Título: INB define em dezembro sócio para explorar urânio
Autor: Durão , Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 22/11/2007, Empresas, p. B7

A INB (Indústrias Nucleares do Brasil) deve anunciar até dia 10 de dezembro o nome da empresa privada escolhida para ser sua sócia na exploração da mina de urânio associada ao fosfato localizada na reserva de Santa Quitéria, no Ceará. Dos sete grupos mineradores do país convidados em setembro para participar da disputa, três entregaram propostas : Companhia Vale do Rio Doce, Bunge Fertilizantes e Mineração Galvani. As propostas estão sendo examinadas e a partir do dia 3, a INB negociará com cada uma das interessadas para então escolher a vencedora.

Apesar do modelo de negócio ser inédito, pois será a primeira parceria da INB com um grupo privado, ele não quebra o monopólio estatal da produção de urânio, garantido pela Constituição. Mas, tem a vantagem de aproximar a estatal do setor privado, garantindo com a associação o aumento da produção de urânio para abastecer a futura usina nuclear de Angra III, prevista para começar em 2013. Do lado das mineradoras privadas interessadas no empreendimento, a sociedade pode representar um primeiro passo para romper, no futuro, com o monopólio da exploração estatal do urânio, como ocorreu com o petróleo.

A briga promete ser boa, dado o perfil das concorrentes. A Vale, por exemplo, já expressou publicamente seu desejo de explorar urânio no país. A companhia investe na exploração do minério na Austrália, com uma sócia privada. O fosfato também interessa à mineradora, dentro do seu processo de diversificação da sua carteira de não ferrosos e ela não tem mina de fosfato no Brasil. Este ano, a companhia planeja investir US$ 479 milhões no desenvolvimento do depósito de fosfato de Bayovar, no Peru, uma mina a céu aberto com capacidade de produção de 3,9 milhões de toneladas/ano.

A Bunge Fertilizantes, multinacional líder na América do Sul no seu setor, atua no Brasil em todas as etapas da produção deste mercado. De suas jazidas em Cajati (SP) e Araxá (MG), ela extrai por ano 1,4 milhão de toneladas de rocha fosfática. Com mais de 30 instalações espalhadas por todo o país, a Bunge Fertilizantes atua com as marcas IAP, Manah, Ouro Verde e Serrana no mercado nacional.

A Mineração Galvani, 100% nacional, é verticalizada na produção de fertilizante fosfatado. A empresa, que iniciou suas atividades nos anos 30 produzindo cerveja, tem unidades de produção de fertilizantes em São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Mato Grosso.

As três têm condições de explorar a maior jazida de urânio do país associada ao fosfato, mas "ganha quem apresentar melhor proposta", como disse recentemente o presidente do INB, Alfredo Tranjan Filho.

Santa Quitéria possui reservas geológicas de 142,5 toneladas de urânio e de 8,3 milhões de toneladas de óxido de fósforo e mais 300 milhões de metros cúbicos de mármore, totalmente isento de urânio. Apesar de toda esta riqueza mineral, a jazida cearense só se torna economicamente viável com a exploração do fosfato associado ao urânio. Neste caso, a futura sócia da INB terá que investir US$ 170 milhões para capacitar a mina para produzir no mínimo 120 mil toneladas/ano de fosfato, conforme estudo de viabilidade da INB. A estatal planeja investir mais US$ 20 milhões para, a partir do rejeito da unidade de fosfato, produzir 800 toneladas anuais de urânio. Esse volume é o dobro da produção brasileira atual, extraído da mina de Caetité, na Bahia.