Título: Planos de Kassab no PMDB
Autor: IUNES, IVAN
Fonte: Correio Braziliense, 23/01/2011, Política, p. 6

Antes de deixar o DEM, prefeito de São Paulo pretende sedimentar o terreno para levar parte da bancada com ele, de olho na próxima disputa estadual. Possivelmente, contra o atual governador, Geraldo Alckmin, do PSDB

O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, só não anunciou oficialmente a mudança do DEM para o PMDB porque ainda pretende influenciar a sucessão da atual legenda, com eleições internas marcadas para 15 de março. Aos aliados, o prefeito esboçou um plano para encorpar o PMDB paulista, com a adesão de deputados federais e prefeitos eleitos pelo Democratas no estado. A manobra planejada por Kassab tem como intuito pavimentar o caminho do prefeito para o Palácio dos Bandeirantes, daqui três anos, já no PMDB, mas com o apoio do DEM. A eleição pode repetir a disputa pela prefeitura de 2008, quando venceu o atual governador, Geraldo Alckmin (PSDB).

A estratégia traçada por Kassab é preparar até março o terreno para sua saída do DEM, deixando aliados no comando do partido. Dessa forma, seria possível uma aliança entre a legenda e o PMDB nas eleições estaduais de 2014. ¿O anúncio oficial (da saída de Kassab) ainda não foi feito, até porque existem as eleições internas do DEM. Muita água vai rolar e a conjuntura do Democratas depois da convenção vai dizer como o processo se dará¿, explica o deputado federal Guilherme Campos (DEM-SP).

A filiação de Kassab ao PMDB é tida como essencial para que ele reconstrua o partido em São Paulo, desorganizado desde a morte de Orestes Quércia, no fim de 2010. Nas últimas eleições, a legenda elegeu apenas um deputado, Edinho Araújo. O DEM emplacou seis. No planejamento, no entanto, ainda não estão claras as filiações dos parlamentares paulistas fiéis ao prefeito.

O grupo trabalha com duas hipóteses. Se a janela para troca de partidos for aprovada pelo Congresso, eles migrariam em peso do DEM para o PMDB. Caso o dispositivo não entre em vigor no início da Legislatura, a movimentação dependeria de acordo com a legenda, já que ela poderia pedir os mandatos na Justiça. ¿Kassab é um líder do DEM em São Paulo, tem bancada fiel e vários prefeitos com simpatia por ele. Mas acompanhá-lo esbarra na fidelidade partidária. Ninguém quer abrir mão dos mandatos¿, diz Jorge Tadeu Mudalen (DEM-SP).

Parecer Em princípio, os mandatos poderiam ser pedidos pelo DEM ou pelo Ministério Público. Para se resguardar, Kassab pediu um parecer jurídico, alegando que a fidelidade partidária só valeria para cargos proporcionais, como vereadores e deputados estaduais e federais. Caso a interpretação seja compartilhada pela Justiça, Kassab não poderia ter o mandato questionado.

Para não perder o apoio futuro do DEM, o prefeito se aliou ao grupo do ex-senador Jorge Bornhausen e tenta demover Rodrigo Maia (DEM-RJ) da Presidência do partido. A eleição em março já tem pelo menos um pré-candidato, o senador Agripino Maia (DEM-RN). Bornhausen e Kassab pretendem, no entanto, convencer o ex-vice-presidente da República Marco Maciel (DEM-PE) a tentar o posto.

Análise da notícia Nada de ideologia

Que ninguém espere da mudança de partido do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, uma migração ideológica. Ao sair do DEM para o PMDB, duas das legendas mais fisiológicas do país, Kassab busca apenas ampliar o poder de atuação no estado. Enquanto José Serra (PSDB) ocupava o Palácio dos Bandeirantes, o prefeito tinha lá um aliado, pronto a socorrê-lo em eventuais apuros com o governo federal ¿ tocado por adversários políticos.

Com a sucessão de Serra por Geraldo Alckmin (PSDB), Kassab viu instalado nos Bandeirantes alguém com forte potencial de votos no interior do estado e com a possibilidade de permanecer na cadeira por até oito anos. Pior, um adversário político com quem andava às turras desde a eleição para a prefeitura paulistana de 2008.

Isolado, Kassab passou a flertar com o PMDB. A oportunidade era única. O partido tem o segundo maior fundo partidário e o segundo maior tempo de televisão em eleições ¿ só perde para o PT. Ainda, não tinha líder no maior colégio eleitoral do país. A partir daí, o horizonte oferecido pela aliança PSDB-DEM em São Paulo ficou restrito demais para a ambição de Kassab. (II)