultura, os recursos voltariam ao caixa do Funcafé ainda no atual exercício e refinanciariam a próxima safra 2005/2006. "Temos que usar o dinheiro do fundo para estabilizar o setor em safras maiores", disse João Roberto Puliti. Segundo ele, isso evitaria especulações e auxiliaria a financiar o marketing e as pesquisas de ponta da Embrapa.