Título: País já exporta mais manufaturados para UE do que para EUA
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 15/10/2007, Brasil, p. A3

As exportações de produtos manufaturados para a União Européia ultrapassaram as vendas para os Estados Unidos, tradicional cliente do país nessa categoria. Com a desaceleração da economia americana e a valorização do real, os exportadores brasileiros buscam alternativas e aumentam os embarques para clientes europeus, latino-americanos, árabes e africanos.

De janeiro a setembro deste ano, em comparação com igual período de 2006, as vendas de produtos industrializados para os europeus atingiram US$ 11,984 bilhões, pouco acima dos US$ 11,859 bilhões embarcados para os americanos, conforme a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). As vendas recuaram 6% para os EUA e subiram 29% para a UE no período.

É a primeira vez que o Brasil vende mais manufaturados para a União Européia do que para os Estados Unidos nos últimos 20 anos. Desde 1987 - período mais antigo disponível na base de dados da Secex - isso não ocorria. Em 2006, o país embarcou US$ 16,6 bilhões de produtos industrializados para os americanos, acima dos US$ 12,9 bilhões vendidos aos europeus. Em comparação com 2005, as vendas para os EUA cresceram 3,8%, enquanto as exportações para a Europa avançaram 19%.

Em setembro, o Brasil embarcou para a Holanda uma plataforma de petróleo, o que significou acréscimo de US$ 657 milhões às exportações. Excluída essa movimentação atípica, as vendas de manufaturados para a UE atingiriam US$ 11,3 bilhões, com alta de 22,8%. Ainda assim, o valor está muito próximo das vendas para os EUA e o ritmo de crescimento é expressivo.

De acordo com Fernando Ribeiro, economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), os exportadores de manufaturados estão redirecionando produtos dos Estados Unidos para a União Européia. Dois motivos contribuem para essa tendência: a valorização do câmbio e o crescimento da economia dessas regiões. "O aumento das exportações para a UE é uma combinação de efeito cambial com mercado importador aquecido", diz Ribeiro.

Desde o fim de 2005 até quinta-feira passada, o real se valorizou 30% ante o dólar, mas apenas 9% em relação ao euro, o que significa que os produtos brasileiros perderam mais competitividade nos EUA do que na UE. A União Européia também está com mais apetite para compras do que os Estados Unidos. De janeiro a julho, em comparação com igual período de 2006 os americanos aumentaram suas importações totais em 4,4%, enquanto os europeus compraram 11,4% a mais do mundo, revela levantamento da Funcex com base nos dados divulgados pelas regiões.

"Estamos diante de uma desaceleração dos Estados Unidos, mas outras regiões do mundo não enfrentam o mesmo processo", diz Luiz Rabi, economista da MCM Consultores. Na sua avaliação, a expansão do mercado importador é capaz de dinamizar mais as exportações do que a variação do câmbio. Estimativas da consultoria, com base em dados internacionais, apontam que os países da zona do euro devem crescer 2,6% em 2007, depois de um período de estagnação. As economias da Alemanha e da Espanha, por exemplo, podem avançar 2,6% e 3,6%. Já os EUA devem crescer 1,9% este ano.

Nas vendas de manufaturados para a Europa, destaque para os setores automotivo, móveis e têxtil, entre outros. De janeiro a setembro em relação a igual período de 2006, o Brasil elevou a exportação de automóveis com motor a diesel para a Alemanha de insignificantes US$ 9 mil para US$ 52,3 milhões, segundo a Secex. As vendas de amortecedores de suspensão para o mercado alemão cresceram 71% no período. Para a Espanha, o Brasil aumentou em 32% as vendas de móveis para quarto de dormir, de janeiro a setembro. Na mesma comparação, Portugal comprou 28% mais biquinis e maiôs brasileiros.

José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB), ressalta, no entanto, que a pauta de exportação para a Europa é muito influenciada por produtos classificados como manufaturados, mas que são comercializados como commodities. É o caso de aço, suco de laranja e álcool, cujas vendas para a UE também cresceram significativamente.