Título: EUA ainda têm vigor, diz Rato
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 16/10/2007, Finanças, p. C8

O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional, Rodrigo de Rato, disse ontem que a economia americana ainda tem vigor suficiente para evitar a recessão nos próximos meses, apesar da forte desaceleração provocada pela crise no setor imobiliário e pelo aperto de crédito que tumultua mercados financeiros desde agosto.

"Os Estados Unidos vão absorver o impacto da crise e sofrer com a desaceleração, mas ainda há muita força na economia", disse Rato durante café da manhã com jornalistas, apontando como sinais positivos a saúde financeira exibida pela maioria das empresas e a situação do mercado de trabalho, onde os salários estão em alta e a taxa de desemprego se mantém baixa.

Mesmo assim, Rato voltou a advertir para o agravamento dos riscos que ameaçam a economia mundial, e chamou atenção para o perigo de que as condições financeiras mais restritivas encontradas atualmente afetem a capacidade que a economia dos EUA tem de continuar financiando o enorme déficit acumulado em suas contas externas.

"Não há dúvida de que, se os riscos financeiros aumentaram, o financiamento dos desequilíbrios globais pode, e eu sublinho, pode ficar mais difícil", afirmou Rato. Ministros das finanças e dirigentes de bancos centrais do mundo inteiro se encontrarão em Washington nesta semana para as reuniões anuais do Banco Mundial e do Fundo.

Se a desvalorização que o dólar começou a sofrer em relação a outras moedas nas últimas semanas prosseguir por mais tempo, ela contribuirá para reduzir o déficit externo dos EUA, hoje equivalente a 6% do Produto Interno Bruto (PIB). O dólar barato inibe o apetite dos consumidores americanos por produtos importados e estimula a atividade nas indústrias exportadoras.

Mas Rato acha que o dólar precisa se desvalorizar num ritmo mais acelerado para fazer alguma diferença. Segundo ele, os modelos matemáticos adotados pelo FMI sugerem que o dólar ainda está muito longe do que seria seu ponto de equilíbrio. "Ainda vemos espaço para uma desvalorização maior no médio prazo e os mercados futuros indicam a mesma coisa", disse.

Nas últimas semanas, a desvalorização do dólar começou a despertar preocupações na Europa. Um desalinhamento entre o dólar e o euro poderia tornar os produtos americanos mais competitivos que os europeus no mercado internacional. Segundo Rato, os modelos do FMI sugerem que o euro está próximo do seu ponto de equilíbrio.

O entusiasmo dos consumidores americanos foi nos últimos anos a principal alavanca do prolongado ciclo de expansão que a economia mundial atravessa, mas os EUA só conseguiram conviver com o déficit em suas contas externas porque outros países, como o Japão, a China e a Arábia Saudita, financiaram o desajuste, comprando dólares e acumulando reservas.

O medo do Fundo é que esses países deixem de financiar o déficit dos EUA, afastando-se de ações e títulos americanos e buscando outros investimentos para diversificar a aplicação das reservas. Esse movimento teria impacto especialmente negativo sobre a economia mundial num momento como o atual, em que a inadimplência no mercado imobiliário americano gerou uma contração do crédito e um aumento da incerteza nos mercados financeiros.