Título: PSDB propõe correção de rota para juros e câmbio
Autor: Costa , Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 21/11/2007, Política, p. A7

Fernando Henrique: inspirador do alerta contra terceiro mandato presidencial

Cerca de 1,2 mil tucanos são esperados amanhã, em Brasília, para o congresso no qual o PSDB espera marcar o início da virada que o levará de volta ao Palácio do Planalto, em 2010. Ontem, o deputado José Aníbal (SP) divulgou o texto final do "Manifesto PSDB 2007", que traça as linhas mestras de um futuro governo tucano. O partido propõe o desmonte "da armadilha fiscal e monetária" em que estaria aprisionado o atual governo.

"Nuvens se acumulam no horizonte enquanto a economia parece voar em céu de brigadeiro, ainda que a baixa altitude", diz o manifesto. "O PSDB, mais uma vez, deve estar preparado para a difícil tarefa de corrigir o curso da economia (...)", não soube aproveitar uma conjuntura internacional favorável, "como não se via há uma século", e preferiu "hipotecar o futuro à comodidade do presente" - os juros, afirma, foram mantidos "desnecessariamente elevados" e o câmbio "excepcionalmente avaliado".

O Congresso e a convenção do PSDB podem terminar com uma grande manifestação de repúdio à idéia de um terceiro mandato para Luiz Inácio Lula da Silva, na opinião do atual presidente da sigla, Tasso Jereissati (CE). No manifesto, o assunto merece algumas linhas. "Ambições futuras podem vir a golpear a democracia, como ocorre em países vizinhos onde o continuísmo de pseudo-salvadores da pátria desvirtua as regras da verdadeira representação e participação popular - estaremos atentos para não deixar que isso aconteça".

O texto tucano foi escrito a varias mãos, sendo formatado por Eduardo Graeff, um dos responsáveis pelos discursos de Fernando Henrique Cardoso (1994-2002) na Presidência da República. FHC foi um de seus principais inspiradores, mas há também sugestões dos governadores José Serra, de São Paulo, e Aécio Neves, de Minas Gerais, os dois potenciais candidatos do partido a presidente.

O trecho que trata do desmonte da política monetária traduz o que José Serra defende, mas o documento acabou aprovado por todos. Tasso acha que foi dada pouca ênfase ao desenvolvimento regional e à carga tributária: "A carga só diminui com a diminuição dos gastos públicos que, por sua vez, só diminuirão com a diminuição da carga", disse Tasso.

Operado a varias mãos, o manifesto tucano não foi difícil de compor. O manifesto é uma espécie de base para um programa de governo a ser apresentado na campanha de 2010. FHC foi um elemento-chave, mas em pelo menos uma ocasião teve de recuar apressadamente de uma sugestão. Quando tratavam do terceiro mandato de Lula, tucanos escreveram: "Não admitiremos retrocessos". Fernando Henrique colocou uma vírgula e acrescentou: "inaceitáveis". Alguém questionou se havia retrocesso aceitável. FHC aceitou a crítica de bom humor e o texto ficou como antes. Mas até ontem à noite ainda havia disputa por cargos, especialmente para a presidência do Instituto Teotônio Vilela, reivindicado por Paulo Renato (SP) e Luiz Paulo Vellozo Lucas (ES). O presidente do PSDB será o senador Sérgio Guerra (PE).

O PSDB faz um balanço da herança que deixou após oito anos no poder que permitiu o assentamento das bases para a estabilização da moeda. Entre as medidas, cita a privatização ou a transformação de bancos estaduais em agências de fomento, o reescalonamento das dívidas de Estados e municípios, a autonomia "de fato" do Banco Central e a Lei de Responsabilidade Fiscal. Ao contrário do que ocorreu na eleição de 2006, os tucanos enfim assumem as privatizações.

"Do lado real da economia" - diz o documento -, "a flexibilização dos monopólios e a privatização de empresas estatais possibilitaram a retomada em grande escala dos investimentos em setores estratégicos como telecomunicações, energia elétrica, petróleo, transportes, mineração e siderurgia".

Na questão da política monetária, o PSDB acusa o governo Lula , entre outras coisas, de deixar "os gastos correntes do governo federal correr soltos, engolindo o aumento da carga tributária e a margem de recursos públicos para investimento"; transferir "para Estados, municípios e empresas estatais o esforço de geração de superávits primários" e de "submeter as agências reguladoras a uma mistura de estatismo, empreguismo e incompetência que afugentou os investimentos privados em infra-estrutura".

"Prepara desse modo a herança - esta, sim, maldita - com a qual o Brasil terá de se haver nos próximos anos". Para o PSDB, o PT está dilapidando a herança deixada pelos tucanos.

O PSDB diz que não é um partido " privatista nem estatista", mas "autenticamente nacionalista e moderno". Para o futuro, a palavra de ordem tucana é: "Mais governo e mais mercado. Mais governo para quem precisa do governo e mais mercado para o conjunto das ações empresariais".