Título: Suplicy sugere prévia conjunta entre aliados
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 26/10/2007, Política, p. A9

Pré-candidato à Presidência em 2002, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) já ensaia o discurso para se reapresentar como postulante à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Estou disposto a ajudar o Brasil e a todo candidato que queira instituir a renda básica de cidadania, e, se não abraçarem esta idéia, me sentirei na responsabilidade de defender esta bandeira até com uma pré-candidatura", afirmou o parlamentar, que lança na segunda-feira em São Paulo uma coletânea de artigos, em um debate com o presidenciável do PSB, o deputado Ciro Gomes (CE). Ciro é o relator na Câmara de uma proposta de Suplicy que cria o Fundo Brasil de Cidadania.

Suplicy sugeriu no passado uma prévia entre presidenciáveis de esquerda para a escolha do candidato em 2002. O senador agora retoma a idéia, em que os militantes dos partidos da base de apoio de Lula votariam em quem deve ser o candidato governista. "Acho que será saudável para o PT dialogar com os partidos com esta possibilidade aberta. Esta é uma forma democrática de escolha", disse. Entre os aliados, Suplicy citou o próprio Ciro e o ministro da Defesa, o pemedebista Nelson Jobim, como possíveis candidatos .

Entre os petistas, abriu o leque e relacionou onze nomes. Além de admitir a sua presença na lista, citou três dos quatro governadores do partido (Jaques Wagner, da Bahia, Wellington Dias, do Piauí, e Marcelo Déda, de Sergipe), cinco ministros (Dilma Rousseff, da Casa Civil; Marta Suplicy, do Turismo; Patrus Ananias, do Desenvolvimento Social; Tarso Genro, da Justiça, e Marina Silva, do Meio Ambiente), o senador Aloizio Mercadante e o ex-governador do Acre Jorge Viana.

O senador afirma que tem recebido manifestações de aliados pedindo a sua candidatura a presidente. "Está tudo em aberto, se surgir força significativa me apoiando", diz. O parlamentar procura se posicionar ainda como possível postulante à Prefeitura de São Paulo para o próximo ano. "Na semana passada, recebi dez pessoas, de dentro do PT e fora dele, pedindo que analisasse esta possibilidade".

Tanto em 2008 quanto em 2010, Suplicy se beneficia da ausência de um candidato natural entre os petistas. Na eleição municipal do próximo ano, sua ex-mulher Marta Suplicy entraria na disputa em condições competitivas, mas hesita concorrer novamente à prefeitura. Sinalizou várias vezes preferir disputar o governo estadual em 2010, calculando que o atual governador, José Serra (PSDB), tende a ser o candidato tucano à Presidência. Na hipótese provável de Marta não se apresentar, o presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (SP), torna-se o postulante com mais chances de obter a candidatura. Mas jamais disputou cargos majoritários, ao contrário de Suplicy, senador desde 1990 e candidato a prefeito em 1985 e 1992 e a governador em 1986.

Para a Presidência, nenhum dos nomes citados pelo senador, com exceção de Marta, aparece com índices significativos em pesquisas, o que abre caminho para a possibilidade do PT aceitar, pela primeira vez, abrir mão da cabeça de chapa em uma eleição presidencial, apoiando um nome do PMDB ou Ciro Gomes. Para Suplicy, contudo, esta hipótese transita com dificuldade dentro do partido. "Considero que há uma disposição no PT de ter candidato próprio, levando em conta a gestão de oito anos de Lula a se completar em 2010", comenta. Na cúpula do PT, a pré-candidatura de Suplicy em 2010 é vista como provável, mas o senador permanecerá na condição de franco-atirador. O fato de o parlamentar ter agido de forma independente na crise que se abateu sobre o partido em 2005 o isolou no petismo.

O cálculo é que Suplicy, hoje, tem menos apoio do que há cinco anos, quando disputou contra Lula e obteve 15% dos votos, entre 172 mil filiados que compareceram na prévia partidária. Um sinal disso, segundo dirigentes, foi a votação abaixo do esperado que Suplicy recebeu em 2006, ao ganhar seu terceiro mandato como senador. Não se considera sequer que o senador influa com a sua pré-candidatura na decisão do partido de ter ou não candidato próprio à Presidência em 2010.

Em pesquisas realizadas entre 2001 e o início de 2002, Suplicy oscilava entre 4% e 7% nas pesquisas, enquanto Lula conseguia índices em torno de 30%. O senador irritou os caciques do partido ao tomar atitudes como assinar o requerimento para a criação da CPI dos Correios, em maio de 2005, em um momento onde o PT ainda tentava impedir a investigação parlamentar, que à época atingia apenas o presidente nacional do PTB, o então deputado federal Roberto Jefferson. A CPI tornou-se inevitável quando Jefferson, deu uma entrevista para o jornal "Folha de S.Paulo" em que mencionou a existência do mensalão.

Em razão do episódio, Suplicy foi excluído da composição da chapa do Campo Majoritário na eleição direta que o partido realizou na ocasião para renovar suas direções. A aceleração da crise fez com que fossem descartadas sanções mais severas contra Suplicy dentro do PT. No ano seguinte, as articulações para que a candidatura do senador à reeleição fosse sacrificada em nome de uma aliança com o PMDB não foram adiante. Na arena interna, Suplicy não teve adversários.

Embora tenha sido reeleito com 47% dos votos, o resultado eleitoral de Suplicy em 2006 ficou aquém do esperado. O senador enfrentou uma eleição inesperadamente dura contra o candidato do então PFL, Guilherme Afif Domingos. O resultado, internamente, suscitou dúvidas sobre o empenho da máquina partidária na eleição de Suplicy.