Título: Lula inicia em Burkina Faso viagem a países africanos
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 15/10/2007, Brasil, p. A2

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca hoje, às 8h no horário local (6h de Brasília) em Ouagadougou, capital de Burkina Faso, um dos países mais pobres do mundo, para uma visita de quatro dias a quatro países africanos com objetivos comerciais e estratégicos. Por coincidência, segundo o Itamaraty, Lula chega a Burkina Faso no dia do 20º aniversário do golpe militar que colocou no poder o capitão Blaise Campaoré, derrubando Thomas Sankara, que assumira o poder também pela via do golpe militar, em 1983. A partir de 1991, Campaoré foi reconduzido à presidência três vezes pela via eleitoral.

No modestíssimo aeroporto da capital burquinense, a delegação de jornalistas e de cerca de 20 empresários que chegou ao destino um dia antes de Lula, foi recepcionada por belíssimas moças, uniformizadas com vestidos que estampavam a foto de Campaoré e dizeres de propaganda do governo. Hoje, Lula participa de vários eventos com o presidente de Burkina Faso, incluindo almoço solene e a abertura de uma semana do cinema brasileiro, cujos cartazes dividem o espaço nos muros da cidade com a propaganda dos 20 anos do "renascimento da democracia".

Lula ficará pouco mais de oito horas em Ouagadougou e praticamente não terá tempo para ver uma das cidades mais pobres do mundo, capital de um país cujo Produto Interno Bruto (PIB) não chegava a US$ 6 bilhões em 2006 (US$ 5,9 bilhões), para uma população de mais de 14,3 milhões de habitantes. A taxa de mortalidade infantil é de 90 por mil crianças nascidas vivas.

Na verdade, Ouagadougou é uma espécie de gigantesca favela coberta por um constante pó vermelho, pontuada aqui e ali por edificações suntuosos, como o palácio presidencial. Apenas algumas vias principais são asfaltadas, mas suas margens não possuem calçamento e, por isso, o sufocante pó vermelho também se faz presente, cobrindo as centenas de barracas de ambulantes que expõem de carnes frescas a frutas e toda uma parafernália de produtos. Ontem, domingo, toda essa paisagem desolada contrastava com levas e levas de uma população simpática e colorida que se desloca a pé, de bicicletas, motos, carros velhos e até uns poucos luxuosos para fazer contraste.

Os empresários brasileiros participam de uma rodada de negócios que será aberta por Lula e Campaoré, mas as expectativas são mínimas. A maioria aguarda algum resultado somente para as três etapas seguintes, na República do Congo, África do Sul e Angola, especialmente nas duas últimas. Coerente com a pregação que Lula tem feito pelo mundo, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) faz uma apresentação do programa brasileiro de bioenergia, procurando atrair Burkina Faso, um país essencialmente agrário, para a produção de biocombustível.

Segundo Nelson Narciso, o dirigente da entidade que dará a palestra, o Brasil quer o leque de produtores de etanol e biodiesel fora dos Estados Unidos para garantir a estabilidade dos preços dos produtos e também para vender a tecnologia brasileira, considerada a mais barata do mundo.

O climax da viagem de Lula será depois de amanhã, na África do Sul, onde acontecerá reunião de cúpula do grupo chamado Ibas (Índia, Brasil e África do Sul) para discutir o papel dos três países nas tentativas de salvar a etapa de negociações no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) iniciada em 2001 em Doha.