Título: Câmbio e quebra na Bahia contêm ganho de renda para cacau
Autor: Bouças , Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 21/11/2007, Agronegócios, p. B12

A alta de 14% nos preços internacionais do cacau e o aumento da demanda no mercado doméstico até que devem garantir aos produtores brasileiros da amêndoa uma melhora na renda em 2007. Mas problemas com o câmbio e com a produção, principalmente na Bahia, não permitiram ganhos proporcionais à valorização externa e esfriaram as comemorações.

Conforme estudo elaborado pela Associação Comercial da Bahia (ACB) e pela TH Consultoria, a receita nas lavouras de cacau no país deverá totalizar R$ 419,2 milhões neste ano, 4,3% mais que em 2006. O cálculo leva em conta o aumento de 17% no preço médio pago pela saca de 60 quilos no período de janeiro a outubro, de R$ 231, ante média de R$ 197 em igual intervalo de 2006.

O Ministério da Agricultura tem outra metodologia de cálculo e estima a receita agrícola do setor cacaueiro em R$ 827 milhões em 2007, 21% mais que em 2006 . A previsão é feita a partir dos levantamentos de safra do IBGE, que projeta para este ano um volume que, de acordo com os produtores, não será alcançado em virtude de problemas climáticos e fitossanitários.

De acordo com ACB e TH, a produção no país recuou 9% neste ano, para 132 mil toneladas. A perda concentrou-se na Bahia, que devido ao clima adverso e ao avanço de doenças como vassoura-de-bruxa e podridão parda teve colheita 17% menor (78.673 toneladas). A Bahia responde por 60% da oferta nacional, e os produtores do Estado, segundo a associação e a consultoria, deverão amargar renda 3,4% menor este ano (R$ 306,8 milhões). A produção nos demais Estados (Amazonas, Pará, Rondônia, Espírito Santo e Mato Grosso), em contrapartida, aumentou 11,2%, para 30.508 toneladas, e a receita tende a engordar 33,7% e atingir R$ 112,4 milhões.

Para incomodar ainda mais os produtores da Bahia, este desequilíbrio na oferta aconteceu em um ano de consumo aquecido, o que normalmente resulta em melhores preços. Conforme estimativa da Associação da Indústria Processadora de Cacau (AIPC), a demanda das empresas processadoras aumentou de 220 mil toneladas, em 2006, para 225 mil neste ano.

"Os produtores não estavam preparados para atender à demanda das indústrias, que realmente cresceu neste ano", afirma Saskia Korink, presidente da AIPC e também diretora da divisão de cacau da americana Cargill.

Sem citar números, ela diz que as indústrias tiveram que importar mais para suprir suas necessidades, o que elevou custos. A entidade não tem projeção para 2008. A TH Consultoria prevê aumento de até 3 mil toneladas (ou 2%) na produção de cacau em 2008, para 135 mil toneladas, graças aos pés clonados (resistentes a doenças) que entrarão em fase de produção.

A amêndoa do cacau processada gera três ingredientes básicos utilizados pelas indústrias: a massa ou líquor, a manteiga e o pó. A massa e a manteiga são utilizadas pelas indústrias de chocolates, enquanto o pó é vendido para empresas de panificação, doces, cosméticos, entre outras. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab), a produção de alimentos à base de cacau no país aumentou 22,5% neste ano, para 304 mil toneladas. Em receita, o crescimento foi de 33%, para R$ 3,6 bilhões.

Fontes do mercado estimam que 98% da produção de cacau no país seja destinada às indústrias de alimentos e o restante, para o setor de cosméticos. Dieter Schriefer, diretor-geral da suíça Barry Callebaut no Brasil, afirma que a maior demanda por indústrias de alimentos fez a empresa incrementar o processamento de cacau em 15%, para mais de 20 mil toneladas. "Também houve aumento de demanda pelas indústrias de cosméticos, mas os volumes ainda são muito pequenos", afirma ele.

Atenta à demanda crescente por chocolates no país, a americana Cargill decidiu avançar um passo na cadeia produtiva e investe na instalação de uma fábrica de chocolates. Agora, além de produzir líquor, manteiga e pó de cacau, a empresa vai produzir chocolates, que serão vendidos às indústrias de alimentos. Procurada, a empresa não forneceu mais detalhes sobre o investimento, que será anunciado nos próximos dias.